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Pântano acolhe 90 espécies de aves no centro de Bucareste

11 out 2012 - 10h04
(atualizado às 12h46)
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Entre edifícios do período comunista e arranha-céus está situado, em pleno centro de Bucareste, o chamado "lago" de Vacaresti, um pântano abandonado que viu crescer entre os seus diques um ecossistema complexo de imenso valor natural e que nasceu como um projeto hidrológico do ditador Nicolae Ceausescu. Conhecido na Romênia como "o Delta entre os edifícios", por suas similaridades com o delta do rio Danúbio, o projeto hidrológico acolhe a cada ano, com a chegada do calor após o inverno, cerca de 90 espécies de aves pouco comuns, algumas delas protegidas.

O projeto hidrológico é herança do ditador Nicolae Ceausescu
O projeto hidrológico é herança do ditador Nicolae Ceausescu
Foto: EFE

Em seus quase 200 hectares de vegetação diversa e em seus pântanos alimentados por águas subterrâneas vivem, em um ecossistema estável, diferentes tipos de peixes, patos selvagens, cisnes, salamandras, cobras d'água, gaivotas e raposas, entre outras espécies. Consciente da sua importância para uma cidade poluída e populosa como Bucareste, o governo anunciou sua intenção de declará-lo nos próximos meses como uma área natural protegida.

Os ferventes partidários da ideia são as organizações de proteção do meio ambiente como a WWF e líderes da opinião pública como o conhecido jornalista e ativista Liviu Mihaiu. Cristian Lascu, redator chefe da revista National Geographic na Romênia, é um dos impulsores do projeto. "Seria uma área verde e um alvo turístico especial, um parque natural onde poderiam ser vistos os animais em seu meio natural", explica Lascu à Agência EFE. O governo espera receber dele e de outras pessoas implicadas toda a documentação científica, cartográfica e jurídica necessária, com o sinal verde da Academia Romena, para declarar a zona natural protegida, confirmou o Ministério do Meio Ambiente.

Mas a superfície de estudo é grande e complexa e são necessários especialistas nos diversos animais e tipos de vegetação para completar o relatório. "Não temos dinheiro nem tempo, todos temos nossas obrigações profissionais, porque fazemos isto por devoção, quando podemos", conta o jornalista especializado.

Contra os planos do governo e das ONGs estão os antigos proprietários dos terrenos que não receberam indenizações desde a desapropriação pelo regime comunista. Eles temem não receber nada pelas terras que foram suas e notificaram o Ministério do Meio Ambiente, que prometeu que estudará os seus casos.

Em um dia quente de setembro os carros e os bondes enchem as ruas que rodeiam o perímetro do pântano. Milhares de bucarestenses entram e saem dos edifícios e fazem suas compras nos shoppings a poucos metros do "Delta de Bucareste". Do outro lado dos diques de concreto, sob o ruído distante de motores e buzinas, domina o canto dos pássaros e o zumbido dos insetos. Alguns poucos curiosos passeiam com a câmera fotográfica em busca de animais, enquanto alguns aposentados pescam nas margens das lagoas."Mais que pescar, observamos os patos", disse à EFE um deles.

No centro do ecossistema vive em um barraco há 15 anos uma família cigana, que costuma pescar nas lagoas e vive entre os diques. Lascu gostaria que eles fossem empregados pelo parque natural caso sua ideia seja concretizada.

Em 1986, o tirano comunista Ceausescu começou as obras do pântano, que devia fazer parte de um sistema para evitar inundações na capital e recolher água. A revolução de 1989 provocou a queda e a morte de Ceausescu e interrompeu o projeto, que não foi retomado por nenhuma administração democrática. Agora, a inação dos governos romenos e a ação da natureza e de pessoas como Lascu podem dar às centenas de milhares de bucarestenses que vivem nos bairros hostis de concreto uma opção de recreação inédita, barata e acessível, basta pegar o bonde.

EFE   
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