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Mistura de urina humana e cinza serve como fertilizante

Mistura de urina humana e cinza serve como fertilizante natural

29 set 2009 - 08h34
(atualizado às 09h29)
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Os jardineiros que desejem cultivar com sucesso as suas plantas talvez tenham mais chance de se sair bem caso recorram à ajuda de suas lareiras e vasos sanitários. Uma nova pesquisa demonstra que uma mistura entre urina humana e cinzas geradas pela queima de madeira pode ajudar a produzir safras recorde de tomates.

A pesquisa demonstra que uma mistura entre urina humana e cinzas pode ajudar a produzir safras recorde de tomates
A pesquisa demonstra que uma mistura entre urina humana e cinzas pode ajudar a produzir safras recorde de tomates
Foto: National Geographic

De muitas maneiras, as duas substâncias servem como complemento natural uma à outra, explicou o diretor científico do estudo, Surenda Pradhan, cientista ambiental na Universidade de Kupio, na Finlândia (que também pesquisa baterias que geram energia alimentadas por urina).

A urina tem alto teor de nitrogênio, enquanto a cinza gerada pela queima de madeira tem elevado teor de nutrientes que não são encontrados na urina, a exemplo de cálcio e magnésio. A urina humana e a cinza vêm sendo usadas separadamente como fertilizantes já há séculos. Mas até agora ninguém havia estudo a possibilidade de aplicar uma combinação entre elas à tarefa.

Produtividade por meio da urina

Os cientistas fertilizaram diversos pés de tomate cultivados em estufa ¿alguns deles com uma mistura de urina humana e cinzas de bétulas, um segundo grupo com um fertilizante mineral comercial e o último com apenas urina, bem como cultivaram um grupo de tomateiros sem fertilizantes para servir como controle.

As plantas fertilizadas com a mistura de urina e cinzas de madeira geraram quase quatro vezes mais tomates que plantas não fertilizadas. O resultado comparativo é favorável com relação às plantas que foram tratadas com fertilizante comercial, as quais apresentaram rendimento cerca de cinco vezes superior ao das plantas não fertilizadas. Para surpresa da equipe, as plantas que foram fertilizadas apenas com urina se saíram melhor do que aquelas que utilizaram a mistura de cinzas e urina.

Mas os pés de tomate fertilizados com cinzas e urina geraram plantas maiores que os demais grupos, e os tomates que elas produziram apresentavam níveis significativamente mais elevados do nutriente magnésio, que é essencial para a saúde dos ossos, músculos e coração, entre outras funções bioquímicas.

Um grupo de 20 provadores de gosto testou os tomates cultivados com o uso de todos esses métodos, e não encontrou diferenças de sabor entre os diversos grupos.

Processo simples

A melhor parte desse tipo de fertilização é que "se trata de um processo muito simples", disse Pradhan. A urina pode ser recolhida por meio de vasos sanitários ecológicos, que desviam urina para receptáculos apropriados. Ou os horticultores podem simplesmente recolhê-la usando latas.

Os pesquisadores estimam que uma única pessoa poderia fornecer urina suficiente para fertilizar cerca de 6,3 mil pés de tomate ao ano, o que produziria cerca de 2,4 toneladas de tomates. O horticultor só precisava se lembrar de aplicar a cinza três ou mais dias depois da aplicação da urina. Pradhan e seus colegas estão agora tentando implementar o novo método no Nepal, o país de origem do pesquisador.

Preocupações hormonais

Um potencial revés para o método poderia ser o fato de que os produtos farmacêuticos e hormônios excretados na urina humana ¿por exemplo, resíduos de pílulas de controle da natalidade- poderiam ter efeitos adversos sobre as safras, diz Pradhan. Produtos como esse poderiam, entre outras coisas, promover a resistência a antibióticos entre bactérias locais, ou ser absorvidos pelas plantas.

"No entanto, em escala pequena e em uma única família, o resíduo de produtos farmacêuticos presente na urina é muito baixo, e isso pode ser aceitável", afirmou Pradhan. Ele também argumentou que os resíduos de hormônios e de produtos farmacêuticos estão presentes em fertilizantes que utilizam esterco animal há anos, e que estudos anteriores não consideraram que eles pudessem constituir risco para a horticultura.

As constatações do estudo foram publicadas na edição de agosto da revista Journal of Agricultural and Food Chemistry.

Tradução: Paulo Migliacci ME

National Geographic
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