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Pequeno zoológico em Gaza leva alegria à castigada cidade de Rafah

14 dez 2015 - 09h59
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Quando Fathi Gomaa, um morador de Rafah, ao sul de Gaza, tinha 15 anos, começou a ganhar a vida com a criação e venda de pássaros à Cisjordânia e Jordânia, mas nunca imaginou que 30 anos depois teria seu próprio zoológico em casa.

Embora o bloqueio israelense, apoiado pelo Egito e que asfixia a Faixa há oito anos tenha conseguido fazer com que o desespero, a pobreza e a frustração tomassem conta da população, Gomaa leva esperança e alegria ao coração de muita gente com sua tentativa - em forma de zoológico - de libertá-la da amarga realidade.

Sua casa, no bairro de Al Barazeel, perto da fronteira que separa Gaza do Egito, foi bombardeada e destruída por aviões e artilharia israelense no ano passado, durante os 50 dias de conflito entre Israel e as milícias armadas palestinas no enclave.

"Quando precisei renovar a casa, tive uma ideia. No pátio de trás, tenho um pequeno pedaço de terra. Pensei em transformá-lo em um mini-zoológico que servisse para atrair as crianças e apoiá-las na recuperação do trauma após a guerra. E além disso, que me ajudasse a ganhar a vida", contou Gomaa à Agência Efe.

Este pai de cinco filhos, desempregado há muito tempo, pôs as mãos à obra e começou a recolher os animais mais peculiares que encontrou. A grande maioria veio da África e foi criada em zoológicos locais.

Em algum momento eles tinham fugido ou sido feridos durante um dos três conflitos com Israel que nos últimos seis anos provocaram uma grande deterioração das infraestruturas da Faixa e afogaram qualquer possibilidade de desenvolvimento econômico.

"Antes de o Egito fechar e destruir os túneis escavados na fronteira, os contrabandistas trouxeram a Gaza vários tipos de animais, como macacos, leões, hienas, serpentes, papagaios e avestruzes", lembrou Gomaa.

Oito zoológicos apareceram gradualmente a partir de 2007, quando o movimento islamita Hamas tomou o controle da Faixa, e Israel impôs um ferrenho bloqueio sobre o enclave.

Nesse momento os palestinos iniciaram a estratégia dos túneis para desafiar o cerco israelense, e alguns homens de negócios assumiram iniciativas como esta.

"Muitos animais morreram nas guerras, outros ficaram feridos e os leões que tínhamos foram levados para um zoológico na Jordânia", resumiu Gomaa.

"Sou um apaixonado pelos animais e me encanta a ideia de colecioná-los, mas muitos dos que sobreviveram e outros que foram feridos precisam de tratamento médico", lamentou.

Gomaa usou parte de suas economias e pediu algum dinheiro emprestado a parentes e amigos para adquirir uma ampla variedade dos animais que ainda estavam em Gaza, e construiu jaulas para todos eles.

E logo crianças e adultos começaram a visitar seu parque de animais.

"Era incrível. Nunca teria imaginado dúzias de famílias com muitas crianças visitando o zoológico diariamente. Eles estão felizes", contou, com os olhos brilhando.

Amal Barhoum é uma adolescente de 13 anos que vai frequentemente ao zoológico passar o tempo com suas colegas de escola.

"Fico muito feliz que estes animais e pássaros estejam vivos, porque nunca tinha visto um zoológico antes. Só tinha visto animais raros na televisão", contou.

Assim como os vizinhos, ela viveu tempos difíceis durante a ofensiva do ano passado porque Rafah foi uma das áreas mais afetadas pelos bombardeios e disparos dos tanques israelenses.

"Acho que matei dois coelhos com uma cajadada só", afirmou Gomaa.

"Consegui entreter as crianças e assim ajudá-las a superar seus traumas, e além disso ganho algum dinheiro com a entrada que os visitantes pagam", acrescentou.

Uma de suas últimas "aquisições" ficará fora das barras das jaulas e o ajudará a manter o bem-estar de seus animais e das instalações. Trata-se de seu filho Ahmad, de 22 anos, e recém-formado em enfermagem. Devido à taxa de desemprego da Faixa - uma das mais altas do mundo, segundo dados do Banco Mundial -, encontrar trabalho não foi tarefa fácil para ele, que decidiu então trabalhar lado a lado com seu pai neste projeto, agora um empreendimento familiar.

"O zoológico está em casa", comentou Ahmad enquanto passeava com uma grande serpente em seu pescoço. "É uma boa oportunidade para me manter ativo em vez de ser um recém-formado sem trabalho", frisou.

EFE   
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