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Estudo: oceanos continuam liberando pesticida na atmosfera

12 jan 2010 - 14h31
(atualizado às 18h08)
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Richard Lovett

Uma simulação em computador quanto ao destino ambiental do DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) mostrou que quantidades substanciais do pesticida continuam a ser liberadas na atmosfera pelos oceanos do planeta, a despeito da adoção de restrições generalizadas ao seu uso já nos anos 70. Os cálculos demonstram que, embora o uso remanescente de DDT ocorra hoje principalmente no hemisfério sul, os índices de concentração do produto estão em crescimento no hemisfério norte, enquanto o pesticida se move entre os oceanos e a atmosfera do planeta.

Uso do DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) está em crescimento no hemisfério norte enquanto o pesticida se move entre os oceanos e a atmosfera do planeta
Uso do DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) está em crescimento no hemisfério norte enquanto o pesticida se move entre os oceanos e a atmosfera do planeta
Foto: The New York Times

Dos anos 40 aos 70, um total estimado em 1,5 milhão de toneladas de DDT foi usado em todo mundo, tanto em sua condição de inseticida agrícola quanto para o controle de insetos portadores de doenças, a exemplo dos mosquitos - entre outras coisas, o DDT foi uma das principais armas na guerra contra a malária. Mas seus efeitos são tóxicos para uma ampla gama de espécies de fauna marinha, e os efeitos de debilitação das cascas de ovos que o produto acarreta tiveram impacto drástico sobre muitas espécies de pássaros. As preocupações quanto à toxicidade ambiental do DDT levaram uma série de países a proibir seu uso na agricultura, ao longo da década de 70.

De lá para cá, o declínio no uso do DDT foi drástico, mas o legado do produto continua a nos afetar, de acordo com Irene Stemmler e Gerhard Lammel, do Instituto Max Planck de Química, em Mainz, Alemanha. O DDT reentra continuamente na atmosfera, vindo do oceano, antes de voltar a ser dissolvido em um ciclo recorrente. "O DDT está simplesmente parado lá, à espera do próximo ciclo", diz Lammel.

Concentração crescente

Os cientistas criaram um modelo de computador que simula a circulação de DDT entre o oceano e a atmosfera, de 1950 a 2002. O modelo revelou que, dos anos 70 para cá, a reemissão de DDT oceânico se ampliou mais que as três causas recentes de uso do produto explicariam: seu uso continuado para o controle de malária, em certos países; a degradação dos cartuchos de armazenagem; e outros pesticidas que contêm DDT como contaminante. As emissões do oceano são baixas o bastante para que não representem risco para os seres humanos. "Passageiros de navios de cruzeiro jamais terão de se preocupar com isso", diz Lammel.

Uma preocupação maior, no entanto, é que o DDT está migrando em direção de latitudes mais setentrionais. Isso acontece porque o pesticida se evapora mais rápido nas águas mais quentes, ao sul, e assim aumenta sua concentração nos mares mais frios, ao longo do tempo. Isso representa uma preocupação ecológica porque os organismos marinhos concentram o DDT por um fator de milhões à medida que este percorre a cadeia alimentar, e atinge níveis nos quais poderia ter efeitos tóxicos sobre os peixes ou os animais que os comem, por exemplo.

Os cientistas apontam, no entanto, que até recentemente houve pouca fiscalização da presença de DDT em ambiente marinho, o que torna difícil verificar a precisão de seus modelos.

Longo legado

O DDT não estará conosco para sempre. Parte do produto, constataram Stemmler e Lammel, se acomoda em áreas profundas do oceano, onde uma porção do pesticida fica soterrada sob os sedimentos, enquanto outra parte do DDT é destruída na atmosfera pelo contato com a luz do sol. Mas os dois processos são bastante lentos.

"Existem mecanismos de perda e dispersão, mas eles são lentos, e não há como despejar o DDT com mais rapidez no fundo do oceano, ou como enterrá-lo sob o sedimento", diz Robbie MacDonald, oceanógrafo e geoquímico no Instituto de Ciências Oceânicas do Canadá, em Sidney, Colúmbia Britânica, que não participou do estudo. "Os oceanos vão demorar algum tempo a reduzir essas emissões", afirmou.

Os resultados da simulação de Stemmler e Lammel foram publicados pela revista Geophysical Research Letters. MacDonald compara a persistência do DDT com o processo de encher uma represa gigantesca e descobrir, em seguida, que esvaziá-la demora muito tempo.

"Seria de imaginar que esse composto já se teria dispersado ou decaído, a esta altura", ele diz. "Mas a verdade é que ele continua se transferindo de sistema a sistema. As pessoas frequentemente desconsideram esse fato. Quando as emissões de alguma coisa são controladas, as pessoas esperam por gratificação instantânea, mas não é isso que elas recebem".

Tradução: Paulo Migliacci ME

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