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Estudo: palavra 'mãe' mostra que diversas línguas vieram da Turquia

Estudo: palavra 'mãe' mostra que diversas línguas vieram da Turquia

23 ago 2012 - 19h24
(atualizado às 19h59)
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A palavra "mãe" demonstra que foi na atual Turquia que se originaram centenas de línguas tão diversas, como o híndi, o espanhol, o russo, o holandês, o albanês e o inglês, segundo estudo publicado na edição desta quinta-feira da revista Science. Graças a um complexo modelo informático projetado originalmente para mapear epidemias, cientistas detalharam a evolução da família das línguas indo-europeias.

Semelhanças entre centenas de línguas faladas da Islândia à Índia deram lugar a acalorados debates sobre o local onde se originaram e o que sua propagação e evolução podem dizer sobre os primeiros humanos. A teoria dominante é que as línguas faladas atualmente por 3 bilhões de pessoas provêm de nômades da Idade do Bronze, que utilizaram cavalos e carroças para se espalhar ao leste e a oeste das estepes do norte do Mar Cáspio, perto da atual Ucrânia, de 5 mil a 6 mil anos atrás. Outros afirmam que foi a agricultura - e não o cavalo e a roda - que ajudou a difundir as línguas e apontam suas origens para a atual Turquia há 8 mil ou 9,5 mil anos.

Este último estudo publicado na Science usou uma enorme base de dados de palavras comuns ou afins, tanto modernas quanto antigas, e identificou as raízes da linguagem na atual Turquia e não nas estepes. "Este é um dos exemplos-chave propostos de que a agricultura é uma força importante na formação da diversidade linguística mundial", disse o autor principal do estudo, Quentin Atkinson, psicólogo evolutivo da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

Os resultados se baseiam em investigações arqueológicas e genéticas que sugeriram que a migração humana precoce ajudou a estimular a expansão da agricultura, afirmou Atkinson. "Não é que todos os caçadores-coletores estavam na Europa e olharam por cima da cerca e viram que seus vizinhos cultivavam e começaram a fazer o mesmo. Houve uma movimentação real de pessoas", disse. "Os idiomas sugerem que foi um movimento cultural também; os caçadores-coletores não estavam só arando, também estavam adotando uma cultura e uma língua", acrescentou.

O uso de métodos projetados originalmente pelos epidemiologistas para rastrear a linguagem faz sentido porque há tempos foram percebidas similaridades entre a evolução dos seres vivos e as línguas vivas, explicou Atkinson. "Darwin fala a respeito, em A Origem das Espécies e em A Origem do Homem; se refere a eles como 'estes curiosos paralelismos'", acrescentou.

Os biólogos que buscam a origem de uma pandemia tomam amostras em vários locais, sequenciam o DNA e fazem um mapa de como o vírus evoluiu ao longo do tempo, observando como seus genes foram modificados.

"Uma vez que se tem a árvore genealógica, é possível rastrear a origem em seus galhos", afirmou Atkinson durante entrevista por telefone. "O que fizemos foi aplicar o mesmo enfoque aos idiomas", emendou.

A equipe construiu uma base de dados de palavras afins, como ''madre'' em espanhol, ''mother'' em inglês, ''moeder'' em holandês, ''mat'' em russo, ''mitera'' em grego e ''mam'' em híndi. Em seguida criaram uma árvore genealógica dos idiomas, que os situava no tempo e no espaço e dava conta das perdas e danos de cognatos (termos com mesma origem etimológica, mas com evolução fonética distinta). Assim, concluíram que estes cognatos derivam da palavra proto-indoeuropeia "mehter". "É um grande avanço", disse o arqueólogo Colin Renfrew, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, em outro artigo publicado na Science.

Mas nem todo mundo está convencido. "Há tanto neste trabalho que é arbitrário", afirmou Victor Mair, especialista em idioma chinês da Universidade da Pensilvânia, à revista Science.

O modelo de Atkinson se baseia em saltos lógicos nas mudanças linguísticas e na forma como os idiomas se difundiram, disse Mair, enquanto a hipótese das estepes "se baseia em dados arqueológicos, como os padrões de enterro, que estão diretamente ligados a materiais datáveis".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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