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Boicote ao Enade leva a suspensão do vestibular de Comunicação da UFPR

Pró-reitora diz que terá de convencer o MEC de que o curso tem estrutura e persuadir os estudantes a participarem das próximas edições do exame

12 dez 2013 - 13h24
(atualizado às 13h30)
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O boicote dos alunos de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná (UFPR) ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) levou os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da instituição a repetirem o conceito insatisfatório no Conceito Preliminar de Curso (CPC) e fez com que o Ministério da Educação (MEC) suspendesse o vestibular para os dois cursos já neste ano. Ao todo, 270 cursos tiveram o vestibular suspenso no Brasil.

Os cursos suspensos ainda têm prazo de um mês para mostrar comprometimento em implantar melhorias, que vão desde a reestruturação docente à reorganização pedagógica. A pró-reitora de graduação da UFPR, Maria Amélia Sabbag Zainko, disse que, além de convencer o MEC de que o curso tem estrutura e nível adequados e que só está nesta situação por conta do boicote, a universidade terá de convencer os estudantes a participarem das próximas edições do exame.

<a data-cke-saved-href="http://noticias.terra.com.br/educacao/infograficos/cursos-insatisfatorios-2013/" data-cke-958-href="http://noticias.terra.com.br/educacao/infograficos/cursos-insatisfatorios-2013/">CPC- cursos com desempenho insatisfatório</a>

“É uma postura política dos alunos, que não realizaram o exame. Eles sustentam que o exame é superficial e não serve para medir o nível dos cursos. A gente até concorda que precisam melhorias no método de avaliação, mas temos que fazer um trabalho de esclarecimento para os estudantes sobre os significado do boicote ao Enade. São alunos que tem um curso de nível de aprendizagem elevado e que poderiam ter um bom desempenho”, disse.

A pró-reitora mostrou-se confiante após a apresentação do plano de ação da UFPR para o curso, e acredita que o vestibular será autorizado. “Temos uma condição estrutural boa. Não é isso que nos pega. Vamos demonstrar que a nota não foi boa por conta da não participação dos alunos”, disse. Ela assegurou que os vestibulandos que vierem a ser aprovados neste ano (o resultado sai em janeiro) não serão prejudicados. “O MEC está extrapolando. Os aprovados vão entrar. Eles têm direito a isso. Vamos defendê-los judicialmente se for o caso”.

Muito além da prova

A presidente do Centro Acadêmico de Comunicação Social da UFPR, Catia Faria, 22 anos, diz que o boicote ao Enade é, sim, um protesto contra a forma de avaliação adotada pelo MEC, mas que vai muito além: é uma tentativa dos alunos de chamar a atenção para as carências do curso. “O boicote ao Enade e a consequente suspensão do vestibular foi a última alternativa que encontramos para que olhem para nosso curso. Sofremos há anos com a falta de estrutura e de professores e um bom desempenho no Enade mascararia tudo isso”, explicou, destacando que o boicote foi decidido em concorrida assembleia dos alunos no ano passado.

“A situação do curso está insustentável. Mudou de setor, mudamos para um prédio novo sem estrutura. O ônibus intercampi da UFPR sequer passava aqui. Faltam professores, faltam equipamentos, a estrutura é precária”, reclamou a presidente do Centro Acadêmico. “Um dos maiores problemas é o de professores que desaparecem, dão as primeiras aulas e depois somem. Não são substituídos e ficamos sem as disciplinas, que, muitas vezes, são pré-requisitos para a continuidade do curso no semestre seguinte”, acrescentou.

“Até bem pouco tempo, não tínhamos uma biblioteca no campus. Hoje temos, com um monte de monografias e não mais que 50 livros, todos doados por alunos e ex-alunos. As aulas de fotografia ainda são com câmeras analógicas”, continuou. Há dois anos, os alunos de Comunicação Social da UFPR realizaram uma greve para contestar os problemas de estrutura e falta de professores do curso. “Mas nada mudou. Quem sabe agora, para evitar que o vestibular seja suspenso, a reitoria não encaminhe soluções para todos esses problemas”, disse.

Críticas frequentes

O boicote às avaliações do MEC pelo curso de Comunicação Social da UFPR é antigo. Desde 1999, ainda na época do Provão, os alunos não prestavam a prova ou deixavam a avaliação em branco como forma de protesto pela falta de estrutura do curso. Mas, à época, a estratégia era alternar entre as edições, boicotando uma e prestando a prova na outra, para evitar sanções ao curso, como a suspensão proposta pelo MEC neste ano. Mas, sem retorno nas reivindicações, os alunos decidiram passar a boicotar todas as avaliações.

“Eu fiz a primeira prova do Enade, em 2006, mas boicotei, junto com meus colegas, a de 2009. Foi uma decisão do Centro Acadêmico, tomada em assembleia - que contou com muita, mas muita gente - e foi legítima”, disse a jornalista Vanessa Fogaça Prateano. Para ela, um dos maiores problemas do curso é a grade curricular. “No papel, parece uma maravilha, pois prevê praticamente metade da carga horária, 800 horas, em disciplinas optativas, o que permitiria ao aluno direcionar sua formação para a área de maior interesse, seja economia, política, esportes, entre outras. Mas o que acontecia é que não conseguíamos vagas em nenhuma disciplina que nos interessava e, para cumprir a carga de optativas, éramos obrigados a cursar qualquer matéria, como, por exemplo, Coral”, contou, dizendo, ainda, que, no campus, faltavam estúdios e equipamentos, professores e servidores. “Além disso, nunca conseguimos imprimir o jornal laboratório na periodicidade correta por falta de verba. Nem cantina a gente tinha”.

Para Vanessa, o saldo do boicote foi positivo. “Virou notícia, fez a reitoria buscar uma reunião com o MEC. Quem sabe saia um plano de investimento. Claro que eu lamento a suspensão caso ela se mantenha, pois os futuros alunos não têm culpa. Por outro lado, pode ser que eles encontrem um curso mais bem estruturado”, disse, para depois contestar a decisão do MEC de suspender o vestibular. “É uma universidade federal, gerida pelo próprio MEC. Como o ministério pode punir um curso no qual ele mesmo não investe?”.

Calouros preocupados

A suspensão do vestibular pegou de surpresa os estudantes que aguardam o resultado da segunda fase do processo de seleção para os calouros de 2014 da UFPR, que deve ser divulgado em janeiro. Aspirante a uma das 30 vagas no curso de jornalismo, Daniel Nekatschalow Bonfim, 24 anos, disse ter se assustado com a notícia. “Eu fiquei chocado a princípio. Mas pelo parecer da UFPR parece-me que o vestibular não será suspenso, será só um susto", disse.

Além do susto com a possível suspensão do vestibular, o estudante ficou preocupado com a qualidade do curso. “A minha primeira reação foi: ‘Ok, me matei de estudar esse ano para fazer vestibular e seguir a carreira que eu tenho sonhado nos últimos dois anos e agora descubro que o curso que eu vou fazer é péssimo e que não tem nota no Enade’. Ai depois eu li que rolou um boicote dos próprios estudantes, que vários não foram fazer a prova e isso me deixou mais tranquilo, porque pelo menos essas notas no Enade não refletem com realidade a qualidade do curso."

Apesar da preocupação quanto à suspensão do vestibular - ou até uma possível redução no número de vagas -, Daniel disse concordar com o boicote dos estudantes de Comunicação da UFPR. “Olha, eu sinceramente entendo. Houve uma tentativa de denunciar os problemas dentro do curso. Eu acredito que, às vezes, quando queremos mudar alguma coisa, precisamos chacoalhar as estruturas e radicalizar um pouco. Com esse boicote, eles conseguiram suspender o vestibular e colocar os responsáveis pela qualidade do curso em xeque. O que levaria muito tempo para ser resolvido, agora precisa ser feito em um mês”, disse.

“O chato é precisar de todo esse rebuliço para se alcançar o óbvio, o essencial. Mas, no geral, eu penso que, caso eu seja aprovado, eu vou entrar em um curso em que os próprios alunos prezam pela qualidade da educação. Este é o lugar em que eu quero estar na sociedade, então tudo isso só me deixou com mais vontade de estudar na UFPR”, concluiu.

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Fonte: Especial para Terra
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