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Ser 'um pouco psicopata' no trabalho melhora desempenho, diz psicólogo

22 mai 2013 - 06h10
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Para muitos de nós, psicopatas são seres perigosos que, armados com facas, deveriam passar o resto de seus dias atrás das grades.

O especialista em psicologia experimental da Universidade de Oxford Kevin Dutton pensa diferente. Para ele, ao contrário do que reza o imaginário popular, podemos aprender - e muito - com eles.

"É verdade que, quando psicólogos como eu usam a palavra 'psicopata', imagens de serial killers como Ted Bundy (que estuprou e matou mais de 30 meninas e mulheres nos Estados Unidos nos anos 70) logo vêm à mente de todo mundo", diz Dutton.

No entanto, ele argumenta que todo mundo pode se beneficiar ao ser mais implacável, destemido, autoconfiante, focado, frio, charmoso ou carismático, traços que podem ser exacerbados em psicopatas.

Para Dutton, nenhuma dessas características é um problema por si só. O perigo, acrescenta ele, ocorre quando "todos esses traços ficam muito pronunciados, gerando disfunções".

"Não estou glamourizando a figura do psicopata", destaca Dutton, "porque essas pessoas acabaram com a vida de muitas outras".

Em seu novo livro, intitulado The Wisdom of Psychopats ("A Sabedoria dos Psicopatas"), ele diz que a adoção de algumas das características dos psicopatas podem nos ajudam a melhorar o nosso desempenho no trabalho.

Psicopatas, por exemplo, tendem a não adiar tarefas ou mesmo levar os problemas profissionais para o campo pessoal, "além de não exigirem tanto de si mesmo quando as coisas dão errado", afirma Dutton.

"Se alguém quer um aumento de salário, é normal ficar um pouco ansioso para pedi-lo. Em outras palavras: O que pode acontecer comigo se meu pleito não for aceito ou o que meu chefe vai pensar de mim"?

"Bem, tenha fé em seu potencial e vá adiante. Não se apegue aos seus defeitos, apenas às suas virtudes".

"Ao fazer isso, você se torna mais confiante, e tem mais chances de conseguir o que quer".

Carreira

Até a falta de empatia com os outros - comum entre alguns psicopatas - pode ser útil em algumas profissões.

"Imagine que você tenha a capacidade para ser um bom cirurgião - mas não consegue se desvencilhar emocionalmente da pessoa que você está operando", disse Dutton.

"Um cirurgião me disse certa vez que quando o médico começa a ver o paciente como um parente próximo ou um amigo, está andando numa espécie de 'corda-bamba' emocional".

"Os vitoriosos - ou os mais predispostos ao sucesso - serão aqueles que conseguem estabelecer uma distância sentimental dos seus pacientes".

Pessoas com essas características são mais adaptadas para trabalhar especialmente em cargos de chefia ou de muita importância, como CEOs, advogados ou até jornalistas.

Políticos também costumam revelam alguns traços marcantes de psicopatas.

"Políticos de sucesso precisam não ter remorso ao implementar políticas impopulares, muitas vezes, em desacordo com alguns setores da sociedade", disse Dutton.

"Se você pensar dessa forma, o político de maior sucesso é alguém que sabe dizer o que a população está pensando".

"Eles são brilhantes em se embrenhar no imaginário coletivo, são como assaltantes psicopatas".

Outro lado

No entanto, outros psicólogos estimam que a psicopatia atinja apenas 1% da população total e descrevem a visão de Dutton como "muito generalista".

"É errado descrever essas pessoas como psicopatas - isso é uma definição clínica", disse à BBC o professor Cary Cooper, da Lancaster University Management School.

"Eles não vão matar ninguém - mas indiretamente podem causar perigo às pessoas porque são tão focados no seu próprio sucesso e, ao mesmo tempo, totalmente abstraídos das necessidades dos outros".

"Trata-se, na prática, de um estilo de gerenciamento 'abrasivo', uma espécie de bullying."

Sem escrúpulos

Especialistas alertam que, embora a preocupação consigo mesmo em detrimento com os colegas possa trazer ganhos de curto prazo, tal comportamento pode criar problemas para as empresas no futuro.

"Normalmente essas pessoas têm um desempenho excelente, mas a equipe sofre muito", disse Jonny Gifford, especialista do Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD).

É importante perceber que sempre haverá pessoas que "queiram puxar o tapete" das outras dentro das organizações, disse ele. Do ponto de vista da companhia, acrescenta Gifford, o segredo é saber controlar esse tipo de comportamento, de forma que tais funcionários não coloquem em risco o ambiente de trabalho com suas ações.

Porém, para Dutton, às vezes a crueldade e a falta de compaixão é justamente o que um chefe precisa ter para controlar uma grande empresa.

"Imagine se você detém as competências financeiras e estratégias para um cargo de chefia, mas carece de crueldade suficiente para demitir funcionários que não sejam pró-ativos, ou não possui a frieza necessária para atravessar um período de maus resultados, você nunca vai chegar a nenhum posto de comando, ou vai?"

Mas para aqueles que acreditam que possam ter um chefe sem tendências psicopatas, o especialista dá um conselho.

"Se o seu chefe costuma pisar nos subordinados ou usa todos os meios possíveis para impressionar quem está acima dele, é hora de buscar um novo emprego".

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