PUBLICIDADE

Maior aterro de lixo da América Latina fecha na véspera da Rio+20

24 mai 2012 - 12h29
(atualizado às 13h27)
Compartilhar

Em uma montanha de lixo, um homem descansa embaixo de um guarda-sol antes de retomar seu trabalho no aterro controlado de Gramacho, o maior depósito de lixo da América Latina situado às margens da Baía de Guanabara e que é o meio de subsistência de 20 mil pessoas, mas que será fechado definitivamente pelo governo antes da Rio+20.

O terreno é instável, e com o peso dos caminhões é possível sentir a terra tremer nesta área que já foi um mangue, onde o lixo, incluindo alguns materiais tóxicos, se acumula desde a criação do lixão, em 1976, em plena ditadura militar, sem jamais ter recebido tratamento adequado.

Em 2004, uma série de rachaduras apareceram neste aterro que chegou a receber 8 mil toneladas de lixo diariamente, um alerta para o iminente desastre socioambiental que obrigou a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro optar por seu fechamento. O fim de suas atividades foi adiado várias vezes e finalmente fixado para 1º de junho, pouco antes da Rio+20, agendada para acontecer entre 13 e 22, a cúpula da ONU sobre desenvolvimento sustentável, onde são esperados 115 chefes de Estado e 50 mil participantes de todo o mundo.

Antes de seu encerramento, cerca de dois mil catadores se uniram para reivindicar seus direitos e cobrar do município uma indenização, que após muitos protestos, promessas e reuniões foi determinada em R$ 14,8 mil reais para cada trabalhador na lista aprovada pelo Conselho de Catadores. O presidente da Associação dos Catadores de Jardim Gramacho, Sebastião dos Santos, 33 anos, explica que os trabalhadores "travaram uma batalha para garantir, além desses direitos, a entrada do catador na cadeia produtiva da reciclagem, que hoje é muito lucrativa, mas não beneficia o trabalhador".

Mas nem todos os catadores estão satisfeitos e muitos se perguntam sobre o futuro de centenas de famílias do bairro Jardim Gramacho, que surgiu no entorno do lixão, quando este dinheiro acabar.

"O que será das famílias?"

"O fechamento do lixão terá um impacto muito grande sobre nós, porque para muitos era a única fonte de renda. Muita gente depende disso aqui, o que será dessas famílias? Receber R$ 14 mil para quem trabalhou a vida inteira não é nada", declarou Ana Carla Nistaldo, 32 anos, que há 16 vive dos resíduos retirados do aterro.

Em sua casa alugada no mesmo bairro, duas televisões, microondas e um DVD, ela mostra com orgulho os anéis, quadros e porta-retratos feitos por ela a partir do material vindo do aterro. "Eu criei meus filhos com o dinheiro do lixo e nunca deixei faltar nada", diz.

Segundo a COMLURB, a separação manual do lixo reciclável de Gramacho movimentou no último ano cerca de R$ 24 milhões. Cada catador trabalha com um material (plástico, metal, papel ou vidro) que é revendido para um dos 42 depósitos do bairro ou para terceiros.

Quase todo o lixo que chegava a Gramacho já foi transferido para outro aterro sanitário em Seropédica. Uma empresa privada, a Nova Gramacho, ficará encarregada da exploração do gás metano de Gramacho, atividade que em 15 anos deve gerar cerca de 232 milhões de dólares em créditos de carbono, de acordo com a Prefeitura do Rio. O Ministério do Meio Ambiente informou que mais de 60% das cidades brasileiras não tratam seu lixo de forma adequada.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade