Arquitetura inspirada na natureza traz soluções sustentáveis
- Sabrina Bevilacqua
- Direto de São Paulo
Arquitetura inspirada na natureza pode trazer soluções sustentáveis para empreendimentos. A chamada biomimética - área da ciência que estuda as estruturas biológicas, sua evolução, e como elas podem ser "imitadas" e adaptadas por outras áreas do conhecimento - já é incorporada em ramos da tecnologia e do design, mas é pouco utilizada pela arquitetura no mundo.
Em busca de novas soluções que possam trazer harmonia entre funcionalidade, desenvolvimento e meio ambiente, a bióloga e diretora do escritório de arquitetura GCP, Alessandra Araujo, investe na formação da nova área. "A biomimética é uma nova discussão no mundo. Alguns países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Japão começam a abrir portas para a biomimética, mas ainda há pouca aplicação na arquitetura", diz Alessandra.
Esse novo olhar de arquitetura, que tem muito a contribuir para a sustentabilidade, é pouco conhecido e ainda não chegou ao País, mas já pode ser visto em edifícios como o Eastgate, no Zimbábue. O maior complexo comercial do país incorpora conceitos adaptados da natureza que permitem, por exemplo, a redução do consumo de energia. Inspirado na "arquitetura" dos cupinzeiros africanos, o complexo permanece com a temperatura regulada o ano todo sem a necessidade de ar condicionado ou aquecimento convencionais.
Os cupins no Zimbábue têm como principal alimento um fungo, que deve ser mantido a cerca de 30°C. Durante a noite, a temperatura local é de menos de 2°C e, durante o dia, aproximadamente 40°C. Para manter o alimento em segurança, os cupinzeiros têm pequenos orifícios que se abrem e fecham ao longo do dia. Com um sistema de correntes, o ar é sugado para dentro do cupinzeiro e armazenado em compartimentos com paredes de lama. A fim de regular a temperatura, os cupins cavam constantemente novas aberturas conectando os antigos canais aos novos.
O sistema de ventilação do Centro de Eastgate funciona de uma maneira similar. Chaminés no topo do edifício fazem o papel dos orifícios dos cupinzeiros. Só por não necessitar da instalação de ar-condicionado e aquecimento, foram economizados US$ 3,5 milhões dólares em sua construção.
De olho nos novos mercados que a arquitetura "responsável" pode trazer para a empresa, a biomimética deve ser incorporada na nova divisão de Urbanismo e Sustentabilidade do escritório. A empresa ainda não executou projetos com esses conceitos, mas segundo Alessandra, a intenção é trabalhar de forma multidisciplinar, integrando arquitetos, urbanistas, biólogos e engenheiros desde a concepção do projeto.
Com investimentos nessa nova dimensão do trabalho, Alessandra afirma que a GCP se prepara para seguir o que em alguns anos deve ser tendência mundial e se tornar pioneiro no País. Para a bióloga, uma região tropical e de tamanha biodiversidade como o Brasil tem como se inspirar no comportamento de diversos organismos aos mais diferentes climas. Por isso, há muitas possibilidades para desenvolver o conceito ampliando a eficiência e a sustentabilidade dos projetos. "O trabalho é fazer a ponte entre o mundo natural e a solução dos problemas urbanos integrando diversos profissionais, como se fosse um laboratório."