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El Hierro, a ilha espanhola que viverá do vento e da água

8 abr 2014 - 17h41
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Ela é a menor das ilhas Canárias e a menos conhecida pelos turistas, mas El Hierro se prepara para se tornar a primeira ilha a se abastecer com eletricidade de forma 100% autônoma, graças às energias renováveis.

Para tanto, aposta principalmente em sua principal riqueza, o vento que sopra durante todo o ano nos 278 quilômetros quadrados de sua atípica paisagem, de verdes montanhas e grandes esplanadas de rocha vulcânica, em frente à costa africana.

Mas, "o vento não é constante" e, por isso, surgiu a ideia de combiná-lo com outro recurso, a água, explica Juan Manuel Quintero, diretor-geral da usina Gorona del Viento, localizada perto da capital, Valverde.

Segundo um esquema único no mundo, a instalação une cinco aerogeradores e duas balsas d'água, uma 700 metros acima do nível do mar e outra, 650 metros abaixo.

O parque eólico, com potência de 11,5 megawatts, atenderá amplamente a demanda das usinas dessalinizadoras da água do mar e dos cerca de 10.000 moradores da ilha (uns 8 megawatts nos horários de pico).

O excedente servirá para bombear água do mar dessalinizada da balsa inferior à superior.

E quando não houver vento, a energia hidráulica tomará seu lugar, deixando cair água de cima para baixo, gerando uma potência de 11,3 megawatts.

Este sistema "nos dá uma garantia de abastecimento" de eletricidade, destaca Quintero, que supervisiona os últimos testes da implantação da usina, dentro de algumas semanas.

Na inauguração oficial, prevista para o final de junho, a usina atenderá a 50% da demanda de eletricidade e ao longo dos meses, espera aumentar esse percentual até chegar aos 100%.

Esta instalação permitirá à ilha, reserva da biosfera da Unesco, parar de emitir 18.700 toneladas de CO2 ao ano e de consumir 40.000 barris de petróleo. A usina a diesel permanecerá como uma solução de reserva para casos excepcionais.

"É um projeto considerado, em nível mundial, um dos pioneiros e mais importantes na produção de energias renováveis", afirma Alpidio Armas, presidente do Cabildo, a instituição administrativa local.

"A verdadeira novidade de El Hierro é que os técnicos conseguem, sem estar ligados a uma rede nacional ou insular, garantir uma produção elétrica estável, gerada 100% por energias renováveis, superando as intermitências do vento", confirma Alain Gioda, historiador do clima do Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD) em Montpellier, que visitou a ilha uma dezena de vezes.

O projeto vai além e espera converter até 2020 a frota automobilística (6.000 carros) à eletricidade, graças a um acordo com a Renault-Nissan. Uma usina de reciclagem de óleo para transformá-lo em biodiesel também começou a funcionar recentemente.

Devido ao tamanho reduzido e à pequena população, "El Hierro pode ser uma espécie de laboratório", avalia Armas, e um exemplo para as ilhas de todo o mundo, onde vivem 600 milhões de pessoas. Já manifestaram interesse no projeto Havaí, Samso (Dinamarca), Oki (Japão), Aruba (Holanda) e Indonésia.

Os administradores da ilha, uma rocha perdida no extremo oeste das Canárias, também foram convidados a expor o caso em vários congressos internacionais, em Malta e na Coreia do Sul, principalmente.

Com um orçamento de 80 milhões de euros, a usina pertence 60% ao Cabildo, 30% à elétrica Endesa (Enel) e 10% ao Instituto Tecnológico das Canárias.

"O Cabildo, isto é, a população de El Hierro, quis ser a dona da maior parte da propriedade de Gorona del Viento: isto significa que os lucros e também os possíveis prejuízos, definitivamente o destino de Gorona del Viento, está nas mãos dos próprios Herreños" (habitantes de El Hierro), afirma Alpidio Armas.

Não haverá preços especiais para eles (a tarifa de eletricidade é igual em todo o país), mas os ganhos da central aumentarão o orçamento da ilha: "Falamos de algo em torno de 1 a 3 milhões de euros" ao ano, diz.

"Estes são recursos para a ilha, que podem ser novamente revertidos à população, no preço da água, na manutenção das infraestruturas, nas políticas sociais...", acrescenta Armas.

Com taxa de desemprego de 32%, El Hierro também espera atrair muitos visitantes. "Não podemos renunciar aos lucros que o turismo dá, mas não queremos um turismo de massa", como em outras partes das Canárias, afirma o presidente do Cabildo.

A ilha aposta em amantes da natureza e da ciência, como os bolsistas alemães que visitam a usina.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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