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Mudanças climáticas podem acordar vulcões

24 set 2009 - 12h21
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Katharine Sanderson
Londres

Os geólogos estão desesperadamente tentando recolher dados que permitam compreender de que maneira o aquecimento global pode influenciar as atividades geológicas violentas. À medida que o nível cada vez mais elevado de dióxido de carbono causa aquecimento do planeta, os problemas associados ao derretimento das camadas de gelo não se limitarão a elevar o nível do mar, mas também poderão remover as camadas de bloqueio de vulcões. Mas determinar exatamente quando esses instáveis monstros de magma sofrerão erupções, em um mundo mais quente, é algo difícil de prever.

Vista do Monte Redoubt, no Alaska
Vista do Monte Redoubt, no Alaska
Foto: National Geographic

"O fato é que estamos causando hoje as mudanças do clima do futuro. Os riscos geológicos são mais uma área de atividade sobre a qual ainda não refletimos", diz Bill McGuire, da Centro de Pesquisa de Riscos Aon Benfield UCL, do University College de Londres. Ele organizou um encontro de vulcanologistas e oceanógrafos em sua universidade, nos dias 15 a 17 de setembro, para atrair atenção ao problema.

Em gelo fino
Uma prioridade é desenvolver modelos mundiais de como as mudanças no clima podem causar mudanças na atividade geológica, e sobre o modo pelo qual esses processos podem retroalimentar o sistema. No momento, não existem modelos desse tipo, de acordo com David Pyle, especialista em vulcões da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e um dos palestrantes no encontro organizado por McGuire.

O problema é complexo, exacerbado pela dificuldade de separar situações causadas pelo clima dos efeitos de uma erupção vulcânica - os aerossois emitidos por uma erupção terão consequências para a química da atmosfera, e isso por sua vez afeta o clima. "As complexas consequências das atividades vulcânicas para a biosfera atmosférica continuam a ser compreendidas de maneira imprecisa", afirma Pyle.

Mas existem certamente alguns indícios de que menos gelo significa mais erupções dramáticas. "À medida que o gelo espesso se torna mais fino, pode surgir uma alta na explosividade das erupções", afirma Hugh Tuffen, da Universidade de Lancaster, Inglaterra.

Tuffen já fez viagens de pesquisa a diversos países, entre os quais Islândia e Chile, para estudar vulcões. Os efeitos das mudanças climáticas ao longo dos próximos 100 anos serão diferentes para diferentes vulcões, ele afirma, e muito mais dados serão necessários se desejamos compreender quais podem ser esses efeitos. Mas recolher esses dados não é uma tarefa trivial. Vulcões são lugares isolados e perigosos para viagens de pesquisa.

Deficiências nos dados
Por exemplo, na Islândia, ao final do ultimo período de deglaciação, cerca de 11 mil anos atrás, houve um grande surto de atividade vulcânica que, hoje, é vista como relacionada à presença de águas geradas pelo derretimento da camada de gelo e que vieram a inundar a área.

Nos vulcões islandeses, o gelo serve como uma tampa protetora que, quando removida, faz com que o magma que existe abaixo da superfície se descomprima muito mais rápido do que já estaria ocorrendo devido ao movimento geológico normal. O estado firme que em geral existe se perde, e isso torna as erupções mais rápidas e mais explosivas. Não existe muita demora entre a mudança no clima e as erupções vulcânicas, nesses casos, diz Tuffen.

Mas os vulcões dos Andes são diferentes. Contam com câmaras de magma abaixo deles. Quando o gelo derrete, a camada protetora igualmente se perde. Isso também pareceu causar elevação na atividade vulcânica, em episódios passados, mas porque as câmaras de magma ficam a até cinco quilômetros de profundidade, é incerto com que velocidade o vulcanismo se intensificou depois do degelo, diz Sebastian Watt, colega de Pyle em Oxford.

Watt recolheu dados sobre mais de 32 centros vulcânicos no Chile para tentar determinar uma tendência mais geral para a aceleração da atividade vulcânica. Ele usou datação por radiocarbono para determinar a idade de diversas amostras de rocha, e com base nisso mapeou onde e quando os vulcões da cordilheira sul-americana entraram em erupção nos últimos 18 mil anos. Infelizmente, uma frente fria geológica destruiu boa parte dessas provas. "A datação é um problema; há uma falta de dados de radiocarbono", diz Watt.

Ameaça incerta
Tuffen alerta que pode haver vidas em risco. No Chile, em Nevados de Chillán, uma área que parece particularmente suscetível a mudanças climáticas, os geólogos locais se irritaram, ele diz quando uma estação de esqui foi construída perto de um vulcão.

Tony Song, do Laboratório de Propulsão a Jato, uma divisão da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), em Pasadena, Califórnia, modelou um cenário hipotético no qual o derretimento poderia deflagrar um grande deslizamento de terra subterrâneo, causando um enorme tsunami glacial.

"Porque o gelo se derrete mais rápido que o imaginado, seria preciso considerar mais esse tipo de situação", afirma Song. "Não sabemos ainda, de fato, qual será a ameaça nos próximos 100 anos", diz Tuffen. "Não acredito que devamos criar pânico injustificado, mas decerto devemos pensar em como atenuar riscos".

McGuire concorda. "O Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) não considerou essa espécie de risco", ele diz. "Você tem uma chance melhor de enfrentar qualquer forma de risco caso saiba o que está acontecendo", acrescenta. "A mudança climática não envolve apenas a atmosfera e a hidrosfera, mas também a geosfera".

Tradução: Paulo Migliacci ME

National Geographic
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