Pesquisadora: nova bactéria pode ser forma primitiva da vida
4 dez2010 - 20h40
(atualizado em 5/12/2010 às 11h31)
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Lígia Hougland
Direto de Washington
A astrobióloga do Centro Goddard, da Nasa, Pamela G. Conrad, acredita que a nova forma de vida descoberta por cientistas americanos pode ser uma espécie de vida primitiva, uma das primeiras "tentativas" para os seres vivos que se desenvolveram depois. Pamela esteve presente no anúncio oficial da descoberta, na quinta-feira, na sede da Nasa. Em entrevista ao Terra, a astrobióloga afirma que nas primeiras biomoléculas, tanto o DNA quando outras moléculas básicas dos seres vivos, podem ter "experimentado" diversos elementos químicos para sua formação básica.
Astrônomo explica descoberta de vida feita pela Nasa:
"Por exemplo, o composto de arsênio não é apenas o metal arsênio, mas é arsênio com oxigênio. Chamamos de arseniato. É muito menos estável quimicamente do que o típico grupo de elementos químicos que se encontra no DNA, chamado fosfato. Portanto, é possível que tenhamos começado por fazer biomoléculas com elementos químicos instáveis como o arseniato e outros. Mas, conforme as moléculas foram aleatoriamente formadas, se degeneraram, e foram novamente formadas, aquelas com elementos mais estáveis foram as que persistiram. Assim, é possível que este micro-organismo seja uma molécula mais primitiva. Mas pode ser uma de muitas", disse a pesquisadora.
A bactéria descoberta pelos pesquisadores é considerada diferente de todos os demais seres vivos conhecidos. Carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre são os seis elementos básicos de todas as formas de vida na Terra. Fósforo é parte da estrutura do DNA e do RNA, as estruturas que transportam as instruções genéticas da vida e é considerado um elemento essencial para todas as células vivas. A bactéria encontrada tem no lugar do fósforo o arsênio, um elemento químico tóxico para os demais seres vivos.
Questionada se os pesquisadores criaram ou alteraram de alguma forma a bactéria, Pamela diz que não. "Ninguém criou nada novo. É algo que já existia neste lago incomum e foi agora observado. Nada foi alterado, foi apenas observado algo que já existia na natureza."
Segundo a Nasa, a descoberta amplia o escopo de busca por vida fora da Terra e vai mudar os livros de Ciência. "Ao procurarmos por vida, tentamos reconhecer a química e a estrutura que basicamente definem a vida. (...) Há seis elementos que normalmente vemos associados à vida: hidrogênio, carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. Estes seis elementos são universalmente constantes na vida. Mas, quando vemos um organismo com um elemento como o arsênio, pensamos que o arsênio é tóxico e, portanto, provavelmente, não pode haver vida. A partir de agora, quando vermos arsênio, teremos de pensar que pode haver um tipo de vida que use esse elemento químico", diz a astrobióloga.
Por outro lado, teorias já indicavam a possibilidade de que outros elementos químicos poderiam se combinar para formar vida. "A novidade é que agora temos algo específico que podemos observar, e podemos tentar aprender com a estratégia que esse tipo de vida usa a fim de determinar que tipo de caminhos químicos ela pode usar para processar o que está disponível no meio ambiente."
"Nunca havíamos observado algo que incorporasse um elemento químico alternativo ao DNA, a molécula que grava instruções para que os organismos se reproduzam. Se o que foi descoberto se provar estável e pudermos observar isso de forma reproduzível, veremos que esse tipo de molécula não é tão exclusiva, e que talvez possa incorporar outros elementos químicos. Portanto, ao estudarmos poderemos ver os métodos pelos quais as biomoléculas usam outros elementos, o que pode nos proporcionar ideias para maneiras diferentes de procurar por vida", diz a pesquisadora.
Pamela descarta a possibilidade de que a bactéria tenha origem extraterrestre, já que tem várias semelhanças com outros seres na Terra. "Não é um organismo que é feito de algo diferente, mas que incorpora algo que é geralmente tóxico. (...) A diferença é que ele é capaz de sobreviver à presença deste metal tóxico (o arsênio)".
Sobre a possibilidade de o organismo ter uma origem diferente das demais formas de vida da Terra, ela também acha improvável, "mas é difícil saber com certeza". "A maneira pela qual sabemos isso é estudando a composição química hereditária, o DNA, e daí vemos o quão parecido o organismo é com outros micróbios. O organismo descoberto é suficientemente semelhante a outros micróbios, portanto temos bastante certeza de que a sua origem é terrestre", diz.
Por que estudar um lugar onde quase não há vida? Com uma grande quantidade de arsênio em suas águas, o lago Mono, na Califórnia - onde foi descoberta a bactéria-, tem pouca vida. Apenas algumas plantas sobrevivem presas às suas rochas. Então, por que os pesquisadores foram a esse lugar morto? Segundo Pamela, os poucos seres que vivem lá podem dar pistas de como pode ter sido a vida em outro local do Sistema Solar.
"Este lago é interessante por que é uma bacia que evapora água. Sabemos que Marte costumava ter água estagnada. Portanto, conforme a água foi desaparecendo de Marte, a última porção de água ficava em uma bacia que evaporava. Tentamos entender a química e a mineralogia associadas a uma bacia que está evaporando e procuramos compreender a estratégia de sobrevivência que os organismos encontrados em tal bacia podem usar."
Pamela ainda acredita que a descoberta indica que sabemos muito pouco sobre o nosso próprio planeta. "Muitas pessoas especulam que pode haver metabolismos ou estratégias de vida estranhos ou alternativos que ainda não foram observados. Acho que seria muito pretensioso se algum cientista acreditasse que já observamos tudo que a natureza tem a oferecer. Prevejo que ainda observaremos muitas coisas incomuns com relação à vida."
Recentemente, diversos trabalhos de biólogos que terminaram em descoberta de novas espécies foram divulgados. Muitos dos animais encontrados chamavam a atenção pela bizarrice, feiura ou até mesmo por espantar alguns dos pesquisadores. Conheça algumas das mais estranhas descobertas feitas recentemente
Foto: Divulgação
Anteriormente já visto, mas nunca descrito, este morcego se alimenta de frutas e é natural de Papua. Não possui nome ainda, mas já foi encontrado em outras regiões do país além das montanhas Nakanai
Foto: Conservation International / Divulgação
Cientistas da Conservação Internacional descobriram 200 novas espécies na Papua Nova Guiné, Dentre as 20 novas espécies de gafanhotos, está o Tettigoniidae Agraeciinae, que mede entre 40 e 45 mm
Foto: Conservation International / Divulgação
Todas as espécies foram encontradas nas montanhas Nakanai, na Papua. Este sapo, do gênero Platymantis, vive apenas em regiões de grande altitude nas florestas tropicais das montanhas
Foto: Conservation International / Divulgação
Outro gênero de Tettigoniidae Agraeciinae encontrado é este gafanhoto que vive nas vegetações baixas das montanhas da Papua. Mede entre 30 e 40 mm
Foto: Conservation International / Divulgação
O Spinisternum sp. 5 é um gafanhoto marrom escuro com garras brancas. Foi o exemplar de gafanhoto mais encontrado entre as novas espécies
Foto: Conservation International / Divulgação
Mais um sapo descoberto é o Litoria, que vive em regiões de altitude média de 850 m na Papua
Foto: Conservation International / Divulgação
O pequeno rato descoberto na possui apenas 2 cm representa uma nova espécie e novo gênero. Segundo os cientistas, há diversas outras áreas da Papua Nova Guiné que seguem inexploradas, pois não há como acessá-las
Foto: Conservation International / Divulgação
O gafanhoto Spinisternum sp. 4 mede entre 30 e 35 mm
Foto: Conservation International / Divulgação
Este sapo do gênero Platymantis mede apenas 25 mm e é visto entre 5h e 11h e no pôr do sol, ao contrário da maioria dos sapos, que costumam aparecer à noite
Foto: Conservation International / Divulgação
O pequeno Ceratobratrachid vive em elevadas regiões das montanhas e pode representar um novo gênero
Foto: Conservation International / Divulgação
Entre as plantas descobertas, um novo gênero de Rhododendron foi encontrado em abundância nas montanhas, o que sugere que há muito o que explorar ainda
Foto: Conservation International / Divulgação
Durante pesquisas encerradas em 2009, cientistas da Conservação Internacional descobriram 200 novas espécies de animais e plantas na Papua Nova Guiné. Considerada pelos cientistas a espécie mais bonita localizada, o gafanhoto de olhos rosa vive nas árvores mais altas, o que o torna difícil de ser estudado
Foto: Conservation International / Divulgação
Uma das espécies encontradas em 2010 foi este colorido sapo. Os machos são mais vistos quando produzem som para atrair fêmeas da vizinhança
Foto: Conservation International / Divulgação
As formigas líderes desta espécie descoberta possuem cabeças sete vezes maiores do que as formigas operárias. As grandes mandíbulas são controladas por poderosos músculos, que as permitem partir alimentos mais facilmente
Foto: Conservation International / Divulgação
O Mossula, nova espécie de gafanhoto, possui interessante sistema de defesa. Suas garras posteriores são grandes e espinhosas, e quando o gafanhoto é atacado as coloca por cima da cabeça, dando golpes para se proteger
Foto: Conservation International / Divulgação
Este sapo vive 30 metros abaixo do nível da terra e seus machos anunciam sua presença com alto coaxado
Foto: Conservation International / Divulgação
Pequeno o suficiente para sentar em uma unha do polegar humano, este sapo camufla-se facilmente em pedras
Foto: Conservation International / Divulgação
A Strumigenys bateu o recorde de altitude em que vive dentre todas as formigas já encontradas na Papua Nova Guiné. Ela vive a 2,9 mil metros
Foto: Conservation International / Divulgação
O peixe-drácula (Danionella dracula), descoberto em um pequeno rio de Mianmar, mede apenas 1,7 centímetros e tem dentes que lembram os de um vampiro
Foto: BBC Brasil
O censo marinho durou dez anos e resultou na descoberta de milhares de novas espécies exóticas, entre elas a Alviniconcha sp, que vive no Japão
Foto: Reuters
O verme Vigtorniella sp também foi encontrado no Japão, na baía de Sagami, a 925 m. O Censo da Vida Marinha divulgou nesta segunda-feira, após 10 anos de trabalho, seus resultados. Foram cerca de 120 mil espécies registradas, sendo que até 6 mil podem ser novas - 1,2 mil foram confirmadas como descobertas pelo projeto
Foto: Reuters
O Ceratonotus steiningeri foi descoberto a 5,4 mil m de profundidade em 2006 em Angola
Foto: Reuters
A Lambis chiragra, que está na Lista Vermelha de espécies ameaçadas como "vulnerável", vive em Cingapura
Foto: Divulgação
O Censo da Vida Marinha divulgou dados sobre 10 anos de trabalho conjunto com instituições de pesquisa de todo o planeta. Entre as novas descobertas, está a de que o Japão e a Austrália têm a maior biodiversidade marinha e o Mediterrâneo é o mar mais ameaçado do mundo. Confira imagens de animais observados. O Phronoma sedentaria vive dentro de outro animal que tem forma de barril
Foto: Divulgação
Este peixe-anjo rainha foi registrado próximo ao vazamento de óleo no Golfo do México
Foto: Divulgação
Este polvo de águas profundas vive a 2,7 mil m de profundidade no Golfo do México
Foto: Divulgação
Esta anêmona do mar da espécie Actinoscyphia sp fecha seu tentáculos para capturar presas ou se proteger
Foto: Divulgação
O peixe sargaço se esconde na alga que lhe dá nome
Foto: Divulgação
O caranguejo yeti recebeu esse nome por causa da aparência peluda. O animal pertence a uma nova família descoberta durante o censo. Este espécime foi coletado a 2.228 m de profundidade
Foto: Divulgação
Detectores acústicos ajudaram a registrar a passagem de peixes migratórios e traçar suas rotas
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Este pterópode foi capturado na Austrália
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Ouriço-do-mar foi encontrado na Austrália
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Alga vermelha foi vista na ilha de Heron
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Nova espécie de epímera tem apenas 25 mm e foi descoberta na Antártida
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Ascídias são vistas na Alemanha
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Esponja de vidro é vista na Alemanha. Pesquisadores acreditam que esses animais, devido ao seu tamanho e lento crescimento, existiam antes do aparecimento de uma camada de gelo que existia no local, e sobreviveram a ela
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Pepinos do mar de água profunda são vistos na Alemanha
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Parte inferior de uma estrela-do-mar Nardoa rosea é vista de perto na ilha de Heron
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Esta nova espécie de lula foi descoberta na região central do Atlântico
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Este coral transparente também foi visto na Austrália
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Este caranguejo foi visto no coral da ilha Heron
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Sabelídeo é registrado no mar australiano
Foto: Divulgação
Poliqueta é vista em um coral australiano
Foto: Divulgação
Esta lesma também foi registrada na ilha Heron
Foto: Divulgação
Lesma do mar é vista na ilha Heron, na Austrália
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Os chocos também foram estudados pelo Censo
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Este caranguejo foi observado em 2005
Foto: Divulgação
Pesquisadores da Nova Zelândia seguram estrelas-do-mar Macroptychaster gigantes. Esses animais podem chegar a 60 cm de diâmetro
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Diversas espécies de polvo foram observadas na Antártida
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Este Lima sp, uma espécie de molusco, foi fotografado durante uma expedição à ilha Ningaloo, na Austrália
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A água-viva Aequorea macrodactyla vive nas águas mornas do leste do Pacífico
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Águas-vivas coloniais foram vistas na Austrália
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Apesar da cor, o verme árvore de Natal merece o nome
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Esta é o único Laurentaeglyphea neocaledonica registrado vivo. Acreditava-se que a espécie estava extinta há 50 milhões de anos
Foto: Divulgação
Veículo operado a distância mede a temperatura da água. O equipamento foi responsável, em 2006, pela temperatura mais alta registrada no mar: 407°C
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Imagem registrada na Nova Zelândia mostra uma estrela-do-mar (laranja) em um coral se alimentando de microrganismos em corrente marítima
Foto: Divulgação
Este ouriço-do-mar foi registrado na Antártida
Foto: Divulgação
Este chicote do mar intrigou os pesquisadores, que passaram um bom tempo tentando examinar os diversos organismos que viviam associados a este único animal
Foto: Divulgação
Estrela-do-mar é registrada na baía Cobscook, no Maine, Estados Unidos, em 2007
Foto: Divulgação
Esta estrela-do-mar também foi registrada
Foto: Divulgação
Aranha do mar macho carrega ovo em apêndices adaptados na parte inferior de seu corpo. Esta é uma das muitas possíveis novas espécies da Antártida. Os pesquisadores do Censo tentam entender a evolução desses curiosos animais
Foto: Divulgação
O sangue do peixe de gelo da Antártida é adaptado para não congelar em baixas temperaturas, por isso, não tem hemoglobina nem células vermelhas que dão cor ao sangue. Na mesma imagem, podem ser vistas estrelas-do-mar amarelas
Foto: Divulgação
Esta esponja gigante foi uma das espécies encontradas na expedição
Foto: EFE
Este pepino do mar transparente, chamado de Enypniastes, rasteja para a frente com seus tentáculos a uma velocidade de aproximadamente 2 cm por minuto, enquanto varre os detritos de sedimentos com sua boca. A espécie vive a 2.750 metros de profundidade no Norte Golfo do México
Foto: AP
Um novo copépode, da família dos crustáceos, foi descoberto no fundo de abismos no Oceano Atlântico e foi incluído no catálogo do Censo da Vida Marinha, que se apresentaram uma nova lista da vida nos oceanos
Foto: EFE
Este octópode de dois metros de comprimento e seis quilos de peso vive a uma profundidade de 1,5 km no oceano do Atlântico. Ele ganhou o apelido de "Dumbo" pela barbatana em forma de longas orelhas que utiliza para navegar
Foto: EFE
Esta bizarra criatura foi registrada durante uma expedição científica na região de Sangihe Talaud, na Indonésia
Foto: AP
Esse sapo pertence à espécie Microhyla nepenthicola, descoberta em Sarawak, na Malásia. O minúsculo animal tem cerca de 3 mm quando girino e entre 9 e 11 mm quando adulto. É considerado a menor espécie de sapo da Ásia
Foto: AFP
Câmera automática registra o que pesquisadores acreditam ser nova espécie de musaranho-elefante, na floresta Boni-Dodori, no Quênia. Apesar do tamanho, o animal é considerado mais próximo dos elefantes do que dos musaranhos