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Semelhanças nos sistemas de seleção sexual entre humanos e animais instigam pesquisadores

15 jun 2013 - 14h22
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Segundo biólogos, as semelhanças nos critérios de seleção de parceiros são maiores que as diferenças. Aspectos como beleza, vigor e força predominam na escolha. A regra geral define que as fêmeas são mais seletivas.

Os sistemas de seleção sexual entre humanos e animais são mais parecidos do que se supõe. Apesar de cada espécie ter peculiaridades e características específicas, aspectos como beleza, vigor, tamanho e força são determinantes no processo de escolha de um parceiro para o acasalamento. Especialistas em comportamento animal são unânimes: as semelhanças são maiores que as diferenças.

"Seres humanos são animais. A gente faz essa dicotomia, mas não há nenhuma razão para achar, fisiológica ou morfologicamente, que somos diferentes desses bichos", diz o professor Glauco Machado, do Departamento de Ecologia da Universidade de São Paulo (USP).

Ele explica que o que nos diferencia desses animais é a capacidade de autoconsciência. "Mas no que se refere a sexo, por exemplo, não há nenhuma razão para acreditar que a teoria desenvolvida para outros animais não se aplicaria a nós", avalia.

Para o professor, a principal diferença é que "somos a única espécie do planeta que pode abdicar de ter filhos e de fazer sexo por uma escolha natural".

Assim como entre seres humanos, o acasalamento de animais depende de variáveis que incluem aspectos físicos. Na competição entre machos pelo acesso às fêmeas emergem características como força, agressividade, vigor, tamanho e beleza. Aquele que domina melhor a situação tem mais sucesso. Outras características são selecionadas pelas fêmeas, como coloração, especialmente em primatas e aves (plumagens).

A ilusão do autocontrole

Na análise da professora Regina Macedo, do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB), que trabalha com seleção sexual e sistemas de acasalamento de animais, é comum buscar uma correspondência entre humanos e animais para encontrar explicações.

"As pessoas acham que se comportam de uma forma que reflete decisões individuais delas. Acham que têm um domínio completo sobre o que pensam, o que fazem", observa. 

Segundo a professora, o estudo dos animais mostra que comportamentos são moldados em grande parte por uma biologia básica existente para todos, inclusive para seres humanos. Para ela, aquilo que temos como decisão racional poderia ser mais acentuado, se tivéssemos consciência de que boa parte do nosso comportamento é ditado pela biologia.

Machado lembra que entender o funcionamento da regras da natureza nos permite compreender melhor o que somos, de fato: "somos claramente diferentes e parecidos com os bichos. Condutas que classificaríamos como nosso 'instinto animal' são predisposições genéticas. Muitas das condutas a gente só não exibe porque temos uma camada de cultura que bloqueia esse tipo de comportamento", analisa.

Primeiras pesquisas

O naturalista inglês Charles Darwin tornou-se conhecido mundialmente ao criar a teoria da evolução e explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual. O cientista mostrou a expressão de emoções que podem ser detectadas tanto em animais como no homem, a partir de exemplos como mau-humor, a tendência a manifestar fúria por parte de certos animais e a afeição materna das fêmeas de todas as espécies.

Ele comparou as feições de humanos e de macacos antropoides (orangotango, chimpanzé, gorila) e constatou que havia semelhan­ças na expressão das emoções, especialmente quanto à movimentação dos músculos da face. No livro A descendência do homem e a seleção em relação ao sexo (1871), ele define:  "As emoções se manifestam por movimen­tos quase similares dos músculos e da pele, especialmente acima das sobrancelhas e ao redor da boca; algumas dessas expressões chegam a ser praticamente as mesmas, como o choro de certos tipos de macacos e a risada de outros, du­rante a qual os cantos da boca são repuxados para trás e as pálpebras franzidas".

Outra ideia apresentada por Darwin trata da dominância dos machos. Eles são os mais agressivos, fortes e com sinais distintos de sua dominância, com cristas ou chifres. Apesar disso, o naturalista também propôs características que podem ter se disseminado por atrair a atenção das fêmeas. De modo geral, ele expôs que, por mais que os machos lutem entre si, a escolha, em boa parte dos casos, é feita pelas fêmeas. Elas seriam mais criteriosas ao escolherem parceiros.

"A regra geral é que as fêmeas são mais seletivas. Já os machos investem mais na disputa pelo sexo oposto", avalia Machado. A teoria de seleção sexual, o fato de os machos competirem mais intensamente pelo acesso às fêmeas, o cuidado parental predominantemente ligado às fêmeas: "tudo isso se aplica a seres humanos, as principais diferenças é que, em cima dessas leis biológicas, a gente tem uma camada de cultura que bagunça o padrão", conclui.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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