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Explosão de estrela causou extinção em massa na Terra

20 abr 2009 - 11h10
(atualizado em 24/4/2009 às 20h05)
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Anne Minard

Uma brilhante detonação de raios gama pode ter causado um evento de extinção em massa na Terra 440 milhões de anos atrás - e catástrofe celestial semelhante poderia acontecer de novo, de acordo com um novo estudo.

A maior parte das detonações de raios gama são feixes de energia de alta radiação produzidos pelo colapso de estrelas maciças
A maior parte das detonações de raios gama são feixes de energia de alta radiação produzidos pelo colapso de estrelas maciças
Foto: National Geographic

A maior parte das detonações de raios gama, de acordo com os cientistas, são feixes de energia de alta radiação produzidos quando acontece o colapso de uma imensa quantidade de de massa, como a explosão de uma estrela maciça.|

O estudo apresenta um novo modelo de computador segundo o qual um feixe de raios gama dirigido à Terra, desde uma distância de até 6,5 mil anos-luz, poderia ter causado desgaste na camada de ozônio, provocando chuva ácida e iniciando um período de resfriamento global.

Um desastre como esse poderia ter sido responsável pela extinção em massa de até 70% das criaturas marinhas que viviam durante o Período Ordoviciano (de 488 milhões a 443 milhões de anos atrás), sugere o diretor científico do estudo, o astrofísico Brian Thomas, da Universidade Washburn, no Kansas.

A simulação também demonstra que mais ou menos uma vez a cada bilhão de anos uma detonação de raios gama de escala significativa pode acontecer ao alcance da Terra, ainda que os feixes de radiação precisariam estar alinhados de uma maneira muito específica para que atingissem o planeta. No momento, a WR104, uma estrela maciça a oito mil anos-luz de distância, na constelação de Sagitário, está em posição que a torna potencialmente ameaçadora, disse Thomas.

Mas o estudo, que foi submetido ao Jornal Internacional de Astrobiologia, não está necessariamente causando pânico entre os demais astrofísicos.

"Certamente não há nada de errado em estudar o que uma detonação de raios gama poderia causar, se acontecesse perto o bastante de nós, como fez o autor deste trabalho. É assim que a ciência funciona", disse David Thompson, astrofísico da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa) e vice-diretor de projeto no Telescópio Espacial Fermi, que opera na banda dos raios gama.

Mas Thompson compara o risco de uma futura detonação de raios gama para a Terra com "o perigo que eu correria de encontrar um urso polar dentro do meu armário em Bowie, Maryland". "Não é não possa acontecer, mas é tão improvável que não vale muito a pena se preocupar com isso", acrescentou.

Danos persistentes

Adrian Melott, antigo orientador do autor do estudo, foi o primeiro a propor, em 2004, que uma detonação de raios gama perto da Terra teria eliminado a vida no Período Ordoviciano. Desde então, os dois pesquisadores vêm trabalhando com aspectos diferentes desse enigma.

De acordo com seus mais recentes modelos, a radiação gama de uma detonação próxima extirparia rapidamente a maior parte da camada de ozônio que protege a Terra, permitindo que mais radiação ultravioleta do sol atingisse a superfície do planeta.

Em prazo mais longo, as reações químicas na atmosfera produziriam gases escuros, com base em nitrogênio, que bloqueariam o calor do sol e deflagrariam o aquecimento global, enquanto os raios gama continuariam a desbastar a camada de ozônio e permitir maior entrada de raios ultravioleta, sugerem os autores.

Parte dessa poluição se precipitaria sobre a superfície na forma de uma devastadora chuva ácida, capaz de causar severas perturbações a ecossistemas.

A atmosfera conseguiria se recuperar em uma década, e uma alta nos danos ao ADN causados pela exposição ampliada à radiação ultravioleta poderia desaparecer dentro de alguns meses ou anos, apontam os pesquisadores.Mas os demais impactos biológicos ¿a exemplo da produtividade reduzida dos oceanos- poderiam persistir por período desconhecido, disse Thomas.

O problema com os trilobitas

Bruce Lieberman, paleontologista da Universidade do Kansas, ajudou a desenvolver a teoria inicial sobre a extinção no ordoviciano, mas não é co-autor dos trabalhos mais recentes.

A idéia prevalecente é a de que uma era glacial causou o evento de extinção, ele diz, mas questiona que essa hipótese explique todos os acontecimentos. "Houve outros momentos nos quais aconteceram eras glaciais sem extinções em massa", ele diz.

Além disso, a era glacial do ordoviciano foi comparativamente curta, durando apenas 500 mil anos antes que o clima retornasse a um ciclo quente - quase como se algo de incomum tivesse deflagrado o frio.

Até agora, Thomas e Melott conseguiram descobrir um padrão de radiação ultravioleta mais elevada durante a extinção do ordoviciano que poderia se equiparar a um bombardeio cósmico por sobre o Polo Sul. E Lieberman acredita que o desaparecimento dos trilobitas, artrópodes extintos aparentados aos caranguejos, possa estar vinculado ao evento do ordoviciano.

Ainda que a maioria dos trilobitas vivesse no lodo do fundo do oceano, os jovens de algumas de suas espécies tinham um estágio de vida que os levava a flutuar em águas rasas, o que os tornaria vulneráveis à radiação ultravioleta.

Mas como Thompson, da Nasa, Lieberman acrescenta que a preocupação quanto a uma futura detonação de raios gama "não é algo que me faça perder o sono".

Em lugar disso, ele aprecia o novo trabalho por apontar que a Terra é uma parte vulnerável do cosmos. "Isso nos oferece uma nova perspectiva sobre coisas como a seleção natural e a adaptação", diz.

Tradução: Paulo Migliacci ME

National Geographic
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