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Estudo que liga terapia hormonal a câncer de mama teria falhas

16 jan 2012 - 18h33
(atualizado às 19h44)
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Uma pesquisa revolucionária que estabeleceu vínculos entre o tratamento de reposição hormonal (TRH) para mulheres na menopausa e a incidência maior de câncer de mama está repleto de falhas, denuncia um novo estudo publicado nesta segunda-feira. A pesquisa, denominada Estudo Um Milhão de Mulheres (Million Women Study ou MWS), dominou as manchetes dos jornais quando foi publicada pela primeira vez, em 2003, mas agora recebe duras críticas de outro grupo de pesquisadores.

Aleisha foi a pessoa mais jovem a ter a doença diagnosticada
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Foto: Barcroft Media / Getty Images

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Baseado em questionários respondidos por mais de um milhão de mulheres na pós-menopausa na Grã-Bretanha, o estudo estabeleceu que a terapia de reposição hormonal (TRH) aumentava o risco de incidência de câncer de mama. Suas estimativas causaram uma onda de ansiedade e muita confusão entre entidades reguladoras, médicos e mulheres que fazem uso da TRH.

A terapia de reposição hormonal consiste no uso dos hormônios femininos estrogênio e progesterona, às vezes combinados, para aliviar os sintomas da menopausa, como ondas de calor, perda do apetite sexual e ressecamento vaginal.

Atualizações na pesquisa original refinaram os dados sobre o risco percebido. Segundo o site MWS, há um risco 30% maior de câncer em mulheres que fazem uso exclusivamente de estrogênio e duas vezes maior entre as que usam a terapia de estrogênio e progesterona em comparação com aquelas que não fazem uso destes medicamentos. O risco aumenta segundo o tempo em que a mulher faz uso do tratamento hormonal, mas cai para o nível normal no prazo de cinco anos após a interrupção, destaca o MWS.

Mas uma avaliação publicada na edição desta segunda-feira do periódico Journal of Family Planning and Reproductive Health diz que o desenho do estudo MWS tem tantos problemas que uma conclusão segura não poderia derivar dele. "A TRH pode ou não aumentar o risco de câncer de mama, mas a MWS não estabeleceu que o faça", aponta o artigo.

Em meio à meia dúzia de tópicos, os autores afirmam que os cânceres detectados alguns meses após o início do estudo já estariam presentes quando as mulheres aderiram à pesquisa. Mas estes casos não foram excluídos da contagem de incidências da doença, destacaram.

A revista também aponta para "uma detecção tendenciosa" através da escolha das participantes. As voluntárias integravam um programa de check-up das mamas quando foram convidadas a participar do estudo. Por este motivo, elas já teriam conhecimento sobre nódulos mamários ou lesões suspeitas relacionadas ao câncer de mama. Como resultado, o MWS encontrou uma incidência 40% maior de câncer de mama entre as voluntárias - independentemente de terem feito uso ou não de terapia hormonal - em comparação com a população em geral.

O artigo também destacou que os cânceres de mama normalmente levam muitos anos para se desenvolverem. Portanto, seria "biologicamente improvável" que tantos casos tenham aparecido no prazo de um ano ou dois em que as voluntárias participaram do estudo, como sustentou o MWS. "O nome ''Estudo Um Milhão de Mulheres'' sugere uma autoridade, além da crítica ou refutação", afirmam os autores, chefiados por Samuel Shapiro, professor de saúde pública da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul. "Contudo, a validade de qualquer estudo depende da qualidade de seu desenho, execução, análise e interpretação. O tamanho por si só não garante que as descobertas são confiáveis", acrescentou.

Os responsáveis pelo estudo MWS refutaram as críticas, afirmando que mais de 20 estudos replicaram suas descobertas e que um declínio no uso de TRH levou a uma queda nos casos de câncer de mama. "Cânceres sensíveis a hormônios ainda são três vezes mais comuns em usuárias de TRH do que em ex-usuárias ou não usuárias", disse Richard Peto, professor de estatística e epidemiologia da Universidade de Oxford.

A comentarista independente Anne Gombel, professora francesa que é membro da Sociedade Internacional da Menopausa, afirma que emerge um panorama mais complexo sobre o câncer de mama. A densidade dos seios, o álcool e a obesidade, e não apenas a TRH, agora são fatores de risco que devem ser levados em conta, e não apenas a TRH, disse Gombel. "A TRH não traz os mesmos riscos e benefícios para todas as mulheres. Algumas mulheres terão riscos aumentados, outras terão só benefícios, e isto também se aplica ao câncer de mama", acrescentou.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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