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Desperdício de alimentos agrava problema do lixo em grandes cidades

Enquanto a fome ainda afeta uma em cada oito pessoas no mundo, um terço do que se produz não chega à mesa e engrossa o volume de lixo orgânico ainda sem destinação adequada. Campanha da ONU quer mudar panorama

5 jun 2013 - 09h04
(atualizado às 10h01)
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Política prevê a eliminação das unidades de destinação inadequada no Brasil, principalmente dos lixões, até 2014
Política prevê a eliminação das unidades de destinação inadequada no Brasil, principalmente dos lixões, até 2014
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Todos os anos, 7 milhões de toneladas de frutas e quase 6 milhões de toneladas de hortaliças produzidas no Brasil se perdem no caminho entre o campo e o consumidor final. Os dados são do setor de Agroindústria de Alimentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e refletem um problema de escala planetária.

No mundo, 1,3 milhão de toneladas de alimentos são perdidas ou desperdiçadas todos os anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (ONUAA). Ao mesmo tempo em que a comida que se perde faz falta no prato de muitos – uma em cada oito pessoas passa fome no planeta – o desperdício contribui para agravar um outro tipo de problema: a produção de lixo urbano.

Uma campanha do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em parceria com a ONUAA quer promover uma mudança global de hábitos relacionados ao desperdício de alimentos. O assunto é o tema central das ações em torno do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quarta-feira. O programa “Pensar. Comer. Conservar.” sugere um planejamento melhor do consumo de comida e assegura que um terço de tudo o que se produz no mundo vai parar no lixo.

Os números brasileiros são, na verdade, apenas projeções da Embrapa. O químico Antonio Gomes Soares, doutor em Ciência dos Alimentos, conta que uma pesquisa feita entre 1997 e 2000 identificou os percentuais de perda na cadeia produtiva de frutas (30%) e hortaliças (35%), que geram estimativas sobre a produção atual no setor. Mas esses cálculos levam em conta apenas o que acontece antes de os alimentos chegarem ao consumidor final. Depois da compra no varejo, não existe qualquer projeção.

Faltam detalhes

Apesar da falta de números precisos, a experiência de quem trabalha com o outro lado do processo permite uma avaliação dos hábitos brasileiros. O vice-presidente da Associação Brasileira de Limpeza Pública (ABLP), João Gianesi, há 33 anos no mercado de resíduos urbanos, diz que existe uma presença alta de restos da preparação de alimentos e de perdas de alimentos já preparados na composição da parcela orgânica do lixo do país, embora não existam estudos que apontem com exatidão essas quantidades.

“A cultura brasileira não é dimensionada no efetivo consumo”, comenta, sugerindo que, no Brasil, compra-se mais do que se consome de fato.

A Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento em Resíduos da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza (Abrelpe), Adriana Ferreira, confirma que não se pode precisar o que compõe exatamente o lixo orgânico urbano no Brasil.

Além da falta de estudos, afirma, a diversidade cultural do país influencia na composição. O que ela assegura com certeza é o volume: 51,4% das 62 milhões de toneladas de lixo urbano produzidas anualmente no Brasil são resíduos orgânicos. Dados do vice-presidente da ABLP deixam clara a responsabilidade individual nessa cifra: “Em média, cada brasileiro produz por dia entre 750 gramas e um quilo de lixo doméstico.”

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Tratamento ineficaz

A representante da Abrelpe explica que, atualmente, 58% do lixo recolhido recebem uma finalização adequada. Ou seja, vai para aterros sanitários que cumprem a legislação. No entanto, outros 42% – o correspondente a 26 milhões de toneladas de lixo por ano – ainda são depositados em lixões, sem qualquer tipo de tratamento ou cuidado.

A engenheira química conta que ainda não há no país uma cultura efetiva de separação do lixo, e cabe aos municípios incentivarem essa prática. Ela lembra que a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, prevê uma hierarquia para o tratamento do lixo– redução, reutilização, reciclagem e tratamento – e quem não se adequar pode sofrer sanções a partir de 2014.

“Com isso, apenas os rejeitos, aquilo que não pode ser mais usado para nada, seriam levados aos aterros”, esclarece Ferreira.

O cenário, no entanto, não parece propício para mudanças extremas a curto prazo. “O mínimo que as pessoas podem fazer é separar o lixo seco do orgânico”, sugere Gianesi, da ABLP.

Adriana Ferreira acrescenta que existem iniciativas positivas para reaproveitar o material reciclável, mas pouco se fala sobre o material orgânico, maior parte de todo o lixo: “Compostagem praticamente não existe e ainda não há tratamento térmico pra lixo urbano no Brasil.”

Planejamento como saída

Sem soluções imediatas para tudo que o brasileiro coloca na lixeira, Gianesi sugere mais cuidado na hora da compra. A Comissão Europeia também tem conselhos e elaborou uma cartilha para prevenir o desperdício de comida no velho mundo. Mas as dicas servem também para os brasileiros. Planejar as compras, organizar a geladeira, preferir alimentos a granel – vendidos na quantidade desejada, reutilização dos restos e compostagem das sobras estão entre as sugestões.

Diferenciar entre o limite de validade e a sugestão de uma data para consumo também pode trazer economias, ensina o documento. A cartilha aponta que o prazo determinado pelo fabricante precisa ser respeitado quando os alimentos são altamente perecíveis. Já no caso de produtos que duram mais tempo, muitos ainda podem ser consumidos mesmo depois da data sugerida, caso tenham sido armazenados adequadamente e ainda preservem as características de textura, cheiro, cor e sabor originais.

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