PUBLICIDADE

Natureza do País ajudou Darwin a formular teoria da evolução

5 mai 2010 - 08h50
Compartilhar

Aos 23 anos, um jovem e promissor cientista chegava ao Brasil, a bordo do Beagle, para o começo daquela que seria uma das aventuras mais reveladoras da ciência, e que iria resultar numa obra que revolucionou a visão do homem sobre o mundo e sobre si mesmo: a obra é o livro A origem das espécies e o jovem aristocrata inglês era Charles Darwin. Ao chegar ao Brasil, nos anos 30 do século 19, Darwin ficou fascinado com a exuberância e a diversidade de espécies vegetais e animais do país.

"Aquilo colocou uma minhoca na cabeça dele. Afinal, como explicar aquela diversidade?", comenta o cientista brasileiro Ildeu de Castro Moreira, um dos curadores da exposição Evolução e natureza tropical, que será aberta ao público quarta-feira no Museu da Vida, no campus da Fundação Oswaldo Cruz, e que mostra a importância da biodiversidade brasileira para a formulação da teoria da seleção natural.

Darwin passou uma temporada de cinco meses no Rio de Janeiro, morando numa casa em Botafogo, que, segundo o curador da mostra, ficaria na rua que hoje é a São Clemente, na altura do Humaitá.

"Em seus escritos, Darwin fala que via o Corcovado da janela. Ele fazia caçadas na Lagoa", diz Ildeu, professor de história da ciência da UFRJ. A própria configuração da sociedade brasileira na época marcou muito Darwin, que vinha de uma família antiescravagista. Ele acreditava que todos os seres humanos descendiam de um ancestral comum, independentemente de cor ou conceitos (então em voga) de raça.

"Ele tinha a ideia de unidade da espécie humana. Sua argumentação científica era coerente com sua posição ideológica", observa Ildeu, que também é diretor do Departamento de Popularização e Difusão Científica, do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Mas como a passagem pelo Brasil ajudou Darwin a formular a teoria da evolução das espécies? Foi só uma inspiração?

"Ele se perguntou, por exemplo, se o tatu brasileiro tinha alguma relação com o fóssil do cliptodonte encontrado na Argentina. Afinal, pensava, os dois têm uma carapaça, devem, portanto, ter um ancestral comum. A mesmo pergunta se fez ao comparar o bicho-preguiça brasileiro com o fóssil de preguiça-gigante", explica Ildeu.

A exposição no Museu da Vida procura mostrar esta relação de Darwin com os trópicos e a implicação disto para a formulação de sua teoria. A mostra traz painéis com escritos do cientista inglês, uma réplica do Beagle, fósseis, borboletas, insetos e instrumentos científicos de época. Fala também da relação de Darwin com os brasileiros.

"Os mateiros, os caçadores e os índios foram importantes auxiliares para cientistas como Darwin e outros naturalistas que exploraram a natureza brasileira", diz Pedro Paulo Soares, coordenador da exposição, aberta de terça a sexta, das 9h às 16h30, e aos sábados, das 10h às 16h.

Aliás, a mostra do Museu da Vida aborda o trabalho de outros naturalistas europeus que vieram para o Brasil no século 19. Dentre eles, estava outro cientista inglês, Alfred Wallace, que passou quatro anos na Amazônia, entre 1848 e 1852, coletando borboletas e as enviando para a Europa para custear sua expedição. Wallace tinha Darwin como referência, e suas pesquisas iam pelo mesmo caminho.

Ao descobrir que numa margem do Rio Negro havia uma espécie de macaco diferente das espécies da margem direita, ele criou a teoria de que barreiras geográficas haviam levado à diferenciação das espécies.

"É como se a teoria de Darwin tivesse uma dimensão no tempo e a de Wallace, no espaço", comenta Ildeu. A exposição aborda ainda a obra do naturalista alemão Fritz Muller e do suíço-americano Loius Agassiz.

"Fritz se radicou em Blumenau, Santa Catarina. E foi um dos cientistas mais produtivos do Brasil. Ele leu A origem das espécies e aplicou a teoria de Darwin ao estudo sobre crustáceos. Escreveu o livro Für Darwin (A favor de Darwin)", conta Ildeu.

O outro naturalista, Louis Agassiz, faz uma espécie de contraponto com o trabalho dos outros cientistas. Ele era um criacionista, não acreditava em seleção natural. Amigo de dom Pedro II, veio ao Brasil para contestar a teoria de Darwin.

"Agassiz era muito respeitado. Fundou o Museu de Zoologia de Harvard, nos EUA", comenta Ildeu. "Apesar disso, não conseguiu convencer a comunidade científica de que Darwin estava errado.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
Compartilhar
Publicidade