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Brasil precisa recuperar 30 anos na Antártida, diz pesquisador

22 jan 2012 - 08h01
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Pesquisadores brasileiros terminaram na última terça-feira o processo de instalação do primeiro módulo de estudos no interior Antártida, após 27 dias de investigações. Segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e líder da Expedição Criosfera, Jefferson Simões, com essa iniciativa o Brasil tenta recuperar um atraso de 30 anos nas pesquisas no continente gelado.

"O programa antártico começou há 30 anos, mas os investimentos só ganharam maior vulto nos últimos anos. Dos países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o nosso é o que menos libera verbas para as pesquisas, isso que somos muito mais afetados pelos impactos climáticos do continente", afirma o cientista, que comandou uma equipe de 17 pesquisadores durante a expedição. Segundo ele, estima-se que a China investe até dez vezes mais que o Brasil em pesquisas no continente.

"O Brasil tem uma visão errada de que a Amazônia é mais importante que a Antártida. Não estamos isolados do resto do mundo e precisamos ter clareza de que todas as mudanças que ocorrem no continente antártico afetam diretamente o cotidiano dos brasileiros, o nosso clima é reflexo dessas transformações", afirma. Simões cita como exemplo dessa influência, as frentes frias formadas na região que avançam sobre o Brasil durante o inverno e trazem impactos para a agricultura. "E não são somente as regiões mais próximas da Antártida que são atingidas. As friagens, por exemplo, afetam até a Amazônia".

De acordo com o pesquisador, a instalação de um módulo no interior do continente gelado vai viabilizar estudos mais aprofundados sobre a geologia, glaceologia, astronomia e química, além de permitir o monitoramento das condições climáticas e do impacto gerado pela poluição. "Isso marca uma nova fase do programa antártico brasileiro, que antes concentrava sua atuação apenas em análises feitas a partir da costa e do oceano".

Os investimentos do governo brasileiro nas pesquisas chegam a R$ 6 milhões por ano. Somado aos custos de logística - como equipes da Marinha e aviões da Força Aérea para o transporte de equipamentos - os recursos ultrapassam a marca de R$ 20 milhões. "Isso ainda é muito pouco se comparamos com outros projetos. Temos de levar em conta que, além do progresso científico que o Brasil pode conquistar a partir desses estudos, também existe uma questão política, já que o nosso País pode se posicionar à frente no debate global sobre o futuro do continente antártico", afirma.

Sobre o Criosfera I

A estrutura de um módulo instalado no interior da Antártida é mais compacta que a de uma estação, que costuma ser habitada durante quase todo o ano. Com 2,5 m de largura, 6 m de comprimento e 2,8 m de altura, ele tem a função de abrigar os equipamentos, embora comporte também quatro pesquisadores.

O custo da estrutura, que foi fabricada na Suécia, ficou em torno de R$ 185 mil. Com os gastos em equipamentos e operação de transporte, a implantação do módulo brasileiro chega a R$ 930 mil, o que não é considerado um orçamento alto para os padrões de pesquisa no local. Caso não haja imprevistos, a instalação deverá funcionar por 15 anos.

O módulo ficará monitorando aerossóis, íons marinhos, diversos compostos orgânicos voláteis, gás carbônico, além das condições meteorológicas do local. Os dados serão transmitidos via satélite para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O único temor do pesquisador é que o frio extremo possa afetar a estrutura. "Tomamos todas as precauções para que não ocorram problemas, mas a temperatura onde o módulo foi instalado pode ultrapassar 60ºC negativos, o que pode comprometer os equipamentos", afirma o pesquisador. Mas tudo ocorrer como programado, em dezembro o Brasil mandará uma nova equipe para a Antártida para monitorar o estudo. "O nosso plano é ter mais um módulo lá em pouco tempo, mas isso ainda depende dos investimentos", completou.

Equipe de pesquisadores próximo ao primeiro módulo de pesquisa brasileira no interior da Antártida
Equipe de pesquisadores próximo ao primeiro módulo de pesquisa brasileira no interior da Antártida
Foto: Divulgação
Fonte: Terra
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