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Usar espécies nativas como fonte de renda preserva reserva

28 jun 2010 - 17h57
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Diante das discussões sobre modificar o Código Florestal Brasileiro, uma pesquisa coordenada pela Universidade de São Paulo (USP) quer estimular a manutenção da reserva legal tornando-a rentável para o produtor. As primeiras experiências estão sendo realizadas no oeste paulista, na região do Pontal do Paranapanema.

Lá o fruto da macaúba, espécie de palmeira nativa da região, produz até dez vezes mais óleo do que a soja por hectare, sendo considerada uma opção viável para a produção de biodiesel. Por esse motivo, a espécie foi escolhida para recuperar áreas degradas de pastagem e prover o sustento das famílias da região.

"O objetivo de nossa pesquisa é construir um sistema de produção agrícola em que a gente tenha uma espécie de carro-chefe para produzir energia junto com biodiversidade e alimento para as comunidades", explica o responsável, professor Paulo Kageyama, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP).

Pelo projeto, a macaúba será cultivada em conjunto com outras espécies, algumas alimentícias, que darão retorno mais imediato aos produtores, já que as palmeiras plantadas agora levarão cerca de cinco anos até darem os primeiros frutos. "É uma agricultura associando árvore com arbusto e espécies agrícolas, principalmente frutíferas tropicais", ressalta Kageyama.

O modelo poderia ser aplicado, segundo o professor, em outras regiões do Brasil com espécies como o dendê. Essa conciliação entre a preservação e a produtividade é o melhor caminho para conservação da biodiversidade e recursos naturais, na avaliação do engenheiro florestal e militante da Via Campesina, Luiz Zarref.

A tese contraria a principal razão alegada para modificar o Código Florestal Brasileiro, de que a necessidade de áreas preservadas dentro das propriedades rurais dificultam a produção agrícola e penalizam o produtor.

Na primeira fase do projeto, que começou a ser implementada agora, as famílias estão sendo capacitadas para trabalhar no novo modelo de produção. O desafio será, segundo Kageyama, desenvolver toda a cadeia produtiva do biocombustível e fabricar o produto em escala comercial. Para isso, o pesquisador espera contar com outros parceiros. "Já temos indústrias interessadas em esmagar essa espécie, mesmo que experimentalmente."

Faltam políticas de incentivo
A falta de políticas públicas voltadas para esse modelo de produção é, de acordo com Zarref , um entrave para se ampliar essa forma de produção. Entre os pontos mais importantes está a necessidade de assistência técnica para que os pequenos produtores desenvolvam planos de manejo e criem linhas de crédito subsidiadas, destaca o engenheiro florestal.

"Se tivessem essas políticas públicas, então você conseguiria transformar de fato, mesmo uma unidade com 80% de reserva legal, em algo viável economicamente. Mais viável até do que o gado ou a soja," acredita.

Esse tipo de agricultura, que associa a mata original da região ao plantio, em contraponto à monocultura, também sofre menos com as pragas, sendo apropriada para a agricultura familiar. "Quando a gente tem muitas espécies juntas, a gente tem uma redução muito drástica de pragas e doenças. Então a agricultura fica mais sustentável porque a gente utiliza menos insumos, fertilizantes minerais e praticamente não se usa agrotóxicos", reforçou Paulo Kageyama.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário afirma que desenvolve algumas ações, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Segundo o órgão, o objetivo é planejar e monitorar a implantação dos financiamentos de agricultores familiares e assentados da reforma agrária.

O próprio projeto da macaúba no Pontal do Paranapanema é financiado por um edital do ministério de fomento aos biocombustíveis. No entanto, Luiz Zarref acredita que esse tipo de iniciativa tem que ser incentivada de maneira mais ampla e sistemática pelo poder público, de modo a realmente sustentar outro modelo de produção.

Com informações da Agência Brasil.

Fonte: EcoDesenvolvimento
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