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Estudo: invernos estão mais frios porque faz mais calor

22 dez 2010 - 12h04
(atualizado às 12h25)
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Estudo publicado no

Milhares de águas-vivas e caravelas portuguesas invadiram as praias espanholas
Milhares de águas-vivas e caravelas portuguesas invadiram as praias espanholas
Foto: AP
Journal de Recherche Géophysique

indica que, apesar de parecer estranho, os inclementes invernos que assolam a Europa há dez anos estão relacionados, em grande parte, ao aquecimento climático,

À primeira vista, o frio glacial que atinge a Europa parece pouco compatível com a alta média das temperaturas previstas para antes do fim do século, e que poderá alcançar um aumento de 5°C ou 6°C. Para os céticos que alegam que a mudança climática não existe porque os invernos são cada vez mais frios, vários cientistas respondem que estas ondas de frio são um esfriamento temporário, parte do aquecimento global.

O novo estudo, no entanto, vai mais longe e mostra que a alta dos termômetros é precisamente a origem destes invernos nevados e tão frios. A causa seria o degelo da calota glacial ártica.

O aquecimento, duas ou três vezes superior à média global, provocou sua redução de 20% nestes últimos 30 anos. Esta calota pode, inclusive, desaparecer totalmente durante os meses de verão antes do fim do século. Isso permitiu que a força radioativa do Sol fosse mais absorvida pelo mar do que refletida para o espaço pelo gelo e neve, acelerando o processo de aquecimento. Isso afeta os sistemas de pressão, criando uma fonte maciça de calor durante os meses de inverno.

"Digamos que o oceano esteja a 0°C", explica Stefan Rahmstorf, especialista em clima do prestigiado Instituto Potsdam (Alemanha), que pesquisa o impacto das mudanças climáticas. "O oceano está muito mais quente que o ar ambiente nesta zona polar no inverno. Há então um fluxo quente que sobe para a atmosfera, o que normalmente você não tem quando tudo está coberto de gelo. É uma mudança extraordinária", acrescenta.

O resultado, segundo o estudo, é um sistema de altas pressões que empurra o ar polar no sentido anti-horário, na direção da Europa. "Estas anomalias podem triplicar a probabilidade de haver invernos extremos na Europa e no norte da Ásia", indica o físico Vladimir Petujov, que coordenou o estudo.

Outras explicações para estes invernos atípicos, como uma baixa da atividade solar ou as mudanças na Corrente do Golfo, "tendem a exagerar os efeitos", acrescenta Petujov. Além disso, o especialista destaca que no inverno glacial de 2005-2006, quando as temperaturas caíram 10°C em relação às habituais na Sibéria, não foi constatada nenhuma anomalia na oscilação norte-atlântica, um fenômeno meteorológico sugerido como possível explicação desses invernos inclementes.

Os cientistas assinalam que estes invernos tão frios na Europa não refletem a tendência global constatada no planeta, já que 2010 deve ser um dos três anos mais quentes da história. "Quando olho pela minha janela, vejo 30 cm de neve e o termômetro diz -14 graus", conta Rahmstorf, falando por telefone em Potsdam, e acrescenta: "Ao mesmo tempo, na Groenlândia, estamos acima de zero em dezembro".

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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