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Cochilos "limpam" o cérebro e melhoram aprendizado, diz estudo

26 fev 2010 - 17h07
(atualizado às 17h10)
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Se o seu cérebro fosse uma conta de e-mail, o sono - e, mais especificamente, cochilos - seriam o equivalente a limpar a caixa de entrada. É essa a conclusão de um novo estudo que pode explicar por que as pessoas dedicam tanto do tempo que passam dormindo a um estado pré-sonho conhecido como estágio 2, de sono sem movimento rápido dos olhos (REM).

Há anos os estudos sobre o sono ofereciam indicações de que uma soneca poderia melhorar a capacidade humana de armazenar e consolidar memórias, o que reforça a ideia de que uma boa noite de sono - e cochilos ocasionais - ajuda bem mais a aprender do que virar a madrugada estudando.

Agora, os cientistas podem ter descoberto, ainda que apenas parcialmente, como isso acontece. Durante o sono, informações que ficam abrigadas no setor de armazenagem curta do hipocampo - a parte do cérebro responsável pela memória - migram para o banco de dados de prazo mais longo localizado no córtex.

Essa ação não só ajuda o cérebro a processar novas informações como libera espaço para que o cérebro absorva novas experiências.

Isso significa que "não é só importante dormir depois de aprender; é crucial dormir antes de aprender", diz Matthew Walker, da Universidade da Califórnia em Berkeley, o diretor científico do estudo, em entrevista coletiva.

"O sono prepara o cérebro, posicionando-o como uma esponja seca e pronta a absorver novas informações", disse.

Sonecas curtas
Em seu mais recente trabalho, apresentado hoje em uma reunião da Sociedade Americana para o Progresso da Ciência, em San Diego, Walker e seus colegas pediram a 39 jovens adultos que executassem diversas tarefas relacionadas ao aprendizado factual.

Um grupo foi convidado em seguida a tirar uma soneca de 90 minutos, enquanto o outro permanecia desperto.

Depois, os dois grupos realizaram nova rodada de tarefas. Os participantes que não haviam cochilado se saíram muito pior do que o grupo do cochilo, constataram os pesquisadores.

Uma medição da atividade elétrica cerebral dos participantes que haviam cochilado revelou que sua memória ¿cache¿ se havia esvaziado durante o sono de estágio dois. Ainda que o estágio do sonho, ou sono REM, talvez seja mais conhecido, os seres humanos passam cerca de metade de cada noite em sono de estágio 2, no qual não ocorre REM.

O sono com REM é crucial para o raciocínio mais complexo, por exemplo buscar conexões não óbvias entre fatos previamente aprendidos - um processo que Walker descreve como "uma busca no Google feita da maneira certa - ou errada".

"Quando você tem um problema, ninguém diz 'fique acordado que amanhã isso passa'", brincou o pesquisador. Em lugar disso, o sono, ou mais especificamente o sono com REM, é uma maneira de o cérebro receber informações que inicialmente podem não parecer relacionadas à sua ¿busca¿ mental, e assim permitir o desenvolvimento de soluções criativas.

De fato, ele afirmou, os nossos sonhos podem ser uma espécie de campo de provas para a solução inconsciente de problemas.

Cochilos não funcionam para todo mundo
Infelizmente, as novas constatações não significam que todo mundo se beneficiaria de um cochilo vespertino, apontou Sara Mednick, professora de psiquiatria na Universidade da Califórnia em San Diego.

Algumas das pessoas que tiram cochilos despertam zonzas e desorientadas devido à chamada inércia do sono. "Isso é o que acontece ao despertarmos de um sono profundo, de ondas lentas", ela disse hoje. Porque a temperatura do cérebro e seu fluxo sanguíneo se reduzem no estágio dois do sono, é incômodo despertar subitamente e passar a um nível muito mais acelerado de atividade cerebral.

Estudos anteriores haviam demonstrado que as pessoas que costumam cochilar tendem a dormir de modo mais leve. Isso significa que passam muito menos tempo, pelo menos nas horas iniciais do sono, em um sono profundo desprovido de REM.

Se um cochilo o deixa zonzo, também é possível obter um estímulo semelhante de desempenho em certas atividades mentais ao simplesmente descansar a cabeça, ela diz.

"Em alguns casos", afirma Mednick, "um período de repouso silencioso e um cochilo oferecem o mesmo benefício de memória".

Tradução: Paulo Migliacci ME

National Geographic
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