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Três mil famílias argentinas aguardam para deixar bairro "tóxico" onde vivem

18 mai 2016 - 10h10
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A paisagem parece pós-apocalíptica. Entre casas abandonadas, usinas de processamento de resíduos hospitalares, destilarias e o terceiro rio mais poluído do mundo vivem as quase três mil famílias argentinas de Villa Inflamable, que esperam ser realocadas desde 2008.

O assentamento precário tem uma dupla ameaça ambiental: por um lado, está à beira do rio Matanza-Riachuelo, considerado um dos mais contaminados do planeta. Por outro, o lugar era um bairro residencial que foi colonizado por fábricas e se tornou um distrito industrial, o Polo Petroquímico de Dock Sud, na cidade de Avellaneda, na província de Buenos Aires.

Após o estudo "Jica", realizado por uma agência de cooperação japonesa em 2003, foi descoberto que os moradores de Villa Inflamable estavam expostos a altas quantidades de intoxicação por chumbo.

Três anos depois, a Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável apresentou o Plano Integral de Saneamento da Bacia Matanza-Riachuelo, no qual Dock Sud era considerado prioridade devido à deterioração ambiental da área em questão.

Em julho de 2008, a Suprema Corte de Justiça do país ordenou a realocação total de Villa Inflamable e em 2010 foi determinado que a prefeitura de Avellaneda e a Autoridade de Cuenca Matanza-Riachuelo (Acumar) ficariam encarregadas do processo.

Já se passaram oito anos desde aquela decisão judicial, e só foram transferidas quatro das quase três mil famílias segundo a Associação Civil pela Igualdade e Justiça (Acij), organização que concede assessoria jurídica aos moradores.

Foi aprovada em 2015 a construção de 440 casas em Barrio Alianza, para onde se mudariam de forma permanente as primeiras famílias no período de dois anos, a poucos quilômetros de Villa Tranquilla e também à beira do rio.

O bairro tem vários problemas, de acordo com a Acij: não tem bom acesso ao transporte, não há estudos suficientes sobre a contaminação do ar e da água, e é o epicentro de um conflito de torcedores dos clubes San Telmo e Dock Sud que pode se tornar sangrento.

"Um dos princípios de todos os direitos humanos é o de progressividade e não regressividade. Se queremos garantir o direito à moradia digna de todos os moradores de Inflamable, temos que garantir a essas pessoas um lugar que seja igual ou melhor do que onde vivem", afirmou Guadalupe Falbo, advogada da Acij.

Falbo explicou que são identificados dois processos no bairro: um "enquanto isso" que inclui como vivem os moradores até que sejam realocados, e a mudança em si, que, segundo o que pôde saber, "não está avançando, pelo menos até hoje".

Esse "enquanto isso" é uma realidade complexa que inclui falta de iluminação pública, saneamento, acesso à saúde e à água potável, que a Acumar supre com entrega de garrafas de água que os moradores utilizam para beber, mas a Acij denuncia que não é suficiente para que se banhem ou lavem verduras e frutas.

Espíndola faz parte do grupo de 11 pessoas que distribuem as garrafas aos moradores. Enquanto isso, a água que sobra em Villa Inflamable é a das "lagoas", os esgotos ao ar livre que são locais de cultivo para doenças.

María Pilar Sáenz tem 65 anos e há dez que se mudou para o bairro, ao lado de uma das lagoas. Todos os dias ela percorre três quarteirões em um carro no qual leva suas vasilhas.

"Eu sou uma das pessoas que me querem sair de Inflamable. Quero ter minha casa, poder pagar por ela e ter tudo em ordem, como é devido", declarou.

Sáenz detalha que, quando há tempestades, a água dos esgotos ao ar livre, que também funcionam como um despejo de lixo, pode entrar nas casas.

A moradora também faz parte de um grupo que se sente "desinformado" a respeito da situação. A advogada especificou que quem vive em Villa Inflamable "já não acredita" em políticas públicas que possam melhorar a qualidade de vida no local.

"O Estado abandonou o bairro e isso gerou uma situação na qual os moradores não estão vivendo aqui nem lá", onde deveriam ser realocados, analisou.

EFE   
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