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Astrônomos encontram galáxias mais distantes do universo

Astrônomos encontram galáxia mais distante e antiga do universo

31 dez 2009 - 10h41
(atualizado às 10h43)
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Astrônomos dos Estados Unidos conseguiram vislumbrar galáxias que surgiram apenas 500 milhões de anos depois do Big Bang, mais de 13 bilhões de anos atrás. Em, agosto, o Telescópio Espacial Hubble, da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), obteve a imagem mais profunda do universo conseguida até o momento, em uma banda do espectro próxima ao infravermelho.

O Telescópio Espacial Hubble obteve a imagem mais profunda do universo conseguida até o momento
O Telescópio Espacial Hubble obteve a imagem mais profunda do universo conseguida até o momento
Foto: Nature

O telescópio espacial americano estava utilizando seu mais novo conjunto de olhos, a Wide Field Camera 3 (WFC3), instalada por astronautas em uma missão de manutenção realizada em maio.

Na banda do espectro próxima ao infravermelho, os astrônomos são capazes de detectar galáxias tão distantes, e se afastando com tamanha rapidez, que sua luz se distende mais do que a luz visível, e com isso se torna mais avermelhada. Quanto mais distante um objeto, maior o desvio da luz para o vermelho, conhecido como "redshift.

Nos últimos meses, pesquisadores vêm avaliando os novos dados obtidos pelo telescópio - mostrando uma porção do céu equivalente a cerca de 8% do diâmetro da Lua cheia, observada por 173 mil segundos ao longo de quatro dias-, em busca de galáxias antigas que possam ajudar a aprofundar a compreensão dos cientistas sobre o desenvolvimento do universo. A recordista atual em termos de distância confirmada é uma galáxia avistada em forma de pulso de raios gama, descoberta em abril, com um índice de redshift da ordem de 8,2 pontos.

Agora, o astrônomo Garth Illingworth, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, e seus colegas encontraram indícios provisórios da existência de três galáxias com desvio ao vermelho da ordem de 10 pontos. Isso indicaria que elas já existiam quanto o universo tinha entre 3% e 4% de sua idade atual, e estariam entre os mais antigos objetos já avistados pelo homem. As descobertas foram postas no site da arXiv.org.

"Ainda que não se trate de algo realmente inesperado, localizar galáxias de tempos tão distantes é muito animador", disse Illingworth, que também ajudou a criar um conjunto de imagens e dados baseado nas observações do Hubble e disponível para o público. "Não existe uma prova conclusiva ainda, mas estamos confiantes em que seja isso que estamos de fato observando".

Mais velhas que tudo

A descoberta pela equipe de galáxias com redshift da ordem de 10 pontos não é a primeira. Por exemplo, Rogier Windhorst, da Universidade Estadual do Arizona, em Tempe, e seus colegas reportaram ter identificado 20 galáxias com redshift próximo aos 10 pontos, no mesmo conjunto de dados, ainda que elas não incluam qualquer das três observadas por Illingworth. Windhorst e seus colegas postaram os dados sobre suas observações no site arXiv.org em outubro.

As diversas equipes discordam sobre como exatamente definir essas galáxias distantes, e o que constitui uma detecção definitiva. Illingworth argumenta que os padrões adotados pelo grupo de Windhorst não são suficientemente rigorosos, e que algumas das galáxias detectadas pela outra equipe estavam próximas de galáxias brilhantes e de grande porte, o que poderia ter contaminado os resultados.

"Isso pode ter confundido o software que eles utilizaram e os levado a identificar uma série de objetos que na verdade não eram verdadeiras galáxias com redshift acentuado", ele afirma. Illingworth também aponta que a presença de 20 galáxias com redshift da ordem de 10 pontos em uma região tão pequena do espaço indicaria um índice de formação de estrelas superior ao que vem sendo previsto já há algum tempo.

"Os resultados da observação não batem com aquilo que esperávamos, tanto em termos teóricos quanto em termos lógicos", ele afirmou. Windhorst reconhece que seu grupo "pode ter obtido resultados excessivos", mas acrescenta que o grupo de Illingworth foi "conservador em excesso". Ainda assim, Windhorst apontou que duas das galáxias identificadas pelo pessoal de Illingworth não satisfaziam os critérios de sua equipe para definir um redshift elevado, e que a terceira não havia sido detectada depois do processamento dos dados.

"É bom avaliar as coisas de maneira conservadora, mas não creio que eles tenham conduzido uma redução de dados com a qualidade que poderiam ter atingido", afirmou Windhorst.

Que se faça a luz

Mas a equipe de Illingworth "parece ter realizado um trabalho mais cuidadoso que a de Windhorst", disse o astrônomo Richard Ellis, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena. Em 2007, ele reportou galáxias candidatas a apresentar redshift da ordem dos oito a 10 pontos, usando o telescópio Keck, no Havaí.

Ellis acrescentou que a equipe de Illingworth "se esforça muito para justificar as galáxias candidatas", embora ele considere que a detecção dos objetos com alto redshift por apenas um filtro da câmera requeira cautela, já que muitas alegações semelhantes, entre as quais as suas, foram revisadas posteriormente por outros estudiosos, com resultados contraditórios.

"O histórico de alegações sobre a descoberta de galáxias com redshift de 10 pontos é falho, mas ainda assim interessante", ele diz. "Em última análise, ainda temos de descobrir como confirmá-las. Será uma empreitada muito difícil, como provou o trabalho com outras galáxias candidatas já provou".

Tradução: Paulo Migliacci ME

Nature
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