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Estar curado do HIV é 'maravilhoso', diz o paciente de Berlim

24 jul 2012 - 19h29
(atualizado às 22h40)
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"É maravilhoso estar curado do HIV", disse o americano Timothy Brown, conhecido como o "paciente de Berlim", a única pessoa no mundo que parece ter se livrado do vírus da aids, ao anunciar em Washington uma nova fundação que busca a cura para a pandemia.

A criança se recuperou de uma cirurgia para corrigir um desvio de 42° na coluna vertebral. Ele teve que usar durante três meses a proteção
A criança se recuperou de uma cirurgia para corrigir um desvio de 42° na coluna vertebral. Ele teve que usar durante três meses a proteção
Foto: Barcroft Media / Getty Images

Brown, 47 anos, um ex-HIV positivo de Seattle (Washington, noroeste dos Estados Unidos), ficou famoso depois de passar por um novo tratamento de leucemia com células-tronco de um doador resistente ao HIV e desde então não apresenta traços do vírus.

Depois de 2007, Brown passou por dois transplantes de alto risco de medula óssea e seus testes continuam a indicar negativo para o HIV, impressionando os pesquisadores e oferecendo perspectivas promissoras sobre como a terapia genética pode levar à cura da doença.

"Eu sou a prova viva de que pode haver uma cura para a aids", disse Brown à AFP em uma entrevista. "É maravilhoso estar curado do HIV".

Brown parecia frágil quando se reuniu com jornalistas durante a XIX Conferência Internacional sobre a aids, o maior encontro mundial sobre a pandemia, realizada durante esta semana na capital americana. O transplante de medula óssea é delicado e um a cada cinco pacientes não sobrevive. Mas Brown afirma que apenas sente dores de cabeça ocasionais.Também disse estar consciente de que sua condição gerou polêmica, mas negou as afirmações de alguns cientistas que acreditam que ele pode ter traços de HIV no corpo e que pode contaminar outros.

"Sim, estou curado", declarou. "Sou HIV negativo". Brown afirmou que apoia os esforços para que uma cura universal para a doença seja encontrada, e disse que se reuniu com vários cientistas importantes nos últimos dias, que o trataram "como uma estrela de rock".

Agora espera aproveitar esta fama para incentivar doações para financiar estudos e ressaltou que a Europa e China gastam muito mais em pesquisas para a cura do que os Estados Unidos. "Há milhares de cientistas muito capazes que não podem obter financiamento para pesquisa, é isto que eu quero mudar. E há um grande número de pesquisadores que estão dispostos a trabalhar para encontrar uma cura para o HIV".

Ciência, milagre, os dois?

Brown estudava em Berlim quando descobriu ser HIV positivo em 1995. Na época, deram-lhe dois anos de vida. Contudo, um ano depois, apareceu no mercado a terapia antirretroviral combinada, que fez com que o HIV deixasse de ser uma sentença de morte e passasse a uma doença controlável por milhões de pessoas em todo o mundo. Brown tolerou bem as drogas, mas com fadiga persistente visitou um médico em 2006 e foi diagnosticado com leucemia. Passou por quimioterapia, o que lhe causou uma pneumonia e uma infecção que quase o matou.

A leucemia voltou em 2007 e seu médico, Gero Heutter, cogitou um transplante de medula óssea com um doador que tinha uma mutação do receptor CCR5. Pessoas sem este receptor parecem ser resistentes ao HIV, porque não têm a porta através da qual o vírus entra nas células. Mas essas pessoas são raras: cerca de 1% da população do norte da Europa.A nova técnica pode ser uma tentativa para curar o câncer e o HIV, ao mesmo tempo.

Brown foi submetido a um transplante de medula óssea com células-tronco de um doador com a mutação CCR5. Ao mesmo tempo, parou de tomar antirretrovirais. No fim do tratamento o HIV não foi mais identificado em Brown. Mas sua leucemia retornou, e por isso foi submetido a um segundo transplante de medula em 2008, utilizando as células do mesmo doador.Brown afirmou que sua recuperação da segunda cirurgia foi mais complicada e o deixou com alguns problemas neurológicos, mas continua curado da leucemia e do VIH.

Quando perguntam se acredita em um milagre, Brown hesita. "É difícil dizer. Depende de suas crenças religiosas, se você quer acreditar que foi a ciência médica ou que se trata uma intervenção divina", disse à AFP. "Eu diria que é um pouco dos dois".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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