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Seleção por sexo na avicultura preocupa defensores dos animais

Em raças de galinhas poedeiras, bilhões de pintos machos são mortos após o nascimento por não botarem ovos ou servirem para o corte. Na Alemanha, método de seleção é contestado por contrariar lei de proteção dos animais

20 ago 2013 - 09h28
(atualizado às 10h42)
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A morte de filhotes de galinha machos logo após o nascimento tornou-se uma prática comum na avicultura. Funcionários de incubatórios separam pelo sexo pintos chocados em incubadoras industriais. As fêmeas são colocadas na esteira da direita e vão parar em caixas enviadas para granjas. Os machos vão para a esteira da esquerda, cujo destino final é a morte.

Para Marius Tünte, porta-voz da Federação Alemã de Proteção Animal, a especialização da criação industrial de aves é a culpada pelo processo. "Há frangos de corte, com muita carne, e galinhas poedeiras, que botam muitos ovos. Nas raças de poedeiras, o macho não possui valor econômico. Por isso, em algum momento, se começou a matá-los," disse Tünte à DW.

Naturalmente, metade dos pintos nascidos são machos e, portanto, indesejados. Criá-los para o corte não vale a pena, pois eles demoram muito tempo para alcançar o tamanho adequado para o abate. Além disso, existem raças de galinhas especiais para essa finalidade, nas quais ambos os sexos são abatidos.

A prática de matar pintos machos não é algo isolado. Na Alemanha, mais de 40 milhões deles são mortos por ano, e o número chega a 2,5 bilhões no mundo.

Os pintos são eliminados de duas formas: triturados em uma espécie de cortador com lâminas afiadas ou sufocados com gás carbônico. "Em ambas, os animais agonizam antes da morte. Na cortadeira, muitos sobrevivem gravemente feridos. Na câmara de gás, vídeos mostram como eles tentam respirar antes de morrer", afirma Tünte.

Os pintos mortos são usados para fazer farinha de ossos e queimados. Alguns dos que foram sufocados viram alimento para aves de rapina nos zoológicos.

Ovos orgânicos não escapam do sistema

O problema atinge também a produção orgânica de ovos, pois apenas após a separação entre machos e fêmeas, é decidido se as aves serão criadas confinadas ou em granjas orgânicas. O criador orgânico também compra galinhas poedeiras de criadouros e, portanto, entra no sistema de seleção pelo sexo.

"Não há alternativa no mercado. Nós podemos apenas tentar atenuar o problema", afirma Gerald Wehde, porta-voz da cooperativa de criadores orgânicos Bioland. Normalmente, os avicultores abatem as galinhas quando elas completam um ano e têm a primeira muda de penas. A Bioland aconselha os membros da cooperativa a deixarem as galinhas poedeiras vivas por mais tempo. Pois, depois da muda, as galinhas voltam a botar ovos, mas em menor quantidade.

Se mais galinhas têm um segundo período de postura de ovos, os avicultores precisam comprar menos pintos, diz Wehde. "Não podemos impedir a morte dos filhotes, mas dessa maneira podemos pelo menos reduzi-la."

Prática contraria legislação

Segundo o primeiro parágrafo da lei de proteção dos animais da Alemanha, a morte forçada precisa ter um motivo sensato. Protetores de animais e juristas duvidam que, no caso dos pintos, a prática seja justificável.

Mas, mesmo assim, ela é liberada. Um regulamento da União Europeia até especifica o modo adequado de trituração e sufocamento. A máquina cortadeira não pode estar cheia de mais, e os filhotes não podem ter mais de 72 horas de vida, por exemplo.

"A morte de pintos machos deve ser a última opção, depois de eliminadas todas as possibilidades de utilização do animal, e requer uma avaliação anterior detalhada", afirma à DW o Ministério Alemão da Nutrição, Agricultura e Defesa do Consumidor. Porém, além da pouco lucrativa criação para corte, não existe alternativa para os filhotes.

A maioria das pessoas, inclusive avicultores, já compreendeu que a morte de bilhões de filhotes não é praticável e contraria as leis de proteção animal. Incubatórios chocam milhares de ovos por ano em vão e ainda precisam arcar com os custos para eliminar os animais.

Possível solução

"Ninguém, nem mesmo a indústria, lutaria pela continuidade dessa prática", afirma Maria-Elisabeth Krautwald-Junghanns, veterinária e pesquisadora da Universidade de Leipzig. Ela estuda como determinar o sexo dos embriões das galinhas antes do nascimento. Dessa maneira, apenas fêmeas seriam chocadas.

Para bovinos e outros mamíferos, a solução é mais simples: os espermatozóides são separados por sexo, e somente fêmeas são geradas. Mas para aves isso não é possível, pois o sexo da cria não é definido pelo espermatozóide, mas sim pelo óvulo.

Segundo criadores de aves e associações de proteção dos animais, a melhor alternativa é a criação de raças de galinhas que sirvam para ambos os fins. As fêmeas botam ovos e os machos são abatidos. Essa era a prática comum até os anos 1950.

Na Itália e na Suíça, tal forma de criação existe como nicho no mercado. Já na Alemanha, ela está prestes a ser introduzida no mercado. Até lá, resta ao consumidor que deseja boicotar o método de seleção por sexo somente uma possibilidade "deixar de ou consumir menos ovos e produtos com ovos", diz Tünte.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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