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Ruído dos navios causa estresse nas orcas, diz pesquisa

Ruído dos navios causa estresse nas orcas, diz pesquisa

22 set 2009 - 11h12
(atualizado às 12h38)
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Christine Dell'Amore
Washington

As orcas erguem a voz para se fazerem ouvir por sobre o ruído das embarcações, e esses esforços podem estar causando estresse aos animais, que precisam procurar comida em uma área na qual o número de salmões está em queda, de acordo com uma nova pesquisa.

Pesquisas demonstravam que algumas orcas fazem chamados mais ruidosos de forma a se fazerem ouvir por sobre os ruídos das embarcações
Pesquisas demonstravam que algumas orcas fazem chamados mais ruidosos de forma a se fazerem ouvir por sobre os ruídos das embarcações
Foto: Getty Images

As orcas que vivem no Puget Sound, um estreito na costa do Estado de Washington, região noroeste dos Estados Unidos, geram mais sons e estalidos quando estão caçando do que em seus deslocamentos comuns, o que sugere que as conversações que elas mantêm durante o período das refeições exercem papel fundamental na coordenação de suas caçadas, de acordo com os pesquisadores.

Diversos tipos de embarcação, variando de barcos baleeiros a navios de cruzeiro, costumam percorrer as águas costeiras de Washington e da vizinha província da Colúmbia Britânica, no Canadá.

"A troca de chamados realizada entre as orcas é incrivelmente importante, e os ruídos causados pelos navios podem fazer com que essas chamadas fiquem encobertas", diz Marla Holt, a diretora da pesquisa, do Centro de Pesquisa de Pesca Northwest, em Seattle, uma divisão da Administração Nacional da Atmosfera e Oceano (NOAA).

Pesquisas anteriores conduzidas por Holt e colegas demonstravam que algumas orcas fazem chamados mais ruidosos de forma a se fazerem ouvir por sobre os ruídos das embarcações - da mesma maneira que as pessoas erguem a voz para conversar em um ambiente ruidoso como o de uma festa. Agora, os pesquisadores acreditam que essa cacofonia possa estar fazendo com que as orcas despendam mais energia durante suas caçadas, e em um período no qual sua presa preferencial, o salmão chinook, está em declínio.

A queda misteriosa no número de orcas
No Puget Sound, um pequeno grupo de orcas conhecidas como "Southern Residents" estava especialmente adaptado ao salmão como alimento, de acordo com passadas pesquisas - até mesmo os dentes das baleias tinham o tamanho adequado ao consumo de salmões.

As orcas desse grupo não comem focas ou outros mamíferos, ao contrário do que acontece com orcas que passam pela região por curtas períodos ao migrar na direção do sul.

Da metade até o final dos anos 90, a população de Southern Residents caiu misteriosamente em mais de 10%, de 97 para 88 animais. Hoje, restam 85 espécimes. Em 2005, o governo federal dos Estados Unidos incluiu o grupo na lista de espécies ameaçadas, sob os termos da Lei de Espécies em Risco dos Estados Unidos.

Ninguém sabe ao certo o motivo da queda na população, mas a probabilidade é de que tenha sido causada por uma redução na disponibilidade de salmões, exposição a agentes tóxicos de contaminação, e pelos efeitos dos ruídos de embarcações, de acordo com Lynne Barre, do escritório regional noroeste do Serviço Nacional de Fauna Marinha, que também é parte da NOAA.

A organização de Barre divulgou um plano de recuperação para os mamíferos em risco, no começo de 2008, com o objetivo de elevar a população da área em cerca de 2% nos próximos 28 anos. Parte desse plano envolve monitorar o efeito do tráfego de embarcações sobre as orcas.

Contatos sociais
As orcas são animais sociais que vivem em baleais formados por entre 20 e 40 indivíduos, e elas dependem de chamados conhecidos como "insígnias de grupo", únicos para cada baleal, de acordo com Barre.

Desde 2007, Holt e outros pesquisadores vêm utilizando hidrofones subaquáticos para registrar o ruído de embarcações na altura das ilhas San Juan. A equipe realiza suas gravações a cerca de mil metros de distância de um grupo de baleias, e depois acompanha o comportamento dos animais ao se alimentarem, deslocarem, repousarem ou manterem contato social, a intervalos de 10 minutos.

Holt, que apresentará os resultados preliminares do trabalho do grupo na Conferência Bienal de Biologia Marinha de Quebec, disse que os trabalhos conduzidos indicam que a comunicação entre as orcas é especialmente importante no decorrer das caçadas.

Além disso, estudos anteriores com pássaros sugeriram que os animais consomem mais oxigênio ao elevar as vozes acima do ruído ambiente, o que causa picos metabólicos que causam queima de energia armazenada, diz Holt.

É possível que fenômeno semelhante esteja ocorrendo com as orcas, ainda que seja cedo demais para ter certeza, ela acrescenta.

Mantenha distância
O trabalho de Holt expande dados já existentes que haviam convencido a NOAA a propor uma nova lei de proteção às orcas, que forçaria as embarcações a se manterem a pelo menos 200 metros de distância dos animais desse tipo nas águas do Estado de Washington.

As leis existentes permitem que embarcações se aproximem a até 100 metros, e algumas pesquisas demonstraram que isso influencia o comportamento das baleias. "Muita gente não entende qual é a utilidade de regulamentar como os barcos navegam", diz Holt. "Mas isso é uma providência que podemos tomar de imediato".

No entanto, Ken Balcomb, diretor do Centro de Pesquisa da Baleia, em Friday Harbor, classifica a lei proposta como "um paliativo para que as pessoas se sintam bem".

Balcomb, que estuda o comportamento das baleias nas águas das ilhas San Juan, diz que "minhas observações ao longo de 35 anos indicam que as baleias não se deixam perturbar por coisa alguma, muito menos navios".

Sem salmão, sem baleias
A principal preocupação, ele diz, é o declínio dos salmões chinook, especialmente no rio Fraser, Canadá. A população de salmões nas águas desse rio caiu desastrosamente nos últimos anos. As represas em rios da região noroeste norte-americana, bem como condomínios residenciais construídos em estuários nos quais os jovens salmões se refugiam, devastaram as populações de um peixe que sempre foi muito abundante.

Os pesquisadores já constataram que os anos em que o número de salmões é baixo e menos deles chegam ao Puget Sound também se tornam anos ruins para as baleias. Se lhes for negada comida, não faz muito sentido nos preocuparmos com outros fatores", disse Balcomb.

Barre, da NOAA, lembra que o plano federal de recuperação das baleias também apoia esforços para reanimar as colônias de salmões em rios que desaguam no Puget Oceano.

Os conservacionistas da região, por exemplo, vêm trabalhando para remover represas e ampliar a população de salmões, uma estratégia que se provou eficaz com os salmões da costa leste dos Estados Unidos.

Mas caso os peixes não retornem, as Southern Residents podem terminar abandonando o Puget Sound - uma perspectiva triste para Balcomb. "Gostamos de vê-las aqui", diz. "Simbolizam a saúde de nosso ecossistema".

National Geographic
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