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Fóssil indica que nível do mar pode subir rapidamente

5 mai 2009 - 15h43
(atualizado às 15h49)
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Andrew C. Revkin

Evidências encontradas em fósseis de recifes de corais no México ressaltam a possibilidade de uma rápida elevação do nível do mar devido ao aquecimento global, reportam cientistas em um novo estudo.

O estudo, publicado no periódico Nature, sugere que uma rápida elevação de 2 a 3 metros ocorreu num período de 50 a 100 anos há cerca de 121 mil anos, no final do último intervalo quente entre eras glaciais.

"A possibilidade de uma rápida e constante perda de gelo e uma catastrófica elevação do nível do mar num futuro próximo está confirmada por nossa descoberta sobre a instabilidade do nível" naquele período, escreveram os pesquisadores.

No entanto, outros especialistas em coral e clima criticam o trabalho, afirmando que as grandes questões sobre os perigos no litoral em um mundo em aquecimento permanecem sem resposta.

Uma das questões mais graves e persistentes envolvendo o aquecimento global provocado pelo homem é quanto os mares podem subir e com qual rapidez.

Estudos sobre mudanças climática do passado, particularmente do aquecimento que terminava eras glaciais, mostram que a erosão rápida de lençóis de gelo pode ter sido a causa do aumento de vários metros dos níveis dos mares no mundo ao longo de um século.

Uma questão que desafia os cientistas é se tal aumento pode ocorrer no momento atual, em que o mundo tem menos gelo polar, já é quente e está ficando mais quente. Citando a evidência dos fósseis de recifes de coral, os autores do novo estudo afirmam com convicção que a resposta é sim. O estudo foca em um conjunto de vestígios de fósseis de recife expostos na escavação de canais de um parque aquático, o Xcaret, a cerca de 60 quilômetros de Cancun, na costa leste da península de Yucatan, México.

Paul Blanchon, o principal autor do estudo, disse que procurou uma cadeira como geocientista na Universidade Nacional Autônoma do México, em Cancun, para se dedicar aos raros fósseis, visíveis por centenas de metros onde canais foram abertos no solo rochoso.

"Passei os últimos quatro anos vasculhando aquelas amostragens e remontando a história daqueles recifes peça por peça, como um quebra-cabeça", disse em entrevista por telefone.

Com outros três pesquisadores da Alemanha, Blanchon calculou a idade das amostras de coral pela medição de isótopos de tório nos fósseis e então confirmou a informação comparando os recifes mexicanos a recifes de coral nas Bahamas, cujas idades foram rigorosamente estudadas.

A equipe descobriu que dois recifes mexicanos cresceram durante a última fase "interglacial", o intervalo quente entre eras glaciais.

Para determinar o ritmo do aumento do nível do mar nesse período, Blanchon classificou os padrões encontrados nos corais durante as escavações do resort aquático. Ele disse que seu trabalho revelou o momento em que um recife morreu com o aumento acelerado do nível do mar - a velocidade impossibilitou que os organismos de coral construíssem sua fundação até a superfície aquática. Após o nível do mar se estabilizar, o mesmo grupo de corais cresceu novamente, mas recuado para o continente e até 3 metros mais alto, um processo conhecido pelos geólogos como "backstepping".

Tal mudança abrupta - um coral que crescia de forma estável que depois morre e subitamente reaparece mais alto e recuado - só poderia acontecer por causa de uma brusca mudança no nível do mar, ele disse.

Mas em entrevistas e e-mails, três pesquisadores especializados em coral e clima disseram que, embora um elevação rápida nos mares naquela era não possa ser descartada, o artigo não prova sua teoria.

Daniel R. Muhs, cientista da agência americana de pesquisa geológica e que procura no litoral por pistas sobre o nível do mar no passado, mencionou uma falta de datação precisa das duas seções do recife. William Thompson, especialista em coral do Instituto Oceanográfico Woods Hole, concorda, dizendo que pela importância da conclusão, Blanchon interpretou características físicas sem evidência suficiente que corroborassem sua teoria.

Mas Blanchon sustenta que o trabalho é consistente, afirmando que os sinais de mudanças abruptas estão gravados na pedra para quem quiser olhar.

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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