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Anúncio do Cern é o evento mais importante em 30 anos, diz físico

4 jul 2012 - 08h04
(atualizado às 17h32)
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Diego Freire
Direto de São Paulo

Professores e alunos do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) acompanharam a conferência que ocorreu em Genebra, na Suíça, onde o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) anunciou resultados do LHC que mostram a descoberta de uma nova partícula que está muito próxima de ser o bóson de Higgs, ou "partícula de Deus", considerado crucial para entender a formação do Universo.

O CERN qualificou como um avanço 'histórico' a descoberta de uma nova partícula consistente com o Bosón de Higgs
O CERN qualificou como um avanço 'histórico' a descoberta de uma nova partícula consistente com o Bosón de Higgs
Foto: AFP

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O físico e professor do IFT da Unesp, Sérgio Novaes, que escreveu experimentos sobre o bóson de Higgs em 1982, falou direto da Austrália. "Eu não tenho dúvida que em termos de física de partículas é o evento mais importante dos últimos 30 anos. Espero que retome o caminho da vitalidade que essa área tinha e seja só o começo de novas descobertas", disse.

Quanto aos resultados apresentados por representantes de dois dos mais importantes detectores do LHC, o CMS e o Atlas, Novaes destacou a surpresa e excitação de todos. "Foi uma surpresa ver os dois oferecerem uma coisa tão alinhada", afirma.

Pedro Mercadante, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), membro do Centro Regional de Análise de São Paulo (SPRace) e do CMS Center, destaca a semelhança da partícula encontrada com o bóson de Higgs. "A partícula a princípio pode ser algo fora do modelo padrão, mas ela apresenta as características do mecanismo de Higgs", afirma.

Dr Hélio Takai trabalha na Brook Raven National Laboratory em Long Island, Nova York, e também participou da conferência em vídeo. "Era o resultado que já esperávamos, mas é só o começo", disse. "Isso ainda precisa ser explicado pelos cálculos do Modelo Padrão. É um trabalho que ainda vai levar mais alguns anos, eu acredito. Além disso, se o Higgs realmente tiver essa massa vai nos permitir explorar outras físicas. A gente vai poder prever a existência de outras partículas também", conclui.

A plateia na Unesp era composta por jornalistas, professores e dois alunos do curso de mestrado de Física de Partículas da própria universidade. O tema complexo, que poderia provocar bocejos em alguns, trazia encantamento para a dupla. Termos como bóson, fóton e sigmas eram absorvidos naturalmente e chegavam a "emocionar".

"É emocionante presenciar um evento histórico. É um dia que fecha 60 anos de pesquisa", conta Caio Laganá, 29 anos, que saiu de madrugada do bairro do Butantã para acompanhar o anúncio na universidade. "Valeu a pena. Mesmo eu já sabendo o que iam falar", brincou, lembrando que algumas das informações apresentadas vazaram em um vídeo publicado na internet um dia antes.

George Santos, 28 anos, também não se abalou com o horário, mesmo tendo uma prova marcada para poucas horas após o evento. "Posso dormir depois. Queria estar aqui, é um dia muito especial", comentou.

Vistos como centrados e sérios, os físicos conseguiram mostrar um lado diferente durante o evento. O bom humor esteve presente nas explicações do professor Pedro Mercadante, que comentava simultaneamente as conclusões dos relatórios dos experimentos dos grupos CMS Center e Atlas. A apresentação de Power Point simples dos cientistas não escapou a um comentário maldoso: "por que será que usam fonte Comic Sans?", se divertiu.

Nenhum físico, porém, arrancou mais risos dos presentes do que Hélio Takai, que falou com os colegas brasileiros por videoconferência, direto de Long Island (EUA). De pijama, na cozinha de casa, ele não conseguiu esconder a ansiedade por outro evento importante do dia: "as novas descobertas sobre o bóson de Higgs são emocionantes. Mas emocionado mesmo eu vou ficar hoje mais tarde, se o Corinthians ganhar a Libertadores".

O bóson de Higgs

O escocês Peter Higgs previu em um artigo publicado em 1964 no periódico científico Physical Review Letters que é uma partícula o que dá massa à matéria. Chamada de bóson de Higgs, em homenagem ao britânico, ela é mais conhecida como "partícula-Deus" ou "partícula de Deus" (esse segundo mais no Brasil) e seria a última peça no quebra-cabeça do Modelo Padrão, a teoria que descreve as partículas elementares.

Segundo o Modelo Padrão, os bósons são as partículas que interagem com outras e criam as forças fundamentais - forte e fraca, que atuam no núcleo atômico, e eletromagnética (há ainda a gravidade, para a qual alguns teóricos defendem existir o gráviton, ainda não comprovado). Higgs afirmou que a massa não seria das próprias partículas, mas resultado da ação de um bóson que reage mais com umas do que com outras.

Como isso ocorre? Os físicos explicam que as partículas colidem com o bóson de Higgs e ficam mais lentas, o que lhes dá massa - e isso difere elas das partículas de pura energia, como o fóton. Algumas colidem mais, outras menos, e isso explica a diferença na massa.

Tendo como primeiro objetivo achar o bóson de Higgs, o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) construiu o LHC, um dos experimentos científicos mais caros da história.

Fonte: Terra
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