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Antártica: brasileiros driblam dificuldade e mantêm pesquisa

Estação Antártica Comandante Ferraz foi destruída por incêndio em fevereiro de 2012 e a nova estrutura, prevista para ser inaugurada no primeiro semestre de 2016, sequer saiu do papel

31 mar 2014 - 08h27
(atualizado às 08h39)
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Retomada em novembro, a pesquisa brasileira na Antártica se ressente da sua base no continente gelado, ainda que não registre, no momento, prejuízos significativos à ciência. A Estação Antártica Comandante Ferraz foi destruída por incêndio em fevereiro de 2012 e a nova estrutura, prevista para ser inaugurada no primeiro semestre de 2016, sequer saiu do papel: a primeira licitação, estimada em R$ 145 milhões, não teve interessados.

À espera das novas instalações, os trabalhos científicos prosseguem nos chamados Módulos Antárticos Emergenciais (MAEs). São dois laboratórios - módulo de química e multiuso -, equipados com infraestrutura básica: capela de exaustão, estufas para secagem, destilador, geladeira, freezer, autoclave e balança analítica. Há também alojamentos com dormitórios, cozinha, refeitório, enfermaria, lavanderia e sala para ginástica. Outros dois módulos específicos são destinados à pesquisas sobre a atmosfera.

Para Theresinha, os fortes ventos e temperaturas negativas também foram os maiores obstáculos da pesquisa
Para Theresinha, os fortes ventos e temperaturas negativas também foram os maiores obstáculos da pesquisa
Foto: Theresinha Monteiro Absher/Arquivo Pessoal / Divulgação

Conforme Theresinha Monteiro Absher, doutora em Oceanografia Biológica e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os MAEs têm proporcionado estrutura suficiente de apoio aos projetos e permanência de pesquisadores. Oferecem, contudo, condições restritas e comportam grupos menores de cientistas.

A opinião é compartilhada pela doutora em Química Rosalinda Montone, professora do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). “Passamos de sete para dois laboratórios, exceto os da área de atmosfera, o que reduz o espaço efetivo de trabalho”, avalia.

Atualmente, apenas 15 de 50 cientistas podem permanecer conjuntamente na Antártica. Ainda assim, por vezes, surge a necessidade de improvisos, como no revezamento de bancadas para uso dos computadores, o que exige a colaboração entre os colegas. “As tomadas e escrivaninhas também foram utilizadas irmanamente”, relata.

As restrições se estendem aos trabalhos de campo, já que faltam laboratórios, veículos e embarcações. “Projetos que precisam sair para o mar na baía em frente à base precisam de botes”, exemplifica Jair Putzke, doutor em Botânica e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul. Outra deficiência apontada por ele é relativa ao suporte logístico, que conta com dois navios de apoio e uma aeronave para ligação aérea. “Os equipamentos têm tido muitos problemas e precisam ser melhorados”, afirma.

As mudanças climáticas no continente gelado e como elas afetam a vegetação são objeto de estudo de Putzke
As mudanças climáticas no continente gelado e como elas afetam a vegetação são objeto de estudo de Putzke
Foto: Jair Putzke/Arquivo Pessoal / Divulgação

A reivindicação é por um novo avião de apoio - servindo também para missões no Brasil - e um navio quebra-gelo. “Precisamos ir mais ao sul na Antártica e nos instalarmos em mais pontos para pesquisa”, argumenta. O investimento, segundo Putzke, é necessário para incentivar uma atividade científica notável, mesmo que executada com estrutura reconhecidamente menor que a de outros países, como Argentina e Chile, os quais mantêm sete e seis bases no local, respectivamente.

Clima

Para muitas pesquisas, no entanto, as principais dificuldades são relacionadas a condições climáticas inadequadas para os trabalhos de campo. Foi o que ocorreu na mais recente fase da pesquisa de Rosalinda, que envolveu a coleta de solos, sedimentos e vegetação para avaliação ambiental. Segundo ela, essa foi uma etapa crucial para o projeto. “A ocorrência de erros ou tratamento inadequado das amostras pode comprometer seriamente a validade dos resultados”, pondera.

Para a pesquisa de Theresinha, que coleta organismos no mar por meio de embarcações, os fortes ventos e temperaturas negativas também foram os maiores obstáculos. “Estamos utilizando o Laboratório de Química, que não foi danificado pelo incêndio, para o armazenamento e preparação do material coletado para envio ao Brasil”, explica. No País, as amostras coletadas na Antártica passam por triagem, quantificação e análise.

As mudanças climáticas no continente gelado e como elas afetam a vegetação são objeto de estudo de Putzke. Seu trabalho abrange também o entendimento da relação da vegetação com animais e o clima, compreendendo a sucessão vegetal na Antártica e desvendando a composição florística. “Temos substâncias promissoras até para o tratamento do câncer”, adianta.

As atividades de pesquisa sobre a vegetação antártica são realizadas em penínsulas da ilha Rei George ou em outras quatro ilhas do continente - em áreas onde o mar está três graus mais quente -, geralmente fazendo uso de acampamentos ou da estrutura de outros países, como a base argentina Teniente Camara. “O acampamento permite maior mobilidade e, apesar do pouco conforto, mais informações para o nosso projeto”, conclui.

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