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Até Robin Hood pode ter passado por cavernas de Nottingham

5 dez 2010 - 14h14
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Melissa Becker
Direto de Nottingham

Um scanner a laser tem esquadrinhado cenários da história da cidade de Nottingham, no norte da Inglaterra. Arqueólogos estão mapeiam e reproduzem em imagens tridimensionais as cerca de 500 cavernas construídas por moradores desde a Idade Média. Até a lenda de Robin Hood tem passagem por esses túneis.

Veja imagens incríveis das Cavernas de Nottingham:

O Terra visitou alguns dos locais em catalogação pelos pesquisadores do projeto Nottingham Caves Survey. Os espaços escavados em uma imensa rocha de arenito encravada no centro da cidade tiveram diferentes funções, de acordo com o arqueólogo David Walker: masmorras, pubs, favelas, abrigos antiaéreos e até garagens. Essa rede de túneis é única na Inglaterra, graças à facilidade de construí-los, explica o pesquisador:

"Era fácil e barato, bastava uma estaca e um martelo. Era algo óbvio se precisava de uma casa. Além disso, os locais são a prova de vento e chuva".

Entre as cavernas analisadas, estão as que se acredita que Robin Hood, personagem que tornou a cidade inglesa famosa, possa ter sido preso. "Há uma história em que Robin Hood é capturado pelo xerife de Nottingham e jogado em uma prisão profunda. Está implícito, mas sabemos que celas assim existiram em cavernas naquela época. Além disso, se Robin Hood passou por Nottingham, ele sabia desses túneis, era um lugar óbvio para esconderijo", diz Walker.

No dia da visita da reportagem, o pesquisador e a colega Julia Clarke - da empresa Trent & Peak Archeology, ligada à Universidade de Nottingham - documentavam um espaço que serviu de estábulo, ao lado da "nova caverna", de função ainda não identificada. O lugar, no entanto, tem uma pista curiosa: uma geladeira primitiva, onde blocos de gelo seriam mantidos por meses.

Segundo Walker, essas cavidades são estruturas fortes. Apesar de "macia", essa rocha de arenito conta com partes mais duras, distante uma da outra, que servem para sustentação.

"Desabamento é muito raro. Se acontece, é porque algo mudou. Por exemplo, não sabemos de nenhum colapso por causa do tram (bonde elétrico)", observa.

Tecnologia a laser em paredes de arenito
O principal equipamento utilizado no projeto foi criado para a indústria petrolífera. Há cerca de três anos, o scanner a laser, que coleta até 500 mil pontos por segundo e reproduz imagens tridimensionais, passou a ser empregado na arqueologia. Uma caverna pode ser "escaneada" em um dia, mas, se o espaço for rico em relevos ou esculturas na pedra, o registro pode ser mais demorado. Novas cavidades ainda estão sendo reveladas pela população, que tem entrado em contato com os pesquisadores.

"Uma senhora nos chamou para ver uma cave, para estoque de vinho, com um lounge. O valor arqueológico é baixo, mas, em termos da história social, é importante, porque era de alguém que convidava os amigos para beber vinho, fumar charutos e contar histórias na caverna", conta Walker.

Outra descoberta é de um local no qual os arqueólogos acreditam que se produzia cerveja, beneficiada pela temperatura constante dos túneis. A pesquisa de campo, que se iniciou em fevereiro, deve durar dois anos, sem envolver escavações ou catalogação dos objetos encontrados, e o relatório levará mais seis meses.

Os subterrâneos revelados
Visitar cavernas no centro de Nottingham não é difícil, mas a entrada para a atração turística City of Caves (Cidade das Cavernas) pode surpreender: fica dentro do shopping Broadmarsh Centre, construído na década de 70 sobre uma bem preservada rede de túneis. Nascida na cidade, a pesquisadora Julia conta que houve resistência de parte da população, embora não o suficiente para barrar a edificação do empreendimento.

Cavernas pesquisadas no momento são uma continuação desses espaços abertos ao público. É possível conferir o único curtume subterrâneo na Grã-Bretanha e a recriação do que foi considerada uma das piores favelas do país na Revolução Industrial: cavernas foram transformadas em moradias para famílias pobres que procuraram o centro urbano em busca de trabalho.

Outras atrações entre paredes de arenito que podem ser visitadas são o Mortimer¿s Hole (Buraco de Mortimer), um dos mais famosos da cidade, o Museum of Nottingham Life (Museu da Vida em Nottingham), que serviu de abrigo durante os bombardeios na Segunda Guerra Mundial, e o Ye Olde Trip to Jerusalem, um dos mais antigos pubs ingleses, de 1189.

Um trabalho de catalogação foi feito na década de 80, mas este pretende atualizar e ampliar a quantidade de informações. Financiada por cinco órgãos - Greater Nottingham Partnership, East Midlands Development Agency, English Heritage, Universidade de Nottingham e Nottingham City Council -, a ação é a primeira parte do Projeto de Revitalização das Cavernas de Nottingham e tem dois objetivos: preservar essa herança arquitetônica e atrair mais visitantes.

Fonte: Especial para Terra
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