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Aquecimento pode matar primatas herbívoros, diz estudo

19 jan 2010 - 09h08
(atualizado às 10h59)
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Indigestão induzida pelo aquecimento global pode ajudar a fazer dos gorilas das montanhas africanos e de outros primatas fundamentalmente herbívoros alvos fáceis de extinção, aponta um novo estudo. De acordo com determinados modelos computadorizados da mudança climática, as temperaturas anuais médias podem crescer em até dois graus, até a metade do século. As folhas que crescem em ar mais quente contêm mais fibras e menos proteínas digestíveis, o que significa que os animais herbívoros que se alimentam preferencialmente de folhas demoram mais tempo para processar o alimento que consomem.

Gorilas das montanhas africanos e de outros primatas fundamentalmente herbívoros são alvos fáceis de extinção com o aquecimento global
Gorilas das montanhas africanos e de outros primatas fundamentalmente herbívoros são alvos fáceis de extinção com o aquecimento global
Foto: National Geographic

Além disso, as temperaturas mais elevadas podem forçar os animais a passar mais tempo descansando na sombra a fim de evitar superaquecimento. Mudanças como essas podem forçar algumas espécies de gorilas e macacos a passar mais tempo imóveis - tempo que elas poderiam empregar, sob outras circunstâncias, para localizar alimentos, proteger territórios ou manter elos sociais, prevê o estudo.

A inação, combinada a alimentos menos nutritivos, poderia no futuro fazer com que os gorilas das montanhas e os macacos colombianos da África - uma grande família de espécies que inclui macacos coloridos - se extinguirem, prevê o estudo.

"Uma elevação de dois graus na temperatura não é uma ideia extremamente exagerada", disse Amanda Korstjens, a diretora científica do estudo, antropologista biológica na Universidade de Bournemouth, Reino Unido. "Os animais são capazes de se adaptar... e talvez os primatas encontrem outra forma de lidar com essas mudanças", ela acrescentou. Mas "minha expectativa é a de que eles já estejam no limite de sua adaptabilidade".

Herbívoros flexíveisKorstjens e seus colegas compararam modelos climáticos a dados anteriormente publicados sobre o comportamento dos primatas, suas dietas e os tamanhos dos grupos em que eles costumam viver, em diversas áreas do mundo.

Com base nesses dados, a equipe criou mapas mundiais que mostram onde os primatas vivem hoje e também as áreas nas quais a mudança do clima deve causar extinções.

Os dados revelam que a expectativa de temperaturas mais elevadas não deve afetar a maioria dos primatas sul-americanos, que se alimentam de frutas altamente digestíveis. Além disso, os habitats dos primatas sul-americanos são menos fragmentados pela agricultura e pela invasão progressiva de áreas desérticas do que é o caso dos habitats de primatas africanos, disse Korstjens.

Em todo o mundo, os macacos que se alimentam primordialmente de frutas ¿como os babuínos e os vervets (Chlorocebus pygerythrus)- se sairiam melhor. Eles ocupam uma gama de habitats mais ampla que a dos herbívoros especializados em verduras, que estão confinados a uma faixa estreita próxima à linha do Equador, de acordo com o estudo, publicado pela revista Animal Behaviour.

Nem tão estáveis quanto imaginado
Os primatas ameaçados poderiam se adaptar às mudanças causadas pelo aquecimento global por meio de uma mudança de dieta, mas ninguém sabe ao certo se isso aconteceria.

Os macacos colombianos poderiam comer algumas frutas, mas seus estômagos altamente adaptados às folhas das verduras não estariam equipados para uma dieta formada apenas por frutas.

Essas suposições de falta de adaptabilidade podem ser o ponto fraco do novo estudo, de acordo com Colin Chapman, ecologista especializado em primatas na Universidade McGill, de Montreal, que não participou do estudo."Não está claro até que ponto (os macacos colombianos) seriam flexíveis", ele disse.

Mas, "caso as suposições se confirmem", disse Chapman,"¿isso demonstraria forte potencial de mudança de distribuição e risco de extinção". Os gorilas das montanhas enfrentam uma dificuldade especialmente séria, ele afirma. Dispõem de acesso limitado a frutas frescas, nos habitats de altitude elevada que ocupam, e estão "instalados nos topos das montanhas, sem alternativas de migração".

Uma África mais quente também poderia representar ameaça para os esforços de conservação, segundo Chapman. Parques nacionais bem administrados podem ser capazes de impedir a caça clandestina e a exploração madeireira, por exemplo, mas não teriam como se proteger contra uma mudança de temperatura, afirmou o pesquisador.

"Você imagina que conta com um parque nacional perfeitamente estável", disse, "mas de repente não é tão estável quanto você imagina".

Tradução: Paulo Migliacci ME

National Geographic
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