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Pioneiro na medicina reprodutiva projeta futuro da técnica

Pioneiro do bebê de proveta projeta medicina reprodutiva

26 mar 2010 - 08h53
(atualizado às 09h09)
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O Dr. Howard Jones Jr., cirurgião que, em companhia de sua mulher, Dra. Georgeanna Seegar Jones, ajudou a criar o primeiro bebê de proveta nascido nos Estados Unidos, chegou aos 99 anos em dezembro. Ele continua humilde, charmoso e persistente, e tem muito a dizer sobre o futuro e o passado da reprodução humana.

Dr. Howard Jones Jr. é o cirurgião que ajudou a criar o primeiro bebê de proveta nascido nos Estados Unidos
Dr. Howard Jones Jr. é o cirurgião que ajudou a criar o primeiro bebê de proveta nascido nos Estados Unidos
Foto: The New York Times

"A reprodução humana é um processo ineficiente", afirmou, sentado em uma cadeira de rodas no condomínio em que vive, perto de Denter. "Em média, apenas 20% dos encontros entre espermatozoide e óvulo resultam em óvulo fertilizado com potencial de gestação. Portanto, o anormal é que é o normal".

Jones jamais evitou controvérsias
Muito antes que abrisse a primeira clínica americana de fertilização in vitro, ele já realizava operações de mudança de sexo no hospital da Universidade Johns Hopkins. Também foi um dos médicos que atendeu Henrietta Lacks, uma paciente cujos cuidados resultaram em avanços pioneiros no tratamento do câncer. Nos anos 60, ele conduziu estudos de laboratório sobre espermatozoides e oócitos (óvulos imaturos), com o cientista britânico Robert Edwards, que ajudou a criar o primeiro bebê de proveta do mundo, nascido na Inglaterra em 1978.

Jones disse que embora não tivesse percebido então, agora acredita que ele e Edwards tenham criado um oócito humano fertilizado em um laboratório da Johns Hopkins, em 1965. Nenhum dos dois havia feito algo de parecido até então.

"O que aconteceu foi que, naquele momento era considerado necessário, para demonstrar fertilização, identificar a cauda do espermatozoide no óvulo", ele disse. "Nós não conseguimos identificar a cauda, e portanto nunca alegamos que uma fertilização tivesse ocorrido".

Ele afirmou que as imagens da experiência mostravam pronúcleos (o núcleo do espermatozoide e óvulo combinados durante o processo de fertilização), o que hoje constitui prova suficiente para comprovar fertilização. Ainda que se tenha acostumado ao rancor público quanto às suas pesquisas e cirurgias, nada foi tão feroz quanto à oposição norte-americana à sua clínica de fertilização in vitro. Ele a abriu em 1979, depois que ele e a mulher (falecida em 2005) se aposentaram da Johns Hopkins (onde a idade de aposentadoria compulsória era de 65 anos).

Quando abriram o Jones Institute, como parte da Escola de Medicina de Eastern Virginia, ele conta que manifestantes adversários do aborto tentavam impedir o acesso de pacientes. No começo, os Jones só permitiam a participação de pacientes desprovidas de trompas de Falópio, para garantir que as possíveis gestões fossem resultado da fertilização artificial e não ocorressem naturalmente. (Muitas das pacientes haviam passado por cirurgias de remoção das trompas de Falópio devido a infecções e outras doenças.)

Os Jones registraram 41 insucessos antes de seu primeiro sucesso. Nos dias anteriores ao uso de hormônios para levar o ovário a expelir diversos óvulos e ao de equipamentos de imagem de alta tecnologia, a fertilização artificial era bem mais complicada. Os médicos só tinham um óvulo ao mês para tentar fertilização - enquanto hoje usam remédios que levam uma mulher a produzir meia dúzia ou mais de oócitos.

E, sem ultrassom para estudar o aparelho reprodutor, dependiam de indícios circunstanciais (exame do muco cervical e da dilatação cervical) para tentar estimar o momento de ovulação. Hoje, há remédios que controlam o ciclo para que a paciente ovule em momento previsível.Em uma das primeiras tentativas dos Jones, eles planejavam recolher um óvulo à 1h, o momento em que a paciente deveria ovular.

A meta era obter o oócito ainda no ovário. Mas uma tempestade de neve atrasou a paciente e os médicos. Por isso, conta Jones, quando ela chegou ele aspirou fluido da área próxima ao ovário e localizou o oócito. O médico acredita que essa tenha sido a primeira ocasião em que alguém viu um óvulo imediatamente depois da ovulação. Mas a paciente não engravidou.

A despeito do consenso adverso dos médicos quanto ao uso de hormônios, ele diz que a Dra. Seeger Jones, sua mulher, imaginava que o hormônio hMG, que propicia a liberação de múltiplos óvulos, pudesse ajudar. As pacientes passaram a receber sete ampolas de hMG por ciclo, o que podia resultar na liberação de até três ovulos. Fizeram 12 tentativas frustradas de fertilização artificial antes que a primeira paciente Judith Carr, engravidasse depois de usar o hormônio.

Durante a gestação de Carr, Jones conta que os médicos estavam preocupados porque a cabeça do feto tinha medidas inferiores às normais. No dia marcado para a cesariana da paciente, ele preparou um comunicado a ser divulgado caso o bebê nascessem com problemas.

Jones disse que Carr desejava uma cesariana para garantir que o bebê não fossem machucado em sua passagem pelo canal vaginal. Elizabeth Carr nasceu sem qualquer problema às 7h46min do dia 28 de dezembro de 1981, dois dias antes do 71° aniversário de Jones. Os dois ainda mantêm contato.

"Para mim, ele é como um avô", disse Elizabeth Carr Comeau. "Temos um relacionamento no qual não o vejo como médico - embora ele tenha realizado coisas realmente maravilhosas para me trazer ao mundo".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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