PUBLICIDADE

Colisão espacial transformou planetas em poeira

3 out 2008 - 10h40
(atualizado em 16/1/2009 às 17h41)
Compartilhar

Uma nuvem de poeira que cerca uma estrela que está a uma distância de aproximadamente 300 anos-luz da Terra pode representar os únicos restos perceptíveis de uma colisão de dois planetas rochosos, de acordo com pesquisadores.

» Imagem mostra violenta colisão entre planetas
» Descobertos 3 planetas maiores que a Terra
» Via Láctea pode ter muitos planetas propícios à vida

Os planetas podem ter apresentado tamanho, idade e distância com relação ao seu sol semelhantes aos da Terra. Os dois corpos celestes orbitavam em torno de uma estrela dita binária, ou seja, um par de sóis sincronizados em uma rotação muito próxima, conhecida como BD +20 307.

Até agora, nenhuma outra estrela binária a distância tão curta de nosso planeta havia apresentado quaisquer indícios de possuir planetas.

Usando telescópios ópticos e de raios-X a fim de estimar o volume e a temperatura da nuvem de poeira que cerca a estrela BD +20 307, pesquisadores concluíram que ela deve ter sido gerada pela colisão violenta de dois corpos celestes de dimensões planetárias. Planetas como esses teriam sido locais extremamente favoráveis para a possível evolução de vida extraterrestre, afirmam os especialistas.

"Eles eram certamente antigos o suficiente para que biologia completa tivesse se desenvolvido em ambos", disse Benjamin Zuckerman, astrônomo da Universidade da Califórnia em Los Angeles e diretor científico do estudo. Habitados ou não, os dois planetas teriam sido obliterados quando da colisão espacial. A nuvem de poeira resultante do choque se dispersará dentro de alguns milhares de anos, e não restará qualquer traço duradouro de nenhum dos planetas, disse Zuckerman.

O estudo, disponível no momento pelo arquivo acadêmico online da Universidade Cornell, em www.arXiv.org, será publicado em dezembro pela revista Astrophysical Journal.

Do pó ao pó

Nosso sistema solar também contém volume significativo de poeira, produzida pelas colisões entre asteróides e arrastadados para o interior do sistema por cometas em suas viagens espaciais. Em um estudo realizado em 2005, Zuckerman e seus colegas estimaram que o sistema solar da estrela BD +20 307 contivesse um milhão de vezes mais poeira que o Sistema Solar.

"Naquela altura, nós acreditávamos que o sistema BD +20 307 contasse com uma estrela única, e que tivesse idade de apenas algumas centenas de milhões de anos", disse Zuckerman. Por isso, os pesquisadores interpretaram a maciça nuvem de poeira avistada no sistema como indicador de que ele estava atravessando os estágios iniciais do processo de formação de planetas.

Mas a interpretação quanto aos dados observados mudou no começo desde ano, quando Alycia Weinberger, astrônoma da Carnegie Institution, de Washington, descobriu que o sistema BD +20 307 na verdade conta com duas estrelas em uma. O par de estrelas de tamanho semelhante ao do nosso Sol traça órbitas mútuas em distância muito mais curta do que a que separa o planeta Mercúrio, o primeiro de nosso sistema, do Sol.

Dados subseqüentes sobre a concentração de metal e de lítio na nuvem de poeira, obtidos por Zuckerman e seus colegas em observações, sugerem que o sistema BD +20 307 pode ter alguns bilhões de anos de idade. Em contraste, a nuvem de poeira só poderia persistir por um máximo de algumas dezenas de milhares de anos, e por isso deve ter origem bastante recente, na opinião dos autores do estudo.

Scott Kenyon, astrônomo da Universidade Harvard que não participou do estudo, concorda em que, dada a idade recentemente estimada para a estrela, "parece bastante improvável que a poeira observada no sistema seja parte de um processo formação de planetas". Kenyon afirma que embora o volume de poeira localizado não sirva como prova definitiva de que um impacto planetário ocorreu, sugere que "uma colisão muito incomum" tenha acontecido.

"Trata-se de uma nuvem poeira muito maior do que aquela que teria sido produzida pela colisão entre dois asteróides de porte modesto", ele declarou.

Órbitas perturbadas

Na imensidão do espaço, a probabilidade de uma colisão entre dois planetas maduros que percorram órbitas bem estabelecidas parecem bastante remotas. Mas mesmo em nosso sistema solar, as órbitas planetárias podem se ver sujeitas a influências externas.

"Existe uma probabilidade razoável de que a órbita de Mercúrio não seja completamente estável", disse Zuckerman. "É possível que, devido a perturbações gravitacionais em outros planetas ao longo de um período de tempo prolongado, Mercúrio venha a ser desviado de sua órbita atual... Caso isso aconteça, existe a possibilidade de um choque com outro planeta".

"Nosso palpite, no momento, é o de que algo semelhante pode ter acontecido com o sistema BD +20 307", ele afirmou.

Uma pequena alteração na dança giratória que os dois sóis do sistema realizam em estreita parceria poderia ter retirado um dos planetas do percurso orbital que este pode ter percorrido por um bilhão de anos ou mais. Outra causa poderia ser uma estrela-anã não identificada, que seria uma espécie de companheira das duas estrelas centrais e seguiria uma longa órbita em torno delas, escreveram os autores do estudo.

"Essa seria uma maneira óbvia de desestabilizar as órbitas dos planetas do sistema", disse Zuckerman. "Caso exista uma terceira estrela vagueando pelo sistema em algum lugar, a probabilidade se torna muito grande".

Tradução: Paulo Migliacci

National Geographic
Compartilhar
Publicidade