Físicos explicam a importância de Hawking para a ciência
8 jan2012 - 09h33
(atualizado às 09h38)
Compartilhar
Angela Joenck
Stephen Hawking, que completa 70 anos neste domingo, é possivelmente o cientista mais conhecido do nosso tempo. Físico, cosmólogo, professor e pesquisador junto a diversas instituições de ensino, Hawking descobriu em 1974 que buracos negros emitem radiação térmica devido a efeitos quânticos. A teoria foi tão inovadora, que a tal radiação acabou levando o seu nome. "O Hawking foi muito importante ao calcular que efeitos quânticos fazem um buraco negro perder massa. Embora esta perda de massa seja muito pequena, com um longo tempo ela faz o buraco negro evaporar", diz o professor do Instituto de Física da UFRGS Kepler de Souza Oliveira Filho.
Para chegar a esta conclusão, Hawking precisou unir áreas da física que nunca foram combinadas: as teorias quânticas, a relatividade e a termodinâmica. "Essa junção foi fundamental para apontar um novo jeito de pensar sobre as coisas", diz o doutor Matthew Pitkin, pesquisador do Instituto de Física e Astronomia da Universidade de Glasgow. A descoberta levou a outros desdobramentos, como o surgimento de um campo chamado cosmologia quântica. "Ele foi uma das pessoas na linha de frente deste ramo, usando teorias de mecânica quântica e aplicando-as à cosmologia. Se você pensar, a mecânica quântica lida com as menores coisas que existem, enquanto a cosmologia lida com o universo todo. E tudo isso faz parte do grupo de contribuições que ele fez à ciência", pondera o Dr. Pitkin.
A fama de Hawking chegou a lhe garantir aparições em séries como Os Simpsons e Star Trek: The Next Generation (Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, no Brasil). Mas nas comemorações do seu septuagésimo aniversário, é a Universidade de Cambridge que está prestando a maior homenagem ao cientista. Ocupando a cadeira que uma vez foi de Isaac Newton, Hawking é tema de uma conferência de quatro dias que culminará em um simpósio aberto ao público. O evento, que será transmitido pela internet, contará com a presença do próprio Hawking, além de nomes como Saul Perlmutter, vencedor do Prêmio Nobel de Física em 2011. Na pauta está a revisão do status atual de campos de estudo como buracos negros, cosmologia e física fundamental.
Mas na opinião de Matthew Pitkin, acima de todas as teorias, a grande contribuição de Hawking está na divulgação da ciência para o grande público. Ao lançar o best-seller Uma Breve História do Tempo, o cientista procurou explicar ao leitor não especialista temas considerados bastante complexos . "O lançamento daquele livro foi um grande marco, e o fato de que ele foi tão bem sucedido levou a popularização da física e astronomia. Não é que Uma Breve Historia do Tempo seja fácil de ler, mas foi um dos primeiros livros de ciência a se tornar popular e a discutir cosmologia e o universo. Desde então, ele deu origem a uma quantidade gigantesca de "ciência popular", com outros livros e especiais de TV, falando de física em geral e, mais especificamente, de astronomia. Então isso teve um impacto muito grande na percepção que o público tem da ciência e o que as pessoas sabem sobre o assunto", diz Pitkin. Já Kepler Oliveira, da UFRGS, classifica Hawking como "tremendamente importante". "Ele conseguiu transformar um assunto teórico difícil em algo de interesse da população", diz o astrônomo.
Perseverança e bom humor
Quando foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica aos 21 anos, os médicos avisaram Stephen Hawking de que ele não teria mais que 24 meses de vida. Desafiando todas as probabilidades, é a perseverança do cientista que une físicos e leigos na comemoração dos seus 70 anos. "Ele ainda está aqui, produzindo e trabalhando em pesquisas. Teve incontáveis estudantes que seguiram carreira e se tornaram grandes nomes da física e da astronomia. E todos eles concordam que, apesar de todas as dificuldades, ele tem pensamento muito ágil e ainda é capaz de lidar com os grandes conceitos de pesquisa que estão surgindo", afirma o britânico Pitkin.
E tudo isso sem perder o bom humor. Ao conceder entrevista à revista New Scientist, Hawking confessou que buracos negros e formulas matemáticas não são desafio nenhum, e que ele passa os seus dias pensando em um assunto bem diferente. "As mulheres. Passo o dia inteiro pensando nelas. Elas são um completo mistério", disse ele.
Há quem pense que a introspecção forçada pela doença facilite a elaboração das ideias complexas do cientista. "Ele passa mais tempo fechado em si mesmo do que a maioria das pessoas, pelas dificuldades causadas pela doença. Isto facilita o desenvolvimento de teorias que precisam de muita concentração, sem interferências externas", afirma Kepler Oliveira. Já Matthew Pitkin ressalta a energia e a capacidade de abstração de Hawking. "Ele ainda viaja pelo mundo dando palestras, passa muito tempo em Los Angeles - e não é para descansar, mas sim para desenvolver pesquisas no Caltech, o Instituto de Tecnologia da Califórnia", elogia o britânico.
"Se você for pensar, o que ele faz é incrível. Se ele for ler um trabalho qualquer, ou se ele tiver uma ideia para uma nova pesquisa, ele tem que deixar tudo dentro da cabeça, porque não consegue sequer pegar um papel e caneta para anotar uma equação, ou desenhar um diagrama", lembra o professor da Universidade de Glasgow. "A maioria de nós ia ter dificuldade de fazer qualquer uma dessas coisas, mesmo tendo todos os movimentos. Qualquer um de nós colocaria alguma coisa no papel, ficaria olhando para aquilo horas, talvez dias, até desenvolver uma ideia. E ele ainda consegue fazer tudo isso, e o faz muito bem. É simplesmente impressionante", completa.
Nascido na cidade inglesa de Oxford em 8 de janeiro de 1942, Stephen Hawking sempre acreditou que a ciência era seu destino. Para comemorar o 70º aniversário do físico mais famoso da atualidade, o Terra preparou uma galeria especial sobre a sua trajetória
Foto: Divulgação / AFP
Retrato mostra Stephen Hawking em 1963, quando tinha 21 anos; neste ano, o jovem britânico que havia se graduado em física pela Universidade de Oxford descobriu que era portador de uma doença degenerativa
Foto: Howard Grey / Divulgação
Ainda sem nenhuma sequela aparente da esclerose amiotrófica, doença que iria lhe deixar em uma cadeira de rodas, Hawking sorria para a foto feita em 1963; neste ano, os médicos lhe deram apenas dois anos de vida, mas contrariando as expectativas, no dia 8 de janeiro de 2012, o astrofísico mais famoso completa seus 70 anos
Foto: Howard Grey / Divulgação
Foto sem data divulgada pela agência espacial americana (Nasa, na sigla em inglês) mostra o jovem cientista, que apesar da doença não desistiu dos estudos, até se tornar Ph.D em cosmologia em Cambridge
Foto: Nasa / Divulgação
Quase duas décadas depois, imagem mostra o já reconhecido cientista, que de 1979 a 2009 ocupou a mesma cadeira que um dia foi de Isaac Newton na Universidade de Cambridge
Foto: Getty Images
Imagem de 1983 mostra o professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, reconhecido como um dos mais brilhantes físicos vivos
Foto: Getty Images
Em 1990, o físico posou para fotos ao lado da primeira mulher, Jane Hawking
Foto: Getty Images
No começo da década de 1990, o físico já apresentava sequelas mais avançadas da doença; para se comunicar, ele passou a utilizar um sintetizador de voz
Foto: AP
Pouco tempo antes, no final da década de 1980, o pesquisador foi responsável por lançar um livro de divulgação científica que vendeu milhares de exemplares pelo mundo: 'Uma Breve História do Tempo'
Foto: Getty Images
A fama conquistada a partir do livro foi tamanha que incluiu participações especiais em séries de TV como 'Star Trek', como mostra a imagem de 1993
Foto: Getty Images
Imagem de 15 de setembro de 1995 mostra o casamento de Hawking com a sua segunda mulher, a enfermeira Elaine Mason
Foto: Getty Images
Em 1997, o presidente da Microsoft, Bill Gates, participou de um encontro com o professor Hawking, na Universidade de Cambridge, na Inglaterra
Foto: Getty Images
O físico famoso falou sobre o futuro da ciência durante uma conferência com o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, em 1998
Foto: AFP
Responsável pela descoberta sobre a radiação térmica emitida pelos buracos negros, Hawking sempre conciliou as pesquisas e a vida familiar com um extenso programa de viagem; foto de 2001 mostra o físico em Mumbai, na Índia
Foto: AFP
Em Nova Déli, no ano de 2001, Hawking falou sobre os buracos negros; segundo estudiosos, uma das grandes contribuições do físico é levar para o grande público informações sobre questões técnicas que envolvem a ciência
Foto: AFP
Hawking recebe o carinho da mulher, Elaine Mason, durante conferência na Alemanha em 2005
Foto: AFP
Hawking sorri ao lado da mulher antes do lançamento do seu novo livro Uma nova História do Tempo, em outubro de 2005
Foto: AFP
Em 2005, Hawking fez uma apresentação sobre A Origem do Universo, durante uma conferência em Berlim, na Alemanha
Foto: AFP
As maratonas de viagem do físico britânico incluiram Hong Kong, onde foi recebido por crianças durante visita em 2006
Foto: AFP
Stephen Hawking desembarcava de um ônibus no Centro Espacial Kennedy, na Flórida, em uma foto de 2007 que mostra os preparativos de um voo à gravidade zero
Foto: AFP
Hawking experimenta a sensação da gravidade zero; a missão organizada pela Nasa aconteceu em abril de 2007
Foto: AP
Imagem de setembro de 2007 mostra o físico na companhia de sua filha Lucy (dir.) e de Christophe Galfard; os dois ajudaram Hawking a escrever o livro que explica as teorias do espaço para as crianças
Foto: AFP
'As pessoas são fascinadas pelo contraste entre minhas capacidades físicas extremamente limitadas e a imensidade do universo com o qual trato', escreveu o pesquisador para o seu site; na foto, ele aparece num evento de comemoração dos 50 anos da Nasa, em 2008
Foto: Nasa / AFP
Paralisado pela doença, Hawking continua trabalhando incansavelmente para revelar os mistérios do universo, como mostra a imagem de 2008, quando participou de conferência da Nasa
Foto: Nasa / AFP
Em 2008, o líder da África do Sul Nelson Mandela recebeu visita do pesquisador britânico em Joanesburgo
Foto: AFP
Hawking recebe homenagens na Universidade de Cambridge em 2008, local onde começou suas pesquisas sobre buracos negros há cerca de 50 anos
Foto: AFP
Também em 2008, Stephen Hawking recebeu a bênção do papa Bento 16 durante visita ao Vaticano; dois anos mais tarde, o cientista causou polêmica ao afirmar em um novo livro que 'Deus não tem mais lugar na criação do universo'
Foto: AFP
Hawking foi recebido pelo presidente americano Barack Obama, em agosto de 2009, durante cerimônia de entrega da Medalha da Liberdade, a maior honra civil do país
Foto: Casa Branca / Divulgação
No mesmo ano, Hawking foi recebido pela Rainha da Inglaterra, Elizabeth II
Foto: Casa Branca / Divulgação
Hawking ainda mantém a preocupação de tornar acessíveis ao maior público possível os complicados conceitos da física
Foto: AFP
O físico mais famoso da atualidade é casado e tem três filhos e três netos
Foto: AFP
A atriz Jane Fonda beija o físico antes de uma apresentação de teatro em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2011
Foto: AFP
Para comemorar o aniversário do físico, o Museu da Ciência, de Londres, divulgou fotos inéditas no dia 5 de janeiro de 2012; o museu prepara uma exposição com retratos, que inicia no final de janeiro, para contar a história de vida de Hawking
Foto: AFP
Em foto divulgada pelo Museu da Ciência, de Londres, o físico aparece em seu escritório na Universidade de Cambridge; aos 70 anos, Hawking é é diretor do Departamento de Matemática Aplicada e Teorias Físicas, fundador do centro de Cosmologia Teórica e ocupou a mesma cadeira que um dia foi de Isaac Newton na universidade