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Troca de conhecimento em rede social de cientistas ainda é baixa

5 fev 2012 - 13h43
(atualizado às 13h44)
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Criada em 2008 pelo médico alemão Ijad Madisch, a plataforma ResearchGate surgiu como uma maneira de os cientistas trocarem informações, inclusive sobre projetos que não deram certo. Em seus mais de três anos de existência, a rede, uma espécie de Facebook para cientistas, já ultrapassa a marca de um milhão de usuários no mundo inteiro. No Brasil, são mais de 30 mil cadastrados. Contudo, os usuários ainda acham o contato superficial.

O psicólogo clínico graduado pela UFRJ Marcelo Quirino usa a rede há cerca de dois anos
O psicólogo clínico graduado pela UFRJ Marcelo Quirino usa a rede há cerca de dois anos
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

Com recursos como grupos de discussão e a possibilidade de organizar os perfis dos usuários por áreas de interesse, o ResearchGate permite aos membros divulgar a área de atuação e as publicações feitas até então. Mas o que os cientistas e pesquisadores pensam sobre a rede e de que forma utilizam os recursos disponíveis?

O psicólogo clínico graduado pela UFRJ Marcelo Quirino soube da rede por meio de um amigo e é usuário há cerca de dois anos. Para ele, é um instrumento interessante por tornar possível que profissionais com perfis semelhantes entrem em contato facilmente. "O ResearchGate possibilita conhecer outros pesquisadores da sua área, além de dar a oportunidade de aumentar a divulgação do trabalho e o contato com outras pessoas sobre cursos interessantes. Também há um forte conceito de interdisciplinaridade: eu fui adicionado por cientistas de diversas especialidades, o que parece ser uma prática muito comum entre os usuários", afirma.

Contudo, Quirino afirma que os contatos feitos entre os usuários, de uma forma geral, ainda é bastante superficial. "A maioria das pessoas se limita a adicionar outros usuários e aumentar o número de amigos sem um intercâmbio de ideias mais aprofundado. Não há um grande compartilhamento de informações, poucos realmente querem conversar e trocar experiências", destaca.

Usuário mais recente, Ernesto Pereira de Souza, professor do Departamento de Química da UFSCar (uma das universidades brasileiras com mais pesquisadores na rede, ao lado de USP, UFRJ e UFMG), soube da existência da plataforma por meio do boletim da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), há cerca de um mês. O professor se impressionou com a quantidade de pesquisadores que utilizavam o recurso e, depois de se familiarizar com a proposta, convidou alunos e ex-alunos a fazerem parte. "É um lattes a nível mundial com ferramentas de rede social", opina, fazendo referência à plataforma na qual cientistas e pesquisadores divulgam informações profissionais e produções acadêmicas.

Dentro da rede, Souza utiliza ferramentas que facilitam a divulgação de informações acadêmicas e a comunicação com seus estudantes. Ele acredita que o sucesso do site será maior entre os jovens, mais habituados às redes sociais. "Pelo que vejo entre meus alunos de graduação e pós-graduação, eles agem como quem entra no Facebook", afirma.

Quirino procura utilizar a rede para fazer contatos para uma futura especialização na UFRJ e acredita que ela tem uma importância positiva, mas também ressalta que alguns pontos poderiam ser aperfeiçoados. "Acho positivo porque você tem contato com outros profissionais, mas faltam algumas ações. Por exemplo, o oferecimento de diferentes cursos, além de uma maior divulgação da rede. Além disso, o ResearchGate deveria ter apoio das universidades, tanto na divulgação quanto na promoção da rede em seus portais. Isso enriqueceria bastante a plataforma, pois quanto mais pesquisadores qualificados entrassem, melhor seria", ressalta.

Já Souza acredita que a tendência é que o ResearchGate sirva, principalmente, para os membros adquirirem visibilidade entre os outros usuários e para encontrar mais facilmente cientistas e pesquisadores já conhecidos. Para Souza, como os profissionais mais graduados são geralmente pessoas menos habituadas ao uso das redes sociais, e como não há um grande controle nas informações trocadas, esses pesquisadores tendem a não utilizar a plataforma, dificultando uma maior troca de experiências.

"Como não existe moderação ou controle, grande parte das perguntas e respostas trocadas são de baixo nível. Assim, os cientistas perdem o interesse, e os mais velhos também não vão usar porque, geralmente, não estão ambientados às redes sociais", afirma.

Apesar das limitações, o professor acredita na possibilidade de o ResearchGate se tornar o substituto da plataforma lattes, pois todas as informações básicas dos pesquisadores estão disponíveis, da mesma forma que estão presentes no sistema que é hoje considerado indispensável para pesquisadores e cientistas. "Ao longo dos tempos, várias ferramentas e redes sociais cresceram e depois desapareceram. Será que o ResearchGate ainda vai estar disponível em cinco, 10 anos? Eu acho que ele tem alcance, mas só o tempo pode provar se isso realmente vai acontecer", analisa.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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