Pesquisadora: nova forma de vida tem origem comum à humana
3 dez2010 - 08h34
(atualizado às 14h17)
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Lígia Hougland
Direto de Washington
"É uma descoberta incrível - o equivalente a quando, em Star Trek, encontraram "Horta" criaturas fictícias que têm vida com base em silício e não carbono", afirmou Mary Voytek, diretora do programa de astrobiologia da Nasa, durante a entrevista coletiva para apresentar o novo micro-organismo descoberto pela agência espacial americana, realizada na quinta-feira, em Washington.
A autora do estudo, Felisa Wolfe-Simon, acredita que o novo micro-organismo faz parte da árvore da vida e, teoricamente, tem a mesma origem que o tipo de vida que conhecemos. "Mas está fazendo algo diferente, e não sabemos como, por que e nem como evoluiu", disse.
Os pesquisadores da Nasa que realizavam testes com organismos encontrados no Lago Mono, na Califórnia, descobriram o primeiro micro-organismo na Terra que é capaz de sobreviver e se reproduzir usando arsênio, uma substância tóxica. Além disso, o arsênio substitui o fósforo nos componentes celulares desta nova forma de vida.
Até agora, o campo da biologia acredita que todos os tipos de vida exigiam seis elementos: carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre.
"É a primeira exceção a esta regra e, frequentemente, quando encontramos uma exceção a uma regra, podemos encontrar outras exceções", disse Wolfe-Simon, responsável pela descoberta.
Segundo Wolfe-Simon, ela optou por testar como os micro-organismos coletados no lago californiano reagiam ao arsênio porque esta substância é muito parecida com o fósforo, mas as células ficam confusas por causa de sua toxicidade. Foi uma surpresa para a autora do estudo verificar que uma das amostras sendo testadas não somente resistiam ao arsênio como também prosperavam.
"Quando vi o micro-organismo pela primeira vez, eu estava descontraída ouvindo música alta no laboratório e fui olhar no microscópio, não esperando encontrar nada vivo. Foi uma grande surpresa e achei que tinha cometido um erro. Verifiquei tudo novamente e conclui que devia falar sobre isso com os meus colegas", disse a pesquisadora.
O Lago Mono é rico em arsênio e, segundo os pesquisadores, há diversos outros ambientes semelhantes a este espalhados pelo planeta, inclusive lagos na Argentina, onde provavelmente é possível encontrar este mesmo tipo de micro-organismo recém descoberto.
"Quero ressaltar que essa descoberta não é sobre o Lago Mono nem sobre arsênio, mas sim sobre pensar sobre a vida em um contexto diferente", afirmou a Wolfe-Simon.
"Não sei se Felisa descobriu uma exceção à evolução, mas ela descobriu uma exceção à nossa expectativa de como os organismos realizam metabolismo", afirmou Pamela Conrad, astrobióloga da Nasa.
Os pesquisadores também não sabem como este micro-organismo reage com o meio-ambiente, mas pretendem explorar seu impacto ecológico nos próximos meses.
"Esta descoberta sugere muitas coisas interessantes sobre a vida na Terra e, potencialmente, para a vida fora do nosso planeta", disse Wolfe-Simon.
Astrônomo: Nasa mostra que ETs podem estar entre nós:
Descoberta também muda a maneira de pensar sobre o que são "ambientes habitáveis" no universo. Na imagem, o micro-organismo que usa arsênio no lugar de fósforo na constituição de seu DNA
Foto: Nasa / Reprodução
A nova forma de vida substitui fósforo por arsênio em seu metabolismo
Foto: Nasa / Reprodução
O brasileiro Douglas Galante, coordenador do Laboratório de Astrobiologia da USP acredita que, no Brasil, ambientes vistos como "inabitáveis" também merecem estudo mais detalhado
Foto: Getty Images
Para pesquisadores, descoberta expande o horizonte de possibilidades de busca de vida fora da Terra
Foto: Divulgação
O arsênio é uma substância que, dentro do corpo humano, pode matar todas as células. No entanto, ela faz parte da constituição do DNA deste micro-organismo
Foto: Getty Images
Nasa afirmou que descoberta é somente um ponta-pé para uma série de dicussões e expansão da maneira como o espaço era explorado até então
Foto: Nasa / Divulgação
Um time de quatro pesquisadores, liderados por Felisa Wolfe-Simon (à esq.), que descobriu o micro-organismo, liderou a coletiva de impresa da Nasa nesta sexta-feira, às 17h
Foto: Divulgação
Para Nasa, forma de vida encontrada significa uma descoberta impactante na busca por vida extraterrestre
Foto: Getty Images
Site holandês havia especulado, horas antes do anúncio oficial da Nasa, sobre descoberta de micro-organismo no Mono Lake, na Califórnia
Foto: Getty Images
Segundo pesquisadores, público pode ter se frustrado por Nasa não apresentar um "ET", como na ficcção científica
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Na imagem, a pesquisadora Felisa Wolfe-Simon trabalha com lama do Mono Lake para estudar o micro-organismo
Foto: Nasa / Divulgação
A descoberta, no entanto, é um enorme passo para a comunidade científica, sendo categorizada como "fenomenal" pelos pesquisadores
Foto: Getty Images
O grupo de quatro pesquisadores comentou que o mais importante, a partir de agora, é procurar por mais "exceções" de vida no universo
Foto: AFP
Felise e mais dois pesquisadores procuravam por evidências de que organismos vivos pudessem ser constituídos por outros elementos químicos no lugar do fósforo
Foto: AFP
Felise comentou, no entanto, que a pesquisa se encontra em um estágio muito inicial e que é impossível tirar grandes conclusões neste momento sobre a vida no universo
Foto: AFP
Bem humorada, pesquisadora Felise Wolfe-Simon brincou ao afirmar que as escolas precisarão mudar seus livros didáticos a partir de hoje
Foto: AFP
A descoberta de Felise abre uma nova perspectiva sobre o que é necessário para a constituição de vida dentro e fora do planeta Terra
Foto: AFP
Na imagem, pesquisadores recolhem do lago tóxico Mono, na Califórnia, ainda na fase de estudos sobre a possibilidade da descoberta de vida dentro do arsênio
Foto: AFP
Na imagem, a microfotografia mostra, aplificadamente, o micro-organismo que possui o elemento até então considerado tóxico para a vida, o arsênio, dentro do seu DNA