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Excesso de barulho nas escolas pode gerar danos à audição

4 fev 2010 - 09h51
(atualizado às 12h17)
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Milhões de estudantes do País estão voltando às aulas. A animação e algazarra nas classes, no entanto, escondem um sério problema: os danos à audição, que podem ser sentidos somente na idade adulta, mas que têm início nos primeiros anos de escola, em meio ao ruído excessivo nas salas de aula.

Estudo confirma que em muitos colégios o barulho nas salas de aula passa do tolerável
Estudo confirma que em muitos colégios o barulho nas salas de aula passa do tolerável
Foto: Getty Images

O "barulho ensurdecedor", reclamação de muitos professores, não é somente um jeito exagerado de se referir ao incômodo. Com o passar do tempo, aluno e professor, expostos diariamente a sons altos, podem ter a audição comprometida, já que a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) tem efeito cumulativo.

Quanto maior a frequência a ambientes barulhentos ao longo da vida, maiores as chances de danos. No ambiente escolar, a gritaria da turma, somada aos ruídos que vêm da rua e do trânsito, prejudica o bem-estar de todos, comprometendo não apenas a concentração e aprendizagem, mas também os ouvidos.

A barulheira das crianças frequentemente tem efeito multiplicador. Os alunos vão gritar para fazer ouvir sua voz entre outras crianças barulhentas. O professor, por sua vez, faz tamanho esforço para ser compreendido que também acaba gritando sem perceber. Ao mesmo tempo, outros alunos movem suas cadeiras para a frente e para trás para apanhar um lápis no chão, ir ao banheiro ou simplesmente conversar com o colega de trás. Medidas simples que atenuam o problema são colocar feltro sob mesas e cadeiras escolares; e exigir dos alunos que falem mais baixo - sem esquecer de começar pelo professor.

Estudo realizado pela Universidade de Oldenburg, na Alemanha, confirmou que em muitos colégios o barulho nas salas de aula passa do tolerável. No Brasil, alguns colégios particulares já se preocupam com o tema. É o caso do paulistano Santo Américo, no Morumbi, que conscientiza alunos do 1º ao 9º ano com os chamados "ruidômetros" - cartazes que trazem uma escala subjetiva de barulho que vai de 0 a 10. Quando professor ou aluno fica incomodado com a barulheira, muda o prendedor para os números mais altos para chamar a atenção de todos.

O limite suportável para o ouvido humano é de 65 decibéis, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Acima disso, o organismo começa a sofrer danos. Para as salas de aula, a Associação Brasileira de Normas Técnicas estipula que o limite tolerado é de 40 a 50 decibéis. Muitas classes, no entanto, atingem 75 decibéis, principalmente as que têm mais de 25 estudantes. Além disso, o barulho no pátio, na hora do recreio, pode chegar a mais de 100 decibéis.

Se pessoas com boa audição são prejudicadas com tanto barulho na escola, imagine um aluno que já sofre de perda auditiva. "Ouvir o professor com tanto ruído ao redor é difícil, mas a tarefa torna-se impossível para uma criança com problemas de surdez. As escolas precisam buscar alternativas para enfrentar o problema", alerta a fonoaudióloga Isabela Gomes, do Centro Auditivo Telex.

Criado pela dinamarquesa Oticon - líder mundial na comercialização de aparelhos auditivos - foi lançado no Brasil o aparelho "Amigo", sistema FM que permite a comunicação direta de professores com crianças e jovens que apresentam problemas auditivos. A nova tecnologia, utilizada dentro das salas de aula, é fundamental para ajudar o aluno com deficiência auditiva a entender com clareza o que o professor está ensinando. O sistema é composto por um microfone (transmissor) e um receptor.

A pessoa que está falando, no caso o professor, utiliza o minimicrofone acoplado à roupa e sua voz é transmitida diretamente para o ouvinte, que é o aluno. Isso ajuda a cortar qualquer efeito negativo de distância, eco ou ruído de fundo, mantendo o sinal da fala original alto e claro.

"Pais e professores precisam estar atentos para problemas de déficit auditivo de seus filhos e alunos, que muitas vezes passam despercebidos. É necessário medir a audição das crianças, principalmente no início da fase escolar, para evitar problemas de aprendizagem, futuros danos auditivos ou mesmo o agravamento de distúrbios já existentes", aconselha a especialista Isabela Gomes.

Jornal do Brasil Jornal do Brasil
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