PUBLICIDADE

Comportados e obedientes: vida de cão na Alemanha

24 nov 2015 - 16h26
Compartilhar
Exibir comentários

O melhor amigo do homem costuma acompanhá-lo por toda parte – de parques a restaurantes –, mas tem uma vida bem regrada no país. Adestramento, impostos e seguros para cachorros fazem parte da rotina dos donos.

Eles estão em toda parte. Não apenas nas ruas e parques, mas em lojas, livrarias e restaurantes. Na Alemanha, o melhor amigo do homem não se restringe ao ambiente caseiro, e sua presença é permitida em diversos estabelecimentos.

Em restaurantes, os cachorros deitam respeitosamente aos pés dos donos e aguardam o fim da refeição. Nos parques e ruas, muitos correm sem coleira. A vida de cão é regrada no país, e existem inclusive leis bem específicas para eles.

Para começar, há o adestramento. Mesmo que não seja obrigatório colocar os animais numa escola para cachorros, cerca de 25% dos cães frequentam esses estabelecimentos, de acordo com uma pesquisa da Universidade de Göttingen. Existem aproximadamente 2.300 deles no país.

Os que ficam de fora das escolas também costumam ser muito bem treinados – em casa mesmo, pelos próprios donos. Mais do que sentar e dar a pata, eles aprendem a respeitar a autoridade do dono, agir de maneira discreta em público, não desviar o caminho quando uma pessoa, bicicleta ou outro animal passam perto.

Ter cães bem treinados é algo natural no país. Para além da cultura em torno do adestramento, trata-se de uma questão de lei. Em muitos estados alemães, o dono precisa comprovar que o cão é obediente e que pode ser controlado.

Lei canina

Na Renânia do Norte-Vestfália, por exemplo, os cachorros são divididos em três categorias. Os pequenos, com menos de 40 centímetros ou menos de 20 quilos, não precisam de treinamento específico. Aqueles que ultrapassam essas medidas são considerados grandes, e é necessário comprovar que são adestrados.

"Isso pode acontecer por meio de testes com veterinários ou com o próprio treinador", explica o representante do Clube Canino Alemão (VDH), Udo Kopernik. Há ainda os cães de raças consideradas agressivas, para os quais os treinos são ainda mais rigorosos.

Já na Baixa Saxônia, as regras são ainda mais rígidas. "Todos os donos e cães devem fazer um teste quando o animal tem um ano", diz Kopernik. Em alguns estados, também pode ser exigido um seguro, que cobre todos os custos caso o animal cause danos materiais ou ataque alguém.

A regra geral é que os cães tenham chips de identificação e que seja pago um imposto sobre eles. Esse é um dos poucos tributos municipais do país, e todas as cidades o mantêm.

Em 2013, cerca de 300 milhões de euros foram arrecadados com o imposto canino. O custo fica entre 60 e 120 euros anuais para o primeiro cachorro, subindo para até 270 euros a partir do segundo. Já para raças perigosas, o valor pode chegar a até mil euros. Cães que acompanham cegos ou que são usados em operações de busca e resgate costumam ter descontos ou isenção.

Companheiro lucrativo

Além dos impostos, os cães também movimentam um mercado lucrativo. O setor de animais de estimação movimenta cerca de 9,1 bilhões de euros por ano no país, 0,3% do BIP alemão, segundo a pesquisa da Universidade de Göttingen. E os cães representam a maior parcela desse mercado, com 50% do valor dos negócios: são 4,6 bilhões de euros por ano gastos apenas com eles.

Juntos, os animais de estimação geram de 185 mil a 200 mil postos de trabalho, dos quais de 95 a 100 mil são dedicados apenas a cachorros. Em 2013, havia cerca de 6,9 milhões cães na Alemanha, aponta a pesquisa.

Se comparado a outros países europeus, porém, o amor dos alemães por cães não parece tão grande. A Polônia está no topo da lista de amantes caninos, com uma média de 19,2 cães para cada 100 habitantes. Na sequencia vem Portugal, com 17,1. A Alemanha surge apenas na oitava colocação, com uma média de 8,4 cachorros para cada 100 habitantes.

"Apesar de eles serem bem vistos, ainda temos uma proporção pequena de cachorros por pessoa. Acho que poderia ser bom para nossa sociedade se tivéssemos, sim, mais cachorros", diz Kopernik.

Não é para todos

Quando se mudou para a Alemanha há três anos, a brasileira Débora Leite Otte trouxe na bagagem sua shitsu Polly. Mas em uma semana a cadela embarca novamente para o Brasil, onde ficará aos cuidados da mãe de Débora.

Além do rol inesperado de normas com as quais a brasileira se deparou, que vão do imposto ao fato de cachorros terem de pagar passagem nos trens, ela encontrou pouca simpatia por parte de proprietários de imóveis. "Não consigo um apartamento que aceite cachorros", lamenta.

Com uma filha de pouco mais de um ano e a necessidade de mais espaço, Débora terá de se despedir de Polly. "Encontramos o apartamento ideal, mas o dono não aceita cachorros. Por enquanto estamos com a Polly, mas ela não vai poder ficar", conta. Para Débora, a ideia de um país aberto aos cães foi substituída pelo sentimento de que o melhor amigo do homem nem sempre é bem visto na Alemanha.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade