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Cientistas desvendam história genética dos africanos

12 mai 2009 - 16h35
(atualizado às 17h22)
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Ker Than

Uma ampla análise de DNA dos africanos revelou um quadro detalhado sobre a rica diversidade genética da África, bem como traços de sua história evolutiva e das migrações dos diferentes grupos. O trabalho pode ajudar cientistas a identificar as populações mais diversificadas, para novos estudos, e melhorar suas chances de localizar variações genéticas associadas a doenças.

Os africanos se originaram de 14 grupos ancestrais
Os africanos se originaram de 14 grupos ancestrais
Foto: Nature

Executado por uma equipe internacional de cientistas ao longo de quase uma década, o estudo sugere que os africanos se tenham originado de 14 grupos ancestrais que se misturaram livremente para resultar nas populações hoje existentes. Os pesquisadores também constataram que os negros dos Estados Unidos tendem a ter ancestrais do oeste da África, como seria de esperar tendo em vista a história do comércio de escravos.

Os pesquisadores baseiam seus resultados em amostras de DNA de mais de 100 negros norte-americanos e de 2,4 mil africanos de todo o continente."O escopo dos dados é realmente extraordinário", diz Molly Przeworski, geneticista populacional da Universidade de Chicago, em Illinois, que não participou do trabalho. "Não sabíamos tanto quanto deveríamos sobre a genética populacional africana, e agora demos um passo importante nesse sentido".

Genes e idiomas
Os seres humanos modernos evoluíram inicialmente na África cerca de 200 mil anos atrás, antes de migrar para outras partes do mundo. Hoje, a África apresenta mais de dois mil grupos étnicos e idiomáticos diferentes. Mas os estudos genéticos sobre os africanos estavam limitados a pequenos números ou a áreas restritas do genoma. Ainda que os geneticistas soubessem que os africanos demonstram mais diversidade genética dentro de seus grupos do que é comum entre não africanos, os detalhes das variações internas do genoma em muitas populações eram incertos.

Uma equipe comandada pela geneticista Sarah Tishkoff, da Universidade da Pensilvânia em Filadélfia, agora publicou um estudo que inclui amostras de DNA de 2.432 africanos, de 113 populações, entre as quais grupos na Nigéria, Camarões, Tanzânia, Quênia e Sudão, e mais amostras não asiáticas do Iêmen. Eles observaram as diferenças em 1.327 pontos do genoma e combinaram os resultados a dados genéticos existes sobre oito grupos africanos e 59 não africanos. Depois, conduziram análises estatísticas para combinar os indivíduos por semelhança genética e determinar seus antecedentes.

Os resultados confirmam que os africanos têm a maior diversidade dentro de uma mesma população, e sugere que se tenham originado de 14 grupos de ancestrais. A maioria das populações africanas parece mostrar traços genéticos de múltiplos grupos, o que sustenta indícios linguísticos e arqueológicos encontrados sobre migrações continentais que teriam resultado nessas misturas.

A análise também sugere que os nômades de diferentes regiões e culturas podem ser descendentes de uma mesma população ancestral. As pistas genéticas em geral são compatíveis com os dados de etnia e idioma, se bem existam exceções em casos de grupos que perderam ou substituíram seus idiomas. A revista Science publicou o estudo.

Mapa da diversidade
Embora os resultados gerais não surpreendam, o estudo oferece visão detalhada da variação genética em grande número de populações africanas, diz Noah Rosenberg, geneticista da Universidade do Michigan em Ann Arbor, que pretende colaborar com Tishkoff. "Eles demonstram a grande diversidade que existe na África", diz.

A equipe também estudou o DNA de quatro populações de negros norte-americanos e descobriu entre 69% e 74% de antecedentes identificados com uma família linguística do oeste da África. A maioria dos indivíduos provavelmente apresenta antecedentes combinados de diversos grupos oeste-africanos, sugere a análise. Porque as diferenças são sutis, a equipe diz que sem mais dados genéticos pode ser difícil identificar as tribos específicas de origem dos norte-americanos negros.

David Reich, geneticista da escola de medicina da Universidade Harvard, em Boston, Massachusetts, diz que a pesquisa poderia ajudar cientistas a determinar que grupos africanos deveriam ser estudados mais a fundo posteriormente, a fim de capturar um panorama preciso sobre a profunda diversidade do continente.

"O estudo servirá como um mapa para viagens", disse Reich, que colaborou com Tishkoff. Ao tomar por objeto de estudo os grupos africanos mais divergentes, ele diz, os cientistas podem identificar um maior número de variantes genéticas conectadas a doenças.

Nature
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