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Enquanto Rio+20 'patina', Cúpula dos Povos recebe descontentamento

12 jun 2012 - 15h29
(atualizado às 16h02)
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A sociedade civil buscará expressar seu descontentamento durante a Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, um evento paralelo à conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável que receberá 15 mil participantes por dia no Parque do Flamengo, segundo os organizadores.

"Sabemos que a conferência oficial Rio+20 patina. Como esperamos pouco progresso para que os países membros se comprometam a reduzir suas emissões de CO2 e preservar melhor a biodiversidade, a Cúpula dos Povos será o espaço que a sociedade terá para expressar seu descontentamento", disse Bazileu Alves Margarido, do Instituto Democracia e Sustentabilidade.

A Cúpula dos Povos será realizada por iniciativa de 200 organizações ambientalistas e movimentos sociais do mundo inteiro. Movimentos indígenas e de negros, mulheres e jovens também participarão, para lutar contra o mercantilismo e defender os bens comuns. O governo brasileiro é seu maior financiador, com US$ 5 milhões.

Seiscentas atividades, entre debates, assembleias, manifestações e shows, acontecerão neste evento paralelo, cujo lema é "Venha reinventar o mundo!". Duzentas experiências práticas, batizadas de "territórios do futuro" e já implantadas em diversos países, como o uso da energia solar, também serão apresentadas ao público.

"A Cúpula dos Povos será um espaço de denúncia, mas esperamos também articular os movimentos sociais em defesa da soberania dos povos e de seus territórios, contra o avanço do capitalismo verde", explicou Rui Varres, porta-voz do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).

"Minha expectativa em relação à Rio+20 é que possa se transformar na Praça Tahrir da crise ambiental mundial, e que a opinião pública internacional possa dizer aos líderes que não se pode reduzir as expectativas ante uma crise que se agrava a cada dia", disse recentemente à AFP a ex-candidata à presidência Marina Silva, citando a praça do Cairo onde os egípcios se mobilizaram e levaram à queda do governo em 2011.

Economia verde: um termo "enganoso"

Segundo o Comitê Facilitador da Sociedade Civil (CFSC) para a Rio+20, a "economia verde" defendida pela conferência oficial que reunirá mais de 100 chefes de Estado e governo de 20 a 22 de junho é "um termo enganoso, para designar outra etapa do acúmulo capitalista".

"Traremos para a sociedade as soluções que os povos já encontraram e lutam para implantar, e que são as boas armas contra esse capitalismo verde que busca, sobretudo, transformar a natureza em ativos financeiros negociados em bolsa", disse Varres.

Várias manifestações serão realizadas durante esta reunião paralela, a mais importante em 20 de junho, dia de abertura da cúpula oficial da ONU, no centro do Rio. O protesto será antecedido por uma passeata de mulheres em 18 de junho, e por uma marcha contra o novo Código Florestal brasileiro, que ambientalistas consideram uma ameaça à Amazônia, maior floresta tropical do planeta. "Vamos atrair a atenção do mundo para esse retrocesso na luta contra o desmatamento", assinalaram os organizadores.

Na noite de 17 de junho, uma vigília inter-religiosa contra a intolerância acontecerá no Aterro do Flamengo. Segundo os organizadores, a Cúpula dos Povos também será uma oportunidade para se fazer um balanço dos progressos registrados desde a Cúpula da Terra, em 1992, no Rio de Janeiro, quando a sociedade civil foi excluída dos debates.

Rio+20

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável ocorre na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 13 a 22 de junho e deverá contribuir para a definição da agenda de discussões e ações sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.

Assim chamada por marcar os 20 anos da realização da Eco92, a Rio+20 é composta por três momentos. De 13 a 15 de junho, representantes governamentais discutirão os documentos que posteriormente serão convencionados na Conferência. Entre 16 e 19, serão programados eventos com a sociedade civil. Já de 20 a 22 ocorrerá o Segmento de Alto Nível da Conferência, para o qual é esperada a presença de diversos chefes de Estado e de governo dos países-membros das Nações Unidas.

Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, vários líderes mundiais estarão ausentes, incluindo o presidente americano Barack Obama. Do lado europeu, ficam de fora a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron. Para garantir a presença de países africanos e caribenhos, o Itamaraty, o Ministério da Defesa e a Embraer trarão as delegações de 10 deles.

Ativistas do Greenpeace fazem protesto para que as promessas da Rio+20 saiam do papel
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Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace / Divulgação
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