Cientistas: furor sobre descoberta da Nasa é injustificável
18 dez2010 - 08h50
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Angela Joenck Pinto
No início de dezembro, o mundo viveu alguns dias de suspense. A Nasa anunciava a divulgação de uma descoberta que iria "impactar a busca por vida extraterrestre". Enquanto muitos esperavam a descoberta de vida fora do nosso planeta, a espera acabou no dia 2 de dezembro, quando a agência espacial americana anunciou ter encontrado, na Terra, uma bactéria que fugiu do conceito de vida que conhecemos: ela usaria arsênio no lugar de fósforo, algo nunca antes visto. Contudo, mal a pesquisa foi divulgada, muitos cientistas publicaram críticas em blogs e sites. "Como foi possível observar, o anuncio da Nasa resultou em enorme furor, em grande parte injustificável", diz Beny Spira, professor do departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).
Astrônomo explica descoberta de vida feita pela Nasa:
Rosie Redfield, professora de microbiologia da Universidade de British Columbia, no Canadá, por exemplo, afirmava que os pesquisadores podem ter se enganado, já que poderia haver "fósforo contaminante" nos experimentos. "Não que a pesquisa não tenha mérito ou que esteja completamente equivocada, mas a alegação de que a bactéria trocou o elemento P por A para a construção de suas moléculas fundamentais precisa ser melhor fundamentada", explica Spira. "Veja bem, algumas bactérias conseguem crescer com quantidades ínfimas de fósforo no meio, inclusive espécies que estudamos aqui no laboratório, como Chromobacterium violaceum e Pseudomonas aeruginosa, que crescem praticamente sem a adição de P no meio cultura. Como isto é possível? Não sabemos exatamente, mas a presença de traços de P em outros nutrientes adicionados ao meio é certamente um fator, e as vezes é suficiente para permitir o crescimento de uma população de bactérias".
Outro fator seria a presença de fontes internas de fósforo. "É sabido que muitas bactérias, senão todas, acumulam polifosfato, que é um polímero composto por moléculas de fosfato (PO4) interligadas, e uma das funções do polifosfato é servir de fonte de fósforo em caso de necessidade. Algumas bactérias acumulam quantidades absurdas deste polímero", diz o professor. "Outra coisa que deve ficar clara é o fato de que muitas bactérias conseguem transportar e acumular arsênio em seu interior, sem que isto resulte em sua morte. Isto não significa que estas bactérias utilizem o elemento para alguma coisa, mas que o contato com arsênio na natureza e sua captação pelas bactérias não é novidade. Já o artigo tem a pretensão de afirmar que a bactéria utiliza arsênio para construir suas macromoléculas, algo realmente inusitado", disse.
Embate alimenta a Ciência Já para Douglas Galante, coordenador do laboratório de Astrobiologia da USP, críticas são naturais no mundo da ciência, que se alimenta do embate de ideias. "Nesse caso, como as implicações do estudo podem ser muito grandes, ele será realmente muito contestado e posto à prova", disse. "A maior crítica que está sendo feita é que o estudo é preliminar. De fato, nesse trabalho os pesquisadores não mostram com certeza absoluta que o arsênio está sendo incorporado ao DNA, formando sua estrutura, no lugar do fósforo. Eles fornecem experimentos que dão indicativos disso, e deixam claro que novos estudos são necessários".
Para Galante, a única certeza oferecida pela descoberta da Nasa é que o arsênio está presente no ambiente intracelular, e os indícios mostrados são suficientes para incentivarem mais estudos que mostrem se de fato a bactéria está usando ou não este elemento no lugar do fósforo. "Isso está sendo feito, pelo grupo da Dra Wolfe-Simon (Nasa) e por outros. E com toda essa controvérsia, certamente muitos outros cientistas irão testar essa bactéria até que uma resposta definitiva - dentro das possibilidades dos critérios científicos - seja obtida", falou o astrobiólogo.
Estratégia de publicidade Outros críticos questionam se a Nasa deveria divulgar com tanto alarde um estudo preliminar, que possivelmente pode conter falhas. "Foi uma estratégia de publicidade da agência norte-americana, que teve grande sucesso, pois atraiu a atenção da mídia e do público para questões fundamentais da Ciência e sobre nosso lugar no Universo, e fomentou um saudável debate sobre essas questões, tanto no meio acadêmico quanto entre o público em geral, o que é sempre produtivo e enriquecedor", diz Galante.
O cientista reforça, porém, que descobertas são sempre passíveis de contestação. "Não há uma verdade absoluta. De tempos em tempos somos obrigados a rever nosso entendimento de mundo e avançar na busca do conhecimento. E muitas vezes erramos, mas o bom da Ciência é que ela é capaz de identificar os próprios erros de maneira objetiva - certamente, depois de tanta divulgação, teremos uma enxurrada de artigos mostrando se o experimento da Nasa estava errado", declarou.
Se este for mesmo o caso, os estudiosos terão que voltar à definição de vida baseada em CHONPS (carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre). "Mas, pelo menos, teremos aprendido muito pelo caminho. Agora, se a pesquisa se mostrar correta, essa descoberta terá grande impacto sobre nosso conhecimento da vida. Porém, como diria Carl Sagan, 'afirmações excepcionais requerem provas excepcionais'. E ainda teremos que esperar um pouco por essas provas", completou.
Recentemente, diversos trabalhos de biólogos que terminaram em descoberta de novas espécies foram divulgados. Muitos dos animais encontrados chamavam a atenção pela bizarrice, feiura ou até mesmo por espantar alguns dos pesquisadores. Conheça algumas das mais estranhas descobertas feitas recentemente
Foto: Divulgação
Anteriormente já visto, mas nunca descrito, este morcego se alimenta de frutas e é natural de Papua. Não possui nome ainda, mas já foi encontrado em outras regiões do país além das montanhas Nakanai
Foto: Conservation International / Divulgação
Cientistas da Conservação Internacional descobriram 200 novas espécies na Papua Nova Guiné, Dentre as 20 novas espécies de gafanhotos, está o Tettigoniidae Agraeciinae, que mede entre 40 e 45 mm
Foto: Conservation International / Divulgação
Todas as espécies foram encontradas nas montanhas Nakanai, na Papua. Este sapo, do gênero Platymantis, vive apenas em regiões de grande altitude nas florestas tropicais das montanhas
Foto: Conservation International / Divulgação
Outro gênero de Tettigoniidae Agraeciinae encontrado é este gafanhoto que vive nas vegetações baixas das montanhas da Papua. Mede entre 30 e 40 mm
Foto: Conservation International / Divulgação
O Spinisternum sp. 5 é um gafanhoto marrom escuro com garras brancas. Foi o exemplar de gafanhoto mais encontrado entre as novas espécies
Foto: Conservation International / Divulgação
Mais um sapo descoberto é o Litoria, que vive em regiões de altitude média de 850 m na Papua
Foto: Conservation International / Divulgação
O pequeno rato descoberto na possui apenas 2 cm representa uma nova espécie e novo gênero. Segundo os cientistas, há diversas outras áreas da Papua Nova Guiné que seguem inexploradas, pois não há como acessá-las
Foto: Conservation International / Divulgação
O gafanhoto Spinisternum sp. 4 mede entre 30 e 35 mm
Foto: Conservation International / Divulgação
Este sapo do gênero Platymantis mede apenas 25 mm e é visto entre 5h e 11h e no pôr do sol, ao contrário da maioria dos sapos, que costumam aparecer à noite
Foto: Conservation International / Divulgação
O pequeno Ceratobratrachid vive em elevadas regiões das montanhas e pode representar um novo gênero
Foto: Conservation International / Divulgação
Entre as plantas descobertas, um novo gênero de Rhododendron foi encontrado em abundância nas montanhas, o que sugere que há muito o que explorar ainda
Foto: Conservation International / Divulgação
Durante pesquisas encerradas em 2009, cientistas da Conservação Internacional descobriram 200 novas espécies de animais e plantas na Papua Nova Guiné. Considerada pelos cientistas a espécie mais bonita localizada, o gafanhoto de olhos rosa vive nas árvores mais altas, o que o torna difícil de ser estudado
Foto: Conservation International / Divulgação
Uma das espécies encontradas em 2010 foi este colorido sapo. Os machos são mais vistos quando produzem som para atrair fêmeas da vizinhança
Foto: Conservation International / Divulgação
As formigas líderes desta espécie descoberta possuem cabeças sete vezes maiores do que as formigas operárias. As grandes mandíbulas são controladas por poderosos músculos, que as permitem partir alimentos mais facilmente
Foto: Conservation International / Divulgação
O Mossula, nova espécie de gafanhoto, possui interessante sistema de defesa. Suas garras posteriores são grandes e espinhosas, e quando o gafanhoto é atacado as coloca por cima da cabeça, dando golpes para se proteger
Foto: Conservation International / Divulgação
Este sapo vive 30 metros abaixo do nível da terra e seus machos anunciam sua presença com alto coaxado
Foto: Conservation International / Divulgação
Pequeno o suficiente para sentar em uma unha do polegar humano, este sapo camufla-se facilmente em pedras
Foto: Conservation International / Divulgação
A Strumigenys bateu o recorde de altitude em que vive dentre todas as formigas já encontradas na Papua Nova Guiné. Ela vive a 2,9 mil metros
Foto: Conservation International / Divulgação
O peixe-drácula (Danionella dracula), descoberto em um pequeno rio de Mianmar, mede apenas 1,7 centímetros e tem dentes que lembram os de um vampiro
Foto: BBC Brasil
O censo marinho durou dez anos e resultou na descoberta de milhares de novas espécies exóticas, entre elas a Alviniconcha sp, que vive no Japão
Foto: Reuters
O verme Vigtorniella sp também foi encontrado no Japão, na baía de Sagami, a 925 m. O Censo da Vida Marinha divulgou nesta segunda-feira, após 10 anos de trabalho, seus resultados. Foram cerca de 120 mil espécies registradas, sendo que até 6 mil podem ser novas - 1,2 mil foram confirmadas como descobertas pelo projeto
Foto: Reuters
O Ceratonotus steiningeri foi descoberto a 5,4 mil m de profundidade em 2006 em Angola
Foto: Reuters
A Lambis chiragra, que está na Lista Vermelha de espécies ameaçadas como "vulnerável", vive em Cingapura
Foto: Divulgação
O Censo da Vida Marinha divulgou dados sobre 10 anos de trabalho conjunto com instituições de pesquisa de todo o planeta. Entre as novas descobertas, está a de que o Japão e a Austrália têm a maior biodiversidade marinha e o Mediterrâneo é o mar mais ameaçado do mundo. Confira imagens de animais observados. O Phronoma sedentaria vive dentro de outro animal que tem forma de barril
Foto: Divulgação
Este peixe-anjo rainha foi registrado próximo ao vazamento de óleo no Golfo do México
Foto: Divulgação
Este polvo de águas profundas vive a 2,7 mil m de profundidade no Golfo do México
Foto: Divulgação
Esta anêmona do mar da espécie Actinoscyphia sp fecha seu tentáculos para capturar presas ou se proteger
Foto: Divulgação
O peixe sargaço se esconde na alga que lhe dá nome
Foto: Divulgação
O caranguejo yeti recebeu esse nome por causa da aparência peluda. O animal pertence a uma nova família descoberta durante o censo. Este espécime foi coletado a 2.228 m de profundidade
Foto: Divulgação
Detectores acústicos ajudaram a registrar a passagem de peixes migratórios e traçar suas rotas
Foto: Divulgação
Este pterópode foi capturado na Austrália
Foto: Divulgação
Ouriço-do-mar foi encontrado na Austrália
Foto: Divulgação
Alga vermelha foi vista na ilha de Heron
Foto: Divulgação
Nova espécie de epímera tem apenas 25 mm e foi descoberta na Antártida
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Ascídias são vistas na Alemanha
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Esponja de vidro é vista na Alemanha. Pesquisadores acreditam que esses animais, devido ao seu tamanho e lento crescimento, existiam antes do aparecimento de uma camada de gelo que existia no local, e sobreviveram a ela
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Pepinos do mar de água profunda são vistos na Alemanha
Foto: Divulgação
Parte inferior de uma estrela-do-mar Nardoa rosea é vista de perto na ilha de Heron
Foto: Divulgação
Esta nova espécie de lula foi descoberta na região central do Atlântico
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Este coral transparente também foi visto na Austrália
Foto: Divulgação
Este caranguejo foi visto no coral da ilha Heron
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Sabelídeo é registrado no mar australiano
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Poliqueta é vista em um coral australiano
Foto: Divulgação
Esta lesma também foi registrada na ilha Heron
Foto: Divulgação
Lesma do mar é vista na ilha Heron, na Austrália
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Os chocos também foram estudados pelo Censo
Foto: Divulgação
Este caranguejo foi observado em 2005
Foto: Divulgação
Pesquisadores da Nova Zelândia seguram estrelas-do-mar Macroptychaster gigantes. Esses animais podem chegar a 60 cm de diâmetro
Foto: Divulgação
Diversas espécies de polvo foram observadas na Antártida
Foto: Divulgação
Este Lima sp, uma espécie de molusco, foi fotografado durante uma expedição à ilha Ningaloo, na Austrália
Foto: Divulgação
A água-viva Aequorea macrodactyla vive nas águas mornas do leste do Pacífico
Foto: Divulgação
Águas-vivas coloniais foram vistas na Austrália
Foto: Divulgação
Apesar da cor, o verme árvore de Natal merece o nome
Foto: Divulgação
Esta é o único Laurentaeglyphea neocaledonica registrado vivo. Acreditava-se que a espécie estava extinta há 50 milhões de anos
Foto: Divulgação
Veículo operado a distância mede a temperatura da água. O equipamento foi responsável, em 2006, pela temperatura mais alta registrada no mar: 407°C
Foto: Divulgação
Imagem registrada na Nova Zelândia mostra uma estrela-do-mar (laranja) em um coral se alimentando de microrganismos em corrente marítima
Foto: Divulgação
Este ouriço-do-mar foi registrado na Antártida
Foto: Divulgação
Este chicote do mar intrigou os pesquisadores, que passaram um bom tempo tentando examinar os diversos organismos que viviam associados a este único animal
Foto: Divulgação
Estrela-do-mar é registrada na baía Cobscook, no Maine, Estados Unidos, em 2007
Foto: Divulgação
Esta estrela-do-mar também foi registrada
Foto: Divulgação
Aranha do mar macho carrega ovo em apêndices adaptados na parte inferior de seu corpo. Esta é uma das muitas possíveis novas espécies da Antártida. Os pesquisadores do Censo tentam entender a evolução desses curiosos animais
Foto: Divulgação
O sangue do peixe de gelo da Antártida é adaptado para não congelar em baixas temperaturas, por isso, não tem hemoglobina nem células vermelhas que dão cor ao sangue. Na mesma imagem, podem ser vistas estrelas-do-mar amarelas
Foto: Divulgação
Esta esponja gigante foi uma das espécies encontradas na expedição
Foto: EFE
Este pepino do mar transparente, chamado de Enypniastes, rasteja para a frente com seus tentáculos a uma velocidade de aproximadamente 2 cm por minuto, enquanto varre os detritos de sedimentos com sua boca. A espécie vive a 2.750 metros de profundidade no Norte Golfo do México
Foto: AP
Um novo copépode, da família dos crustáceos, foi descoberto no fundo de abismos no Oceano Atlântico e foi incluído no catálogo do Censo da Vida Marinha, que se apresentaram uma nova lista da vida nos oceanos
Foto: EFE
Este octópode de dois metros de comprimento e seis quilos de peso vive a uma profundidade de 1,5 km no oceano do Atlântico. Ele ganhou o apelido de "Dumbo" pela barbatana em forma de longas orelhas que utiliza para navegar
Foto: EFE
Esta bizarra criatura foi registrada durante uma expedição científica na região de Sangihe Talaud, na Indonésia
Foto: AP
Esse sapo pertence à espécie Microhyla nepenthicola, descoberta em Sarawak, na Malásia. O minúsculo animal tem cerca de 3 mm quando girino e entre 9 e 11 mm quando adulto. É considerado a menor espécie de sapo da Ásia
Foto: AFP
Câmera automática registra o que pesquisadores acreditam ser nova espécie de musaranho-elefante, na floresta Boni-Dodori, no Quênia. Apesar do tamanho, o animal é considerado mais próximo dos elefantes do que dos musaranhos