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Caça "científica" de baleias do Japão é alvo de controvérsias

20 mai 2015 - 17h12
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A caça "científica" de baleias recebeu recentemente um impulso inesperado de pesquisadores japoneses que argumentam que comer carne de baleia poderia evitar problemas de demência e de memória.

Segundo os pesquisadores, ratos com Alzheimer foram alimentados com uma substância extraída da carne de baleia e responderam melhor a alguns testes do que outros roedores amnésicos que não receberam ballenina - uma molécula presente nos músculos das baleias.

O professor Seiji Shioda, da faculdade de Farmácia de Hoshi (Tóquio), que liderou o estudo, está se preparando para em breve realizar ensaios clínicos em seres humanos.

Seu trabalho aparece em um momento crucial, já que o Japão está no banco dos réus na reunião da Comissão Baleeira Internacional (CBI), reunida desde terça-feira em San Diego (Califórnia).

Pela enésima vez, os negociadores japoneses vão tentar convencer a CBI da credibilidade científica da caça.

Apesar dos clamores da comunidade internacional, o Japão quer continuar com a captura dos cetáceos, "em nome da ciência", ao longo das costas do noroeste do Oceano Pacífico e da Antártida.

Grande parte dessa carne, rica em proteínas, acaba encalhada nas prateleiras dos mercados, já que seu consumo diminuiu bastante recentemente. A carne de baleia entrou em voga em 1945, quando era necessária para alimentar adequadamente a população, então desnutrida.

Na temporada 2014-2015, os pescadores do arquipélago tiveram que desistir de viajar com seus arpões para a Antártida, devido a uma decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ).

Depois de uma censura emitida pela Austrália, a CIJ julgou em março de 2014 que o Japão interpretava indevidamente a isenção científica da caça de baleias, buscando, na verdade, finalidades comerciais. A caça comercial de baleias é proibida desde 1982.

O programa de investigação japonês "não cumpre os critérios de base que devem aderir a todos os cientistas", afirma Atsushi Ishii, professor de política ambiental na Universidade de Tohoku.

"Por exemplo, não há nenhuma explicação racional de como foi definido o número limitado de capturas", observa o estudioso.

O Japão, um dos poucos países no mundo a ter autorizado essa prática (ao lado de Noruega e Islândia), argumenta que a população mundial de baleias, especialmente as baleias de Minke, é grande o suficiente para suportar uma quota anual de 333 cabeças na Antártica em vez das 900 do programa anterior.

"Nessa escala, a investigação científica muitas vezes requer a cooperação com outros programas", por uma questão de eficiência, aponta o professor Ishii, que lamenta a posição unilateral do Japão.

Enquanto isso, Tóquio diz que seu programa irá permitir uma melhor compreensão dos ecossistemas marinhos. Também o considera "fundamental" para coletar dados sobre a idade da população de baleias, que, aparentemente, é necessária para definir os limites de capturas e de prevenção de ameaças para a sobrevivência da espécie.

"O objetivo da pesquisa japonesa é ciência. A ciência garante que a caça comercial será viável quando for retomada", insiste o Instituto de pesquisa sobre os cetáceos (ICR), um organismo público.

Os ambientalistas dizem que não é necessário matar baleias para calcular a média de vida e observar sua dieta.

"O ICR não tem argumentos reais para justificar a si mesmo. Se ele é incapaz de obter dados suficientes com a matança de milhares de baleias, podemos dizer que é uma ciência que falhou", rebate Junichi Sato, militante do Greenpeace no Japão.

O fato é que o que está em jogo é tanto político e científico.

A pesquisa japonesa "não é verdadeiramente científica" e os envolvidos nela "trabalham mais para cumprir uma vontade política (retomar a caça comercial à baleia, ndlr), do que em nome de critérios objetivos", sublinha Sato.

O professor Shioda, convencido dos "melhores interesses" da sua possível descoberta sobre as supostas vantagens de ballenina, não tem a mesma opinião.

"As baleias são criaturas maravilhosas, mas nós não sabemos muito sobre seus mecanismos funcionais. É necessário continuar o trabalho científico", defende Shioda.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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