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Por que Hiroshima e Nagasaki são habitáveis e Chernobil não?

8 ago 2015 - 15h32
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Há 70 anos, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki protagonizaram duas das maiores tragédias mundiais com as bombas lançadas pelos Estados Unidos, que causaram uma devastação e destruição sem tamanho.

Há uma zona de exclusão em Chernobil que ninguém pode cruzar
Há uma zona de exclusão em Chernobil que ninguém pode cruzar
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Em Hiroshima, viviam cerca de 350 mil pessoas. Calcula-se que a bomba que caiu no dia 6 de agosto de 1945 matou por volta de 80 mil.

Quase 80% dos edifícios foram destruídos ou sofreram danos irreparáveis.

No entanto, ainda é incerto o número de mortes na cidade em decorrência das feridas sofridas depois da explosão e dos efeitos da radiação – estima-se que o número varie entre 90 mil a 166 mil pessoas.

Hoje, a cidade tem um total de 1,17 milhão de habitantes.

Em Nagasaki, viviam cerca de 263 mil pessoas no dia da explosão nuclear, em 9 de agosto de 1945.

Calcula-se que entre 39 mil e 80 mil pessoas tenham morrido menos de um segundo após a bomba.

Atualmente, a população da cidade é de 450 mil pessoas.

Pior desastre nuclear

Agora avancemos 41 anos no tempo. Na madrugada de 26 de abril de 1986, ocorreu o que foi classificado como "pior desastre nuclear da história".

Um dos quatro reatores da planta de Chernobil, na Ucrânia (então parte da União Soviética), explodiu e causou um incêndio que liberou enormes quantidades de partículas radioactivas na atmosfera.

Como consequência direta do aciente, morreram 31 pessoas. Mas as investigações sobre os efeitos da radiação a longo prazo – como câncer – continuam até hoje.

Depois do acidente, foi decretada uma zona de exclusão de 30 km ao redor da planta nuclear, que cobre uma área de aproximadamente 2.600 km² na Ucrânia. Ainda há restos de contaminação radioativa na atmosfera.

Reconstrução e exclusão

Como foi possível, então, que Hiroshima e Nagasaki, que sofreram explosões nucleares tão devastadoras e com tantas vítimas fatais, se tornassem cidades prósperas e habitáveis, enquanto Chernobil virou um lugar completamente inabitado e assim seguirá por muitos anos?

O site Gizmodo, especializado em tecnologia, é um dos poucos meios de comunicação que fez essa pergunta.

Aqui a BBC reproduz as razões principais.

1. Quantidade de combustível nuclear

A bomba "Little Boy" (que caiu em Hiroshima) transportava 63 kg de urânio enriquecido. "Fat Man" (a bomba de Nagasaki) continha cerca de 6,2 kg de plutônio.

O reator número quatro de Chernobil tinha 180 toneladas de combustível nuclear, dos quais 2% (3,6 mil kg) eram urânio puro.

Quando o reator explodiu, calcula-se que foram liberadas sete toneladas de combustível nuclear. No total, o desastre emitiu 100 vezes mais radiação que as bombas que caíram sobre Hirohima e Nagasaki.

2. Diferenças na reação nuclear

Na bomba de Hiroshima, a reação aconteceu com 900 gramas de urânio. Da mesma forma, 900 gramas de plutônio foram submetidas a uma fissão nuclear em Nagasaki.

Em Chernobil, porém, cerca de sete toneladas de combustível nuclear – com enormes quantidades de partículas radioactivas – escaparam para a atmosfera.

Quando o combustível nuclear se fundiu, foram liberados isótopos radioativos que incluíam xenônio, iodo radioactivo e césio.

3. Localização

As bombas que caíram em Hiroshima e Nagasaki foram detonadas no ar, centenas de metros acima da superfície da Terra.

Como resultado, os depósitos radioativos se dispersaram como efeito da nuvem criada pela explosão.

Em Chernobil, no entanto, o reator quatro se fundiu na superfície, produzindo uma ativação de nêutrons que fizeram com que a terra se tornasse radioativa.

Outra explicação

A página Physics Stack Exchange (um site de intercâmbio de conhecimento para investigadores acadêmicos e estudantes de física) tem outra explicação.

"Ainda que funcionem na base dos mesmos princípios, a detonação de uma bomba atômica e o colapso de uma planta nuclear são processos muito diferentes", diz o site.

Segundo a publicação, uma bomba atômica está baseada na ideia de liberar a maior energia possível da reação de uma fissão nuclear no menor tempo possível.

A ideia é criar o maior dano e devastação possíveis para anular as forças inimigas.

Assim, os isótopos radioativos que se criam em uma explosão atômica têm um período de vida relativamente curto.

Mas, como um reator nuclear está desenhado para produzir energia em um processo de reação lento, isso resulta na criação de materiais de resíduos nucleares que possuem uma vida mais longa.

Ou seja, a radiação inicial de um acidente nuclear pode ser muito mais baixa que a de uma bomba, mas seu tempo de vida será muito mais longo.

Calcula-se que milhares de anos se passarão – estimativas citam até 20 mil anos – para que a zona de exclusão de Chernobil volte a ser habitável.

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