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Sem solução à vista: número de detritos espaciais não para de crescer

17 jun 2012 - 17h04
(atualizado em 18/6/2012 às 10h33)
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Não é apenas no solo que falta espaço. Desde o Sputnik, primeiro satélite artificial, 38.357 objetos já entraram em órbita. O problema é que, dos 16.449 que ainda estão por lá, pouco mais de 1 mil são satélites operantes. E esse lixo espacial, composto por fragmentos e satélites desativados, tende a se multiplicar, devido às colisões entre os detritos e à falta de uma solução das agências espaciais.

Acredita-se que existam 16.449 objetos em órbita
Acredita-se que existam 16.449 objetos em órbita
Foto: Nasa / Divulgação

O entulho orbital, drama antigo, foi reforçado a partir de 2007. Naquele ano, a China destruiu um antigo satélite meteorológico com um míssil, em um teste bastante criticado. Dois anos mais tarde, um satélite russo e um satélite norte-americano se chocaram, na maior colisão em órbita terrestre. A agência espacial norte-americana (Nasa) estima que 1/3 dos detritos espaciais atualmente em órbita tenham se originado a partir desses impactos.

Um estudo de 2011, Limitando Futuros Riscos de Colisões a Espaçonaves, elaborado pelo Conselho de Pesquisa Nacional dos Estados Unidos e encomendado pela Nasa, infundiu ao tema um teor ainda mais urgente. O levantamento, com dados da Rede de Vigilância Espacial (SSN), detectou incremento considerável na quantidade de objetos espaciais de dezembro de 2006 a julho de 2011, de 9.949 para 16.094. Os detritos analisados pela SSN são aqueles que medem mais do que 10 cm. A Nasa estima que, de fragmentos entre 1 e 10 cm de diâmetro, existam mais de 500 mil. "O número de detritos orbitais atingiu um ponto extremo, em quantidade suficiente para a colisão contínua e a criação de ainda mais detritos, aumentando o risco de falhas em espaçonaves", publicou o estudo.

Esse aumento do número de detritos espaciais não decorreu apenas das colisões entre os objetos. "Nem todos os objetos lançados ao espaço são recuperados ou destruídos após cumprirem suas missões", lamenta o diretor de satélites, aplicações e desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira (AEB), Thyrso Villela Neto. "Alguns satélites, por exemplo, são enviados para 'órbitas cemitério' (longe dos satélites ativos). Outros, mesmo desativados, continuam em órbita e demoram muito tempo para chegarem naturalmente (devido ao atrito com a atmosfera) às camadas mais baixas da atmosfera e serem destruídos". A vida útil de cada satélite varia: um a dois anos para os científicos de pequenas dimensões, cinco anos para os de sensoriamento remoto, e até 15 anos para os geoestacionários de comunicação. Depois disso, viram lixo espacial.

Soluções para o lixo espacial

Apesar de reconhecerem o problema, as agências e os institutos de pesquisas espaciais não encontram meio de promover uma limpeza na órbita terrestre. "O aumento de detritos é preocupante, e ainda não há uma solução que seja técnica e economicamente viável", afirma o chefe do Laboratório de Integração e Testes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Petrônio Noronha de Souza.

"Este é hoje um dos desafios a serem enfrentados para garantir a sustentabilidade a longo prazo das atividades espaciais", escreveu José Montserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB, em artigo publicado pela Associação Brasileira de Direitos Aeronáutico e Espacial em fevereiro deste ano. "As principais órbitas usadas pelos países estão cada vez mais cheias de detritos espaciais, que põem em risco serviços de primeira necessidade prestados a partir do espaço para todos os países do mundo, como telecomunicações, observação dos recursos naturais da Terra, meteorologia, sistemas de localização e navegação (GPS), verificação do cumprimento dos acordos internacionais, redes de alerta, prevenção e mitigação de desastres naturais".

Várias alternativas foram estudadas. Entre elas, estão um veículo não tripulado que capturaria os detritos e os levaria para a "órbita cemitério" e um laser que visaria à diminuição da velocidade do objeto e a consequente queda para a atmosfera terrestre. Os fatores que impedem soluções como essas são o custo alto, a eficácia duvidosa e o risco inerente às operações.

Enquanto não se consegue uma solução definitiva, a ideia é não piorar o cenário atual. "A única medida possível no momento é reduzir a taxa de aumento do número de objetos em órbita, pela via da remoção dos antigos quando da sua reposição", diz Souza. Alternativas como a movimentação do satélite antigo para órbita cemitério, até sua completa remoção de órbita, e o seu posicionamento em órbita baixa, para a sua queda natural, são algumas das opções.

Riscos de colisões

Os riscos da propagação de detritos espaciais concentram-se, basicamente, em duas esferas: a destruição de satélites ativos e a ameaça a operações humanas no espaço. Os satélites e estações internacionais sofrem seguidamente impacto de partículas e objetos menores do que 10 cm, mas, diante de detritos maiores, teriam que ser desviados para evitar a colisão.

No fim de março, um pedaço de um antigo foguete russo levou pânico à Estação Espacial Internacional (ISS). Como o detrito foi detectado com pouco tempo de antecedência, não foi possível mover a estação e desviá-la. Assim, a tripulação teve de se refugiar em cápsulas de fuga de emergência. Segundo a agência espacial russa informou mais tarde, no entanto, o fragmento passou a uma distância de 23 quilômetros da estação. Em junho de 2011, o medo foi maior: um detrito chegou a 335 metros da plataforma.

Os donos do lixo espacial

Atualmente, existem 12.817 detritos maiores do que 10cm em órbita registrados pela SSN. Desse montante, 4.694 foram lançadas pela Rússia. O segundo lugar fica com os EUA, que acumulam 3.759. Em terceiro, a China, com 3.576. É principalmente para esses países que o estudo encomendado pela Nasa pode servir de alerta: "A mitigação (do problema) sozinha já se provou insuficiente, com o atual ambiente da Baixa Órbita Terrestre representando um perigo crescente para espaçonaves e astronautas".

Fonte: GHX Comunicação
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