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Implantes de silicone aumentam risco de câncer de mama

2 abr 2015 - 05h11
(atualizado às 05h11)
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Depois do câncer, o risco de câncer: a relação entre mamoplastias e um tipo raro de linfoma está comprovada. Pesquisadores procuram causas e alternativas. Pacientes de cirurgias para aumento do busto também correm risco.

Marlies Dingel tinha 42 anos quando seu médico aconselhou uma mastectomia. Embora os exames não tivessem constatado câncer da mama, as amostras apresentavam modificações celulares que poderiam resultar em tumores malignos. Marlies decidiu-se rápido: seu seio foi removido.

"A questão muito mais difícil para mim foi: 'Quero um implante, um seio artificial?' Na época, 1992, se discutiam muito os perigos do silicone usado nos implantes. Fiquei muito insegura", conta Marlies.

Por recomendação do médico, ela acabou optando mesmo por uma prótese de silicone. "Isso tornou mais fácil a adaptação. Quando eu olhava no espelho, ainda tinha dois seios." Entretanto, dois anos atrás, sua prótese de silicone foi retirada, de forma preventiva.

A palavra dos cirurgiões

Hoje em dia a decisão contra ou a favor de um implante de mama se tornou ainda mais difícil, pois está confirmado que o silicone pode provocar câncer. A ministra francesa da Saúde, Marisol Touraine, relata que, desde 2011, 18 mulheres em seu país apresentaram o tumor linfático ALCL, extremamente raro. Todas elas portavam implantes de mama. O jornal Le Parisien registra um total de 173 casos no mundo.

O Ministério da Saúde da França estuda no momento se as próteses devem ser genericamente proibidas. "Eu considero besteira uma proibição dos implantes de silicone", diz Ernst Magnus Noah, presidente da Associação Alemã dos Cirurgiões Plásticos. Apesar de tudo, a probabilidade de desenvolver o linfoma ALCL é muito reduzida, alega, e as ligações causais ainda não foram suficientemente pesquisadas.

Lukas Kenner, professor do Instituto Ludwig Boltzmann de Pesquisa do Câncer, igualmente desaconselha que se faça pânico. Em 2014, ele publicou um estudo sobre as conexões entre o ALCL e implantes de mama.

"Nossa pesquisa mostra que há uma correlação inequívoca entre os implantes e esse tipo de câncer", confirma Kenner , também professor do Instituto de Patologia da Universidade de Viena. "Estatisticamente, porém, apenas uma portadora de implante entre 500 mil a 3 milhões desenvolve o ALCL."

Os sintomas do linfoma são pouco específicos: em geral, se uma paciente de mamoplastia constata um inchaço fora do comum no seio, deve procurar o médico imediatamente. "As chances de cura desse tipo de câncer são bem elevadas, se ele for diagnosticado precocemente", assegura Kenner.

Número crescente de mamoplastias

Nos últimos anos, os implantes de mama têm se tornado cada vez mais difundidos. No Brasil, que no ano passado se tornou líder mundial em cirurgias plásticas, ultrapassando os EUA, cerca de 140 mil mulheres se submetem anualmente à intervenção para realçar o busto.

Mas também tem se elevado o número de reconstruções das mamas, após uma mastectomia relacionada ao câncer. Segundo o relatório Plastic Surgery Report, entre 2000 e 2013 a frequência desse tipo de intervenção cresceu 21% nos EUA.

Até o momento não está claro o porquê da correlação entre o desenvolvimento do tumor linfático ALCL e os implantes de mama. Neste caso, não há um culpado identificável – ao contrário do escândalo de 2011 com os implantes da firma francesa PIP, que usava silicone industrial barato em suas próteses, aumentando consideravelmente os riscos de saúde.

Texturizadas, lisas ou de tecido próprio

Dada a inexistência de estudos no campo da pesquisa de causas, Lukas Kenner e sua equipe vêm trabalhando intensamente para desenvolver diversas baterias de testes. Para o cirurgião Ernst Noah, porém, chama a atenção o fato de o ALCL se apresentar sobretudo entre as portadoras de implantes texturizados, que possuem uma superfície áspera, ao contrário dos implantes de solução salina, que são lisos.

"Há uma teoria segundo a qual depois da operação se formaria uma película de bactérias em torno da prótese, o assim chamado biofilme. Certas bactérias poderiam, então, desencadear uma reação imunológica, levando, por sua vez, à formação de células atípicas, ou seja, cancerosas."

"Conhecemos esse mesmo fenômeno com as bactérias Helicobacter, que provocam linfomas no estômago", prossegue o presidente da Associação Alemã dos Cirurgiões Plásticos. A superfície áspera das próteses texturizadas favoreceria a fixação das bactérias formadoras do biofilme. Caso essa teoria se confirme, o simples uso de antibióticos antes e depois da intervenção reduziria o risco de desenvolvimento do ALCL.

Como alternativa às próteses de silicone, nos últimos anos vem-se praticando com frequência cada vez maior a reconstrução de seios usando tecido da própria paciente. O método é considerado o mais natural para se recuperar a integridade da imagem física após uma mastectomia. Tecido do ventre ou das costas é enxertado nos seios, ou são aplicadas lipoinjeções, evitando-se a introdução de corpos estranhos no organismo.

Porém, o cirurgião Ernst Magnus Noah também não vê nessa solução uma panaceia universal. "É necessária uma intervenção muito grande, com operações que duram até dez horas. Depois do diagnóstico de câncer e da mastectomia, muitas mulheres estão tão debilitadas que não querem se submeter a isso." Em comparação, a aplicação de uma prótese de silicone só exige cerca de uma hora e meia.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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