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Destruição do ecossistema agrava as inundações no Paquistão

19 ago 2010 - 09h44
(atualizado às 10h54)
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Inundações como as que devastaram um quinto do território do Paquistão podem ser muito mais graves por causa da destruição dos ecossistemas do que propriamente pela mudança climática, afirmam os especialistas em meio ambiente.

O desmatamento intensivo, a transformação dos pântanos em terra cultivável ou o crescimento urbano e o acúmulo de lixo que causa a obstrução dos sistemas de deságue são algumas das razões que acentuam as consequências das inundações.

"Não podemos nos limitar a jogar a culpa na natureza", declarou Ganesh Pangare, coordenador regional para a água dos pântanos da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), erradicado em Bangcoc. "Os humanos invadiram as zonas inundáveis", explicou.

Para Pangare, uma melhor condução dessas zonas limitaria as consequências humanas e econômicas dos desastres naturais, como as chuvas recordes que atingiram o Paquistão, deixando um saldo de 1,4 mil mortos. "As infraestruturas têm de estar em lugares seguros. Caso contrário, o desenvolvimento da Ásia se torna insustentável", enfatizou.

Para Red Constantino, que dirige em Manila o Instituto do Clima e Cidades Sustentáveis, a mudança climática se converteu num bom pretexto para os dirigentes asiáticos quando ocorrem desastres naturais.

"Quando há inundações de grande amplitude, é só jogar a culpa na mudança climática, quando os problemas poderiam ser solucionados localmente", afirmou Constantino.

"Seja onde for que estejamos, em Jacarta, Bangcoc ou Manila, há coisas óbvias que podem ser feitas, como melhorar a transformação do lixo, o uso da terra ou o gerenciamento do crescimento urbano", acrescentou.

Constantino recordou que o temporal tropical Ketsana, que atingiu Manila e seus arredores no ano passado, provocou as piores inundações em 40 anos e a morte de mais de 400 pessoas.

Apesar da então presidente Gloria Arroyo enfatizar a incidência da mudança climática, outros fatores humanos também incidiram. Por exemplo, milhões de pessoas construíram moradias em zonas inundáveis nas últimas décadas e foram destruídas florestas, enquanto que o lixo resultante passou a obstruir canais de deságue. Tudo isso agravou o desastre, assegura.

"Manila está sofrendo as consequências de um planejamento territorial ruim e, depois do desastre não houve maiores mudanças na política urbanística", acrescenta.

Para Bruce Dunn, especialista em meio ambiente do Banco Asiático de Desenvolvimento, o desmatamento na Ásia é um dos principais agravantes das inundações.

O especialista recorda que o estudo da Universidade Charles Darwin, da Austrália, e da Universidade Nacional de Cingapura indica que uma destruição das floretas de 10% pode provocar um aumento da frequência das inundações de 4% a 28%.

Em meio a tantas políticas que fazem piorar as coisas, Dunn citou alguns exemplos contrários, como o realizado pela China em termos de reflorestamento depois das grandes inundações dos anos 1980.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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