Lawrence K. Altman
Estados Unidos
Ainda que milhares de bebês tenham sido infectados nos Estados Unidos ao longo dos 15 últimos anos, alimentos pré-mastigados foram identificados como fonte em apenas três casos, disseram epidemiologistas na quarta-feira.
Mas essa forma de transmissão talvez não seja tão rara, disse a equipe do médico Kenneth Dominguez no Centro de Controle e Prevenção de Doenças, uma organização federal, na 15ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, em Boston.
A pré-mastigação de alimentos aparentemente é freqüente nos Estados Unidos e em outros países. Assim, a transmissão do HIV, o vírus da aids, a infantes pode ser um problema não identificado nos países em desenvolvimento, onde existe deficiência em tratamentos dentários, escassez de comida industrializada para bebês e baixa disponibilidade de liquidificadores, e os pais e responsáveis por bebês talvez precisem amaciar os alimentos, afirmou Dominguez em entrevista.
A equipe dele afirmou que existem diversos motivos para que os três casos, que remontam em 1993, tenham sido reportados pela primeira vez. Um era conscientizar os responsáveis pelas saúde e pelos cuidados de crianças infectadas quanto ao possível risco da pré-mastigação. Outro era solicitar aos médicos e familiares que reportassem casos do gênero às autoridades de saúde, de maneira a permitir uma avaliação das dimensões da ameaça.
O vírus da imunodeficiência humana está presente na saliva, mas usualmente em volume pequeno demais para causar transmissão. Assim, presumivelmente, o sangue, que contém maior volume do vírus, também é necessário para a transmissão. As pessoas infectadas que tenham feridas abertas ou inflamações na boca podem transmitir o vírus a bebês em função de cortes ou outros problemas dentários, disse Dominguez.
Ainda que os três casos envolvessem bebês negros nascidos nos Estados Unidos, pré-mastigação é uma prática comum entre muitos grupos étnicos e raciais, de acordo com recente pesquisa sobre os hábitos de alimentação de bebês conduzida pelo Centro, disse Dominguez.
"É provável que certas influências culturais estejam envolvidas, e estou certo de que as pessoas estão simplesmente a prática de gerações passadas", ele afirmou.
Epidemiologistas da organização, trabalhando com pesquisadores do Hospital Infantil de Pesquisa St. Jude's, em Memphis, e com a Universidade de Miami investigaram os três casos de maneira intensiva e descartaram outras possíveis formas de transmissão, como amamentação, abuso sexual ou agulhas contaminadas.
Os dois primeiros casos envolviam menos de Miami infectados nos anos 90. Em um caso, a infecção foi detectada aos 39 meses de vida do bebê, pouco de sua morte. Ele havia sido testado duas vezes e o vírus não havia sido encontrado, anteriormente. Sua mãe, que era portadora, informou ter pré-mastigado comida para o bebê.
Estudos genéticos demonstraram que os vírus isolados no primeiro e no terceiro dos casos documentados de contaminação eram provenientes das mães. A tia que pré-mastigava os alimentos do bebê do segundo caso morreu antes que amostras de sangue pudessem ser obtidas.
Os pesquisadores tentarão determinar se outros micróbios perigosos como o vírus da hepatite B e o Helicobater pylori podem ser transmitidos via alimentos pré-mastigados.
Tradução: Paulo Migliacci ME