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"Se a gente falhar com Kyoto, será uma catástrofe", diz ambientalista

"Se a gente falhar com Kyoto, será uma catástrofe", diz ambientalista

13 nov 2011 - 13h43
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Angela Joenck Pinto

A primeira fase do Protocolo de Kyoto, que implantou metas de redução na emissão de gases-estufa na atmosfera, irá se encerrar em 2012. Nem todos os 84 países que assinaram o documento conseguiram alcançar suas metas e a renovação do tratado está sob ameaça. "Se a gente falhar com Kyoto agora, significa que ninguém terá obrigação nenhuma, nem meta. E isso significará uma catástrofe", diz Claudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva, do WWF.

O ambientalista revela que, mesmo tentando cumprir o protocolo, as mudanças climáticas serão mais severas do que o inicialmente previsto. "Kyoto é insuficiente. Porque com todo o esforço, não tem dúvida que do jeito que a coisa vai, com a renovação, nós provavelmente vamos ultrapassar o limite do aquecimento global, que era de 2ºC, e vamos chegar a 3ºC. Se o segundo período de Kyoto não acontecer, nós podemos chegar a 5 ou 6ºC", alerta Maretti.

"Nada dentro do esperado"
A decepção com o protocolo de Kyoto é compartilhada pela porta-voz do Greenpeace no Brasil, Renata de Camargo. "Nada muito ousado foi feito de fato. O que foi alcançado não foi nada dentro do esperado. A gente tem aí a posição de países como os Estados Unidos, que sempre batem o pé e não aceitam nenhum tipo de compromisso, nenhum tipo de meta vinculante pra redução de emissões de CO2, então o protocolo de Kyoto acaba não avançando. É preciso que todos os países se comprometam", diz.

Para os ambientalistas, muito mais do que uma questão política entre republicanos e democratas, a resistência americana mora na essência da assinatura de um compromisso internacional. "Na verdade, eles (EUA) não discordam de um ponto ou outro, eles discordam da essência da questão. Eles não concordam que seja uma lei internacional que diga o que eles vão fazer em relação as suas próprias emissões. Eles não concordam que as indústrias se submetam a fazer o que tem que fazer, e deixar de se desenvolver da forma que eles querem se desenvolver", diz a representante do Greenpeace.

Já o congresso americano acata a ideia de alguns cientistas de que o aquecimento global não é culpa do homem, e sim uma questão natural da terra. "A partir desse ponto de vista, eles adotam a postura de que não precisam acordar em uma redução de emissões de caráter internacional, já que não é 'culpa' da economia", analisa Camargo.

Esbarrando nas negociações

Na época em que foi acordado, o protocolo de Kyoto dizia que países desenvolvidos teriam que atingir uma meta vinculante para a redução de emissões de gases estufa, enquanto os países em desenvolvimento não teriam este compromisso. "As negociações sempre esbarram nessa questão. É uma cisma", diz a ambientalista do Greenpeace.

"Porque países em desenvolvimento, como o Brasil, a Índia e a China cresceram muito e aumentaram muito suas emissões (...), ocorre uma grande briga diplomática e nada avança. Então, agora, na segunda fase do protocolo de Kyoto, teremos uma tentativa de costurar esse compromisso maior tanto dos países desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento. Mas ao que tudo indica, não é um cenário muito otimista, porque esbarra em conceitos de diplomacia e nas posições de cada país. Então a gente não sabe o que esperar", explica Camargo.

Na opinião de Claudio Maretti, do WWF, o Brasil vinha dando um bom exemplo até propor mudanças no código florestal. "Sendo um País em desenvolvimento, o Brasil não tinha obrigação de reduzir emissões. Mas mesmo assim, aceitou uma meta auto-imposta, além de compensações no sentido de colaboração para alcançar essa meta. Então nós estávamos dando um excelente exemplo para o mundo. E agora o mundo está se perguntando 'aquele menino que estava fazendo a lição de casa direitinho, agora vem aqui e é o mais revoltado da classe'", compara.

Segundo o ambientalista, com essa mudança no código florestal, o nosso País está ameaçando triplicar as emissões. "Eu espero que o mundo cobre isso do Brasil, porque as emissões que o código florestal vai gerar vão afetar o mundo inteiro. Do mesmo jeito que a gente pode reclamar dos EUA, eles tem o direito de reclamar de nós", afirma Maretti.

As consequências

Erroneamente, algumas pessoas acreditam que as mudanças climáticas se limitariam ao aumento da temperatura. "As coisas não funcionam assim", diz o representante do WWF.

"A temperatura é só uma indicação. A gravidade é que isso vai comprometer a nossa posição agrícola, porque muda completamente o padrão climático e a adaptação das plantas. Além disso, a gravidade é mudar o padrão das doenças, levando por exemplo doenças tropicais para o sul do País", alerta.

O ambientalista lembra ainda que a subida dos mares será uma realidade. "As mudanças climáticas já chegaram, mas teremos chuvas mais intensas e secas mais graves. E isso vai piorar num quadro onde a gente sequer protege a vegetação. De fato, será muito grave para o ambiente no sentido de que irá prejudicar a vida das pessoas e a economia, se não houver um segundo período de Kyoto", concluiu.

Fonte: Especial para Terra
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