PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

Irmãos mais novos se arriscam mais, diz estudo

27 mai 2010 - 10h55
(atualizado às 10h58)
Compartilhar

Quando B. J. Upton fez um home run e ajudou o Tampa Bay Rays a derrotar o New York Yankees em um jogo de beisebol na noite de quinta-feira, não foi sua primeira jogada importante do dia. Horas antes, em uma conversa de vestiário, ele havia ajudado a confirmar os resultados de um recente estudo científico sobre o comportamento de irmãos no que tange a aceitar riscos.

Na mais recente edição da revista Personality and Social Psychology Review, Frank Sulloway e Richard Zweigenhaft saíram em busca de indícios sobre comportamento diferenciado por parte de irmãos, utilizando o vasto banco de dados oferecido pelas estatísticas do beisebol. Porque já havia estudos indicando que irmãos mais novos tendem a aceitar mais riscos do que os irmãos mais velhos - talvez originalmente como resultado de disputas pela comida ou atenção dos pais -, Sulloway e Zweigenhaft decidiram examinar se esse fenômeno poderia persistir a ponto de levar irmãos jogadores de beisebol a tentar roubar bases em ritmo significativamente distinto.

E os dados o confirmam. Para mais de 90% das duplas de irmãos que já jogaram na primeira divisão do beisebol durante a longa história do esporte nos Estados Unidos, entre os quais Joe e Dom DiMaggio e Cal e Billy Ripken, o irmão mais novo (independentemente das distinções de talento entre os dois) tentava roubar bases com mais frequência do que o irmão mais velho.

B. J. e seu irmão mais novo, Justin, rebatedor que defende o Arizona Diamondbacks, na verdade estão no grupo de 10% de exceções (B. J. tem 25 anos, três a mais que o irmão, e é um rebatedor inicial mais veloz, uma posição na ordem de rebatidas de uma equipe que costuma ser associada com mais frequência a tentativas de roubar bases). No entanto, B. J. concordou com um aceno sábio de cabeça ao ser informado de que cientistas haviam constatado que irmãos mais novos eram mais propensos a aceitar riscos.

"É sempre ele que tenta levar as coisas ao limite", disse B. J. sobre Justin. "Quando mamãe dizia que ele não deveria andar de bicicleta em algum lugar, ele a contrariava imediatamente. Quando mamãe dizia para ele não ficar em pé nas arquibancadas, ele ficava em pé, caía e rachava a cabeça".

As constatações de Sulloway e Zweigenhaft não revolucionarão a ciência do comportamento, mas servem como exemplo intrigante da maneira pela qual as personalidades de irmãos podem diferir de acordo com a ordem de nascimento.

Sulloway, que é pesquisador visitante no Instituto de Personalidade e Pesquisa Social na Universidade da Califórnia em Berkeley, já publicou diversos artigos científicos sobre o efeito da ordem de nascimento em uma família sobre a rebeldia, inteligência e até mesmo ativismo político diferenciado entre irmãos.

Falando por telefone das ilhas Galápagos, onde está participando de uma pesquisa, Sulloway disse não acreditar que o estudo venha a ter qualquer aplicação prática para os técnicos ou dirigentes de beisebol, que baseiam seus elencos e escalações na capacidade dos jogadores, e não em linhagens familiares. Mesmo assim, disse, o estudo contribui para a compreensão da psicologia dos irmãos porque oferece provas de como diferenças desenvolvidas na infância podem perdurar por muito tempo depois da puberdade.

"Tendemos a não exibir diferenças causadas por ordem de nascimento a todo momento, em nossas vidas adultas, mas elas surgem em situações que envolvem irmãos, porque é delas que esse tipo de comportamento evolui", disse o pesquisador. "No entanto, descobrimos que a diferença de fato existe e é significativa".

Cientistas como Stephen Jay Gould e Edward Purcell, que conquistou um Nobel de Física em 1952 por seu trabalho sobre o magnetismo dos núcleos atômicos, recorreram às estatísticas do beisebol basicamente como distração ante pesquisas mais substantivas. Sulloway afirma que os dados acumulados pelo beisebol profissional desde o século XIX representam uma oportunidade única de pesquisa. "Temos 700 jogadores e 300 mil atos atléticos a observar", diz ele. "Como cientista comportamental, esse é um conjunto de dados perfeito".

Os devotos do beisebol vão certamente discordar das conclusões do estudo. Os pesquisadores examinaram quantas tentativas de roubo de base cada jogador executou, ponderando o cálculo com base no tempo passado por eles nas bases, e classificadas por singles, doubles, triples e número de rebatidas por arremesso.

É claro que poucos corredores no beisebol conseguem roubar a home base, ou até mesmo a terceira base; também é difícil conseguir uma jogada de roubo de segunda base se já houver um corredor nela, e os registros quanto a isso são na melhor das hipóteses escassos. Mesmo que os dois irmãos tivessem encontrado situações como essa em número igual de vezes, o beisebol não aceita de bom grado esse grau de imprecisão.

Os dados passaram além disso por uma conversão logarítmica, e diversos outros fatores foram considerados, tais como diferenças de idade, tamanho físico e até mesmo a ordem de promoção dos jogadores à divisão mais elevada do beisebol.

Isso faz com que os números apresentados na pesquisa se tornem irreconhecíveis para as pessoas acostumadas a conferir estatísticas de beisebol no jornal da manhã. E resta a plausível questão de determinar se os irmãos mais novos não podem ter aprendido mais sobre a estratégia do beisebol ao assistir aos jogos de seus irmãos mais velhos, quando crianças. Zweigenhaft, professor de psicologia no Guilford College, em Greenboro, Carolina do Norte, disse que esse fator com certeza pode influenciar.

Mesmo assim, declarou, "adorei trabalhar nesse estudo, estudando os padrões estatísticos de tantos nomes famosos. Era como estar assistindo a uma partida de beisebol, na verdade".

Tradução: Paulo Migliacci ME


The New York Times
Compartilhar
Publicidade