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Parte do cérebro que processa fala não está onde se pensava

30 jan 2012 - 19h11
(atualizado às 20h30)
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A parte do cérebro humano que processa a fala se encontra localizada em uma seção diferente da que se acreditava, de acordo com um estudo americano publicado nesta segunda-feira, o que levou os cientistas a destacarem a necessidade de atualizar os textos médicos.

Durante muito tempo, acreditava-se que a área de Wernicke, que leva o nome do neurologista alemão que a definiu no final dos anos 1800, estivesse situada na parte posterior do córtex cerebral, atrás do córtex auditivo, que processa os sons.

Mas um estudo científico do Centro Médico da Universidade de Georgetown, em Washington, que levou em conta mais de 100 ressonâncias magnéticas, mostrou que a área de Wernicke está 3 cm mais próxima da parte frontal do cérebro e que está diante do córtex auditivo, e não atrás, como se acreditava.

"Os livros devem ser atualizados", disse o professor de neurociências Josef Rauschecker, principal autor do estudo, que foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Rauschecker e seus colegas basearam sua pesquisa em 115 estudos prévios que pesquisaram a percepção da fala e já usavam imagens de ressonância magnética (IMR) ou tomografias por emissão de pósitrons (PET em sua sigla em inglês).

Uma análise das imagens cerebrais do estudo mostrou a nova localização da área de Wernicke, dando uma nova perspectiva para tratar os pacientes que sofrem de dano cerebral ou embolia. "Se um paciente não pode falar ou entender a linguagem, agora temos uma boa pista sobre o lugar em que o dano foi produzido", disse Rauschecker.

A descoberta oferece ainda inquietantes dúvidas sobre as origens da linguagem dos humanos e dos primatas, cuja zona cerebral de processamento da linguagem se situa na mesma zona do que a nova área de Wernicke dos humanos. "Estas descobertas sugerem que a arquitetura e o processamento entre as duas espécies é mais similar do que as pessoas acreditavam", disse Rauschecker.

Outro dos principais autores do estudo, Iain DeWitt, um candidato a doutorado do Programa Interdisciplinar de Neurociências da Universidade de Georgetown, disse que o estudo confirma o que outros tinham descoberto desde que foi possível realizar imagens cerebrais no começo dos anos 90.

"A maioria dos especialistas em imagens cerebrais se recusava a contradizer um século de conhecimentos com base no que então era uma metodologia relativamente nova", disse. "O objetivo de nosso estudo é incentivar a reconciliação entre a informação (disponível) e a teoria", concluiu.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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